Assembleia-Geral da ONU, em Nova York (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 6 de maio de 2025 às 10h54.
O desenvolvimento humano vinha em avanço contínuo nas últimas décadas. Apesar de ainda haver inúmeros problemas globais, o acesso à educação, saúde e outros indicadores de qualidade de vida vinha melhorando em todo o planeta desde os anos 2000. Essa tendência, no entanto, teve mudanças após a pandemia, e o cenário caminha para a estagnação, segundo dados divulgados pela ONU nesta terça, 6.
A entidade publica todos os anos o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que considera todos os países do mundo. O IDH global (média de todos os países) vinha subindo de forma contínua e atingiu a faixa de 0,737 (o indicador vai de 0 a 1) em 2020. Se a tendência anterior fosse mantida, ele estaria agora em 0,765, mas ficou em 0,756.
"Estamos progredindo de forma mais lenta. Na verdade, é o progresso mais lento na história, se não considerarmos o período de declínio do IDH devido à pandemia de Covid-19", disse Pedro Conceição, diretor do Escritório do Relatório de Desenvolvimento Humano do PNUD, órgão da ONU que elabora o estudo.
"Se continuássemos a ter o progresso que tínhamos antes de 2020, estaríamos vivendo em um índice de desenvolvimento muito alto em 2030. Mas a tendência agora é que [o progresso] achatou um pouco e a marca de viver em um Índice de Desenvolvimento Humano muito elevado foi adiada por décadas", afirmou Conceição.
Além disso, as disparidades entre países com IDH muito alto e muito baixo, que por décadas vinham diminuindo, aumentaram nos últimos quatro anos. A queda atingiu todas as regiões em desenvolvimento.
"Rotas de desenvolvimento que criaram empregos em grande escala e reduziram a pobreza, graças à expansão das indústrias e às exportações para mercados internacionais, estão diminuindo", diz o documento.
Além disso, a falta de financiamento externo, os avanços da automação e as tensões comerciais dificultam o crescimento das economias, o que se traduz em menos recursos para custear o desenvolvimento humano.
O IDH considera três indicadores: expectativa de vida ao nascer, média de anos de escolaridade e PIB per capita.
O estudo aponta que o uso da inteligência artificial poderá ser decisivo para melhorar este cenário, ou torná-lo ainda pior.
"A IA entra como um coringa do desenvolvimento.Se a IA for vista como uma extensão superpotente das tecnologias digitais anteriores, usadas para automatizar o trabalho, a mão de obra estará condenada a ceder o restante do terreno para as máquinas, erodindo ainda mais as opções de desenvolvimento. Será isso o que está por vir?", questionam os autores do estudo.
"As escolhas que fazemos nos próximos anos definirão o legado desta transição tecnológica para o desenvolvimento humano", disse Conceição. "Com as políticas certas e foco nas pessoas, a IA pode ser uma ponte crucial para novos conhecimentos, habilidades e ideias que podem capacitar desde agricultores até pequenos empresários", afirma.