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Hamas entrega dois corpos de reféns e diz que são os últimos que consegue recuperar sem equipamentos

Declaração ocorre após Israel anunciar que manteria fechada a passagem de Rafah, entre a Faixa de Gaza e o Egito, e reduziria o envio de ajuda humanitária ao enclave até o grupo Hamas devolver todos os corpos

Displaced people transport their belongings on a donkey cart, past bulldozers deployed by the Gaza Municipality on their way to clear building rubble from main axes and streets in Gaza City, amid a ceasefire between Israel and Palestinian factions, on October 14, 2025. (Photo by AFP) (AFP/AFP)

Displaced people transport their belongings on a donkey cart, past bulldozers deployed by the Gaza Municipality on their way to clear building rubble from main axes and streets in Gaza City, amid a ceasefire between Israel and Palestinian factions, on October 14, 2025. (Photo by AFP) (AFP/AFP)

Agência o Globo
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Publicado em 15 de outubro de 2025 às 17h26.

O Hamas afirmou nesta quarta-feira que, após entregar mais dois corpos de reféns nesta quarta-feira, devolveu todos os restos mortais que conseguiu localizar. Segundo o grupo extremista, para rastrear os corpos restantes e retirá-los dos escombros, "serão necessários um grande esforço e equipamento especial", acrescentando que seus integrantes "trabalham de forma diligente para fechar essa questão".

A declaração ocorre um dia depois de Israel anunciar que manteria fechada a passagem de Rafah, entre a Faixa de Gaza e o Egito, e reduziria o envio de ajuda humanitária ao enclave até o grupo Hamas devolver todos os corpos. Nesta quarta, 15, agências de ajuda e a ONU pediram que Israel abra mais pontos de cruzamento para permitir que "milhares de caminhões" entrem diariamente em Gaza, devastada por dois anos de guerra.

A entrada de ajuda humanitária em Gaza é um dos pontos centrais da primeira fase do acordo de cessar-fogo entre Israel e Hamas, diante da crise de abastecimento de insumos básicos. Caminhões de organizações internacionais entraram no enclave nos últimos dias a partir do ponto de controle em Kerem Shalom, na fronteira com Israel, mas em um volume ainda considerado insuficiente. A abertura de Rafah foi apontada como uma questão estratégica para o reabastecimento do enclave.

Os planos israelenses para a reabertura, porém, parecem indefinidos. A emissora pública israelense Kan informou nesta quarta-feira que a passagem seria liberada para a entrada de 600 caminhões de ajuda humanitária ainda nesta quarta. O carregamento seria proveniente da ONU e de "organizações internacionais autorizadas, o setor privado e países doadores".

Ainda de acordo com a Kan, a reabertura teria sido decidida pela "esfera política" depois que o Hamas entregou novos corpos de reféns na noite de terça-feira. A emissora pública não citou a questão de um dos corpos ter sido identificado como não sendo de um refém.

Fontes de segurança israelense ouvidas pela imprensa do Estado judeu e veículos internacional disseram que a informação divulgada pela Kan estava equivocada, e que não há um plano para que a passagem seja reaberta para a ajuda internacional. Haveria, porém, um plano para que Rafah sirva de rota de entrada e saída de palestinos de Gaza.

"Os preparativos estão em andamento para a abertura apenas para a entrada e saída de moradores de Gaza." disse uma autoridade de segurança ouvida pela rede britânica BBC, citada em anonimato. "A ajuda humanitária continua a entrar na Faixa de Gaza pela passagem de Kerem Shalom e outras passagens após a inspeção de segurança israelense."

Fila infinita: caminhões carregados com ajuda humanitária estacionados no lado egípcio da passagem de Rafah, aguardando acesso à Faixa de Gaza — Foto: AFP
Fila infinita: caminhões carregados com ajuda humanitária estacionados no lado egípcio da passagem de Rafah, aguardando acesso à Faixa de Gaza — Foto: AFP

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, está sob intensa pressão de diferentes setores da sociedade israelense, em um momento em que o atraso na devolução dos restos mortais dos reféns mortos em Gaza provoca irritação em famílias das vítimas e figuras críticas às negociações. Muitos pedem que o premier não cumpra os termos do acordo ou não dê continuidade às tratativas, até que o grupo palestino cumpra sua parte no acordo — embora o Hamas tenha dito não estar em posse de todos os corpos, e organizações internacionais classificarem uma entrega total como muito difícil, dada a destruição em Gaza e a dificuldade de localizá-los.

O ministro da Segurança Interna de Israel, Itamar Ben-Gvir, representante da ala mais radical do governo, afirmou na terça-feira que Netanyahu deveria interromper todo o envio de ajuda a Gaza até que os corpos fossem devolvidos — algo que implicaria não apenas a não reabertura de Rafah, mas o fechamento daquelas que estão em uso.

A porta-voz Olga Cherevko, do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha) em Gaza, disse a repórteres qeu autoridades israelenses haviam informado à ONU que o número previsto de caminhões seria adiado ou reduzido em função do número de reféns libertados até o momento.

"Recebemos essa comunicação das autoridades israelenses e, é claro, continuamos a incentivar as partes a cumprirem os acordos estabelecidos nos parâmetros do cessar-fogo", afirmou Cherevko, em comentários inicialmente divulgados pela Reuters.

A agência britânica informou na terça-feira que Israel permitiria a entrada de apenas 300 caminhões de ajuda — metade do número acordado — em Gaza a partir de quarta-feira.

Modelo de distribuição

Fontes citadas pelo jornal israelense Times of Israel afirmaram que a entrada de ajuda humanitária ocorreria por meio de uma estrutura diferente daquela predominante nos últimos meses de guerra, centrada na Fundação Humanitária de Gaza (GHF, na sigla em inglês), contestada organização que recebeu apoio de Israel e dos EUA, apesar de denúncias de ONGs sobre descumprimento do direito internacional.

De acordo com a publicação israelense, organizações como a Cruz Vermelha e agências da ONU poderiam voltar a realizar a distribuição de alimentos e insumos permitidos.

O período de distribuição de ajuda restritamente pela GHF foi marcado por incidentes envolvendo o Exército de Israel e grandes tumultos, com a confirmação de pessoas alvejadas por disparos de arma de fogo perto dos locais de distribuição ou em rotas que levavam aos centros. 

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