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Ida de Trump à Índia é ofuscada por distúrbios e divergências comerciais

Boa recepção a Trump não esconde o fato de que um acordo comercial amplo entre os EUA e a Índia parece remoto

Donald Trump e Narendra Modi: os dois países estão preocupados com a crescente influência da China (Jerome Cartillier and Abhaya Srivastava/AFP)

Donald Trump e Narendra Modi: os dois países estão preocupados com a crescente influência da China (Jerome Cartillier and Abhaya Srivastava/AFP)

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AFP

Publicado em 25 de fevereiro de 2020 às 11h48.

Última atualização em 25 de fevereiro de 2020 às 11h53.

São Paulo — A Índia estendeu o tapete vermelho nesta terça-feira para o presidente americano, Donald Trump, no segundo dia de uma visita com altas expectativas, mas os violentos distúrbios deixaram evidentes as tensões religiosas no país.

Em Nova Délhi, após a chegada de Trump na segunda-feira, foram registrados distúrbios entre os partidários e opositores da nova lei sobre cidadania, o que resultou em uma batalha campal entre hindus e muçulmanos.

A lei, que segundo os críticos é parte da agenda nacionalista do primeiro-ministro Narendra Modi - o que ele nega - provocou semanas de protestos e violência.

De acordo com o balanço atualizado do hospital Guru Teg Bahadur de Nova Délhi, onde foram internadas 31 pessoas - 10 gravemente feridas -, os confrontos deixaram nove mortos.

Alok Kumar, comandante de polícia de Nova Délhi, afirmou à AFP que os distúrbios prosseguiam nesta terça-feira.

"Os manifestantes atacam a polícia ou brigam entre eles quando não há policiais por perto", disse Kumar.

Uma das vítimas fatais dos distúrbios de segunda-feira foi um policial.

O canal NDTV informou que três repórteres e um cinegrafistas foram atacados por uma multidão na zona norte da cidade, de 20 milhões de personas.

A lei em questão também provocou críticas no exterior, ao despertar o temor de que Modi deseja remodelar a Índia secular em uma nação hindu, o que marginalizaria os 200 milhões de muçulmanos que vivem no país.

Modi nega que este seja o seu objetivo.

Uma fonte do governo americano afirmou que Trump mencionaria a questão da liberdade religiosa durante sua visita relâmpago, que é "extremamente importante para esta administração".

Árvore para Gandhi

Na segunda-feira, Trump e Modi participaram em um comício diante 100.000 pessoas no maior estádio de críquete do mundo, em Ahmedabad. O evento recebeu o nome "Namaste Trump".

Depois, Trump visitou ao lado da esposa Melania o Taj Mahal, em Agra, que havia sido fechado ao público.

Nesta terça-feira, Trump e Melania assistiram a uma cerimônia de boas-vindas da cavalaria.

Depois de retirar os sapatos, o casal depositou uma coroa de flores e jogou pétalas no local em que o herói da independência da Índia, Mahatma Ghandhi, foi incinerado. Depois eles plantaram uma árvore.

A boa recepção, no entanto, não esconde o fato de que um acordo comercial amplo entre a maior economia do mundo e o país que pode virar em breve o mais populoso do planeta parece remoto.

E, embora as medidas possam parecer insignificantes em comparação com a guerra comercial aberta com a China, Trump impôs tarifas ao aço e ao alumínio indianos e suspendeu o acesso de certos produtos a zonas isentas de impostos.

Modi respondeu com o aumento das tarifas de alguns produtos americanos, como as amêndoas da Califórnia, no valor de 600 milhões de dólares.

Trump chamou a Índia de "rei das tarifas" e declarou, antes de visitar o país, que a terceira maior economia da Ásia estava "atacando (os Estados Unidos) duramente por muitos e muitos anos".

Além do comércio, Trump e Modi devem assinar acordos no setor de defesa por três bilhões de dólares, incluindo a venda de helicópteros navais, e negociar um escudo de defesa antimísseis pelo valor de US$ 1,9 bilhão.

Os dois países estão preocupados com a crescente influência da China e no ano passado assinaram um grande acordo de cooperação militar.

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