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Hamas propõe lista de demandas para fechar acordo de paz com Israel

Grupo analisa proposta feita na semana passada pelos EUA para encerrar guerra que já dura dois anos

Vista da cidade de Sharm el-Sheikh, onde delegações de Hamas e Israel debatem um acordo de paz (AFP)

Vista da cidade de Sharm el-Sheikh, onde delegações de Hamas e Israel debatem um acordo de paz (AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 7 de outubro de 2025 às 14h28.

O grupo palestino Hamas divulgou nesta terça-feira, 7, uma lista de demandas para fechar um acordo de paz com Israel e colocar fim a um conflito que completa 2 anos exatamente neste dia 7 de outubro.

A lista do Hamas, fornecida pelo porta-voz Fawzi Barhoum ao site da Al-Jazeera, inclui os seguintes termos

  • Cessar-fogo completo e permanente
  • Retirada completa das forças de Israel de Gaza
  • Entrada irrestrita de ajuda humanitária
  • Retorno das pessoas desalojadas para suas casas
  • Início imediato da reconstrução de Gaza, supervisionado por um grupo de palestinos
  • Uma troca justa de prisioneiros

Parte dos pedidos já havia sido contemplada no plano de paz anunciado pelo presidente dos EUA, Donald Trump, e pelo premiê de Israel, Benjamin Netanyahu, na semana passada.

Na sexta-feira passada, dia 3, o Hamas respondeu que aceitaria negociar o plano, após um ultimato de Trump. As negociações com Israel estão sendo realizadas no Egito.

Segundo a emissora egípcia Al Qahera News, o Hamas pediu mais garantias antes de fechar o acordo.

"O Hamas pede esclarecimentos sobre os mecanismos e procedimentos necessários para implementar o plano de Trump, bem como garantias de que Israel não retomará sua agressão contra Gaza", disse uma fonte de alto escalão, próxima aos serviços de inteligência egípcios, à emissora egípcia sob condição de anonimato.

A fonte disse que o Hamas está disposto a "entregar todos os reféns e prisioneiros, vivos e mortos", caso um acordo seja alcançado nas negociações indiretas entre o movimento palestino e Israel, que acontecem desde segunda-feira na cidade turística egípcia de Sharm el-Sheikh, no sul do Sinai.

Delegações do Qatarda Turquia e dos Estados Unidos estão na cidade para participar de reuniões para a implementação do plano de Trump, segundo a Al Qahera News, que acrescentou que já começaram as discussões sobre a lista de prisioneiros palestinos que Israel deve libertar assim que os reféns forem soltos.

Enquanto isso, uma fonte do setor de segurança egípcio, envolvida nas negociações, disse à agência EFE, sob condição de anonimato, que as negociações continuam "sem mudanças substanciais nas posições das delegações de Israel e do Hamas".

Ele acrescentou que o grupo palestino está comprometido em obter garantias de que Israel não retornará à guerra após a entrega dos reféns e exige o fim total da guerra na Faixa de Gaza antes que as libertações possam ocorrer.

Na primeira fase das negociações, que começaram na segunda-feira, as partes tentam chegar a um acordo sobre os mecanismos e detalhes de uma trégua temporária que permita a libertação dos 48 reféns, vivos e mortos, mantidos pelo Hamas em troca da libertação de centenas de palestinos por Israel, conforme proposto por Trump.

Pessoas fogem de área destruída em Beit Hanun, na Faixa de Gaza, em março de 2025 (Bashar Taleb/AFP)

Temas que o Hamas rejeitaria

Segundo a agência EFE, o grupo teria concordado nesta terça-feira em entregar suas armas a um comitê egípcio-palestino, mas se recusaria categoricamente a ceder a administração da Faixa de Gaza a um comitê internacional de transição. A EFE conversou com uma fonte palestina familiarizada com as negociações.

De acordo com a fonte, que pediu anonimato, o movimento aceitou a entrada na Faixa de Gaza das forças de segurança palestinas, que estão sendo treinadas no Egito e na Jordânia. No entanto, o grupo rejeitaria a presença de Tony Blair (ex-primeiro-ministro britânico) como governador de Gaza, mas aceitaria que ele assuma um papel de monitoramento remoto.

Ainda segundo a fonte ouvida pela EFE, o Hamas não aceita a ideia de criar um comitê internacional de transição, e propôs que uma delegação do Hamas, chefiada por Jalil al-Haya, lide com as negociações com Israel, enquanto uma segunda equipe do movimento negociaria com a Autoridade Nacional Palestina para entregar a administração da Faixa de Gaza a um comitê administrativo afiliado ao governo palestino.

Entenda o confronto entre Israel e Hamas

Israelenses e palestinos vivem um confronto há décadas. Israel foi criado, no fim dos anos 1940, sobre terras que os palestinos ocupavam anteriormente, após a ONU propor a fundação de dois países na região, um para os judeus e outro para os palestinos.

No entanto, nenhum dos lados concordou com a divisão feita em 1947. Os palestinos tentaram invadir o território dado a Israel, mas foram expulsos, dando origem a um conflito que dura até hoje. Nas décadas seguintes, Israel conquistou outras áreas e reduziu o espaço dos palestinos a dois blocos, um na Cisjordânia e outro na Faixa de Gaza.

A fase atual do confronto começou em 7 de outubro de 2023, quando o Hamas, grupo que controla Gaza, fez um ataque ao território israelense, que matou 1.219 pessoas e sequestrou 251. Em seguida, Israel invadiu Gaza para buscar os reféns e acabar com o poder de ataque do Hamas.

Mais de 66.000 pessoas foram mortas em Gaza desde o início da guerra, segundo números do Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas. Os dados são questionados por Israel e seus aliados, mas considerados confiáveis pela ONU.

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