Agência de notícias
Publicado em 21 de julho de 2025 às 21h29.
O Irã continuará a desenvolver seu programa nuclear, especialmente o de enriquecimento de urânio, apesar dos "graves danos" a algumas de suas instalações causados pelo bombardeio dos EUA, disse o ministro das Relações Exteriores iraniano, Abbas Araghchi, na segunda-feira, 21.
Em apoio à ofensiva israelense contra o Irã, os Estados Unidos bombardearam a instalação subterrânea de enriquecimento de urânio de Fordo e as usinas nucleares de Isfahan e Natanz em 22 de junho.
— Isso está sendo interrompido porque, sim, o dano é sério, mas, obviamente, não podemos desistir do enriquecimento porque é uma conquista dos nossos próprios cientistas — explicou ele em uma entrevista à Fox News. — E agora, além disso, é uma questão de orgulho nacional.
O presidente americano, Donald Trump, reafirmou no sábado que os ataques dos EUA "destruíram completamente" os três locais atacados e ameaçou bombardear o Irã novamente se Teerã retomasse seu programa nuclear.
Questionado se o urânio enriquecido havia sido recuperado, o ministro afirmou que não tinha "informações detalhadas" sobre o assunto, mas que a agência atômica iraniana estava trabalhando para avaliar o status do "material enriquecido".
O governo iraniano confirmou nesta segunda-feira uma reunião com países europeus para discutir o futuro de seu programa nuclear, quase um mês após a guerra aérea travada com Israel. Na semana passada, Reino Unido, França e Alemanha, que estarão no encontro, ameaçaram retomar sanções amplas se não houvesse um acordo relacionado às atividades nucleares até agosto.
Em declarações à TV estatal, o porta-voz da Chancelaria iraniana, Esmail Baghaei, disse mais cedo que o encontro, que terá à mesa representantes franceses, britânicos e alemães, além do próprio Irã, acontecerá na sexta-feira, em Istambul. Não está prevista a participação dos EUA, com quem Teerã negociava um novo acordo nuclear até os primeiros ataques israelenses, em junho.
Antes do encontro, o Irã receberá representantes de China e Rússia em Teerã para discutir os próximos passos.
— Estamos coordenando continuamente com esses países sobre como prevenir (o mecanismo de retorno de sanções) ou mitigar suas consequências — disse Baghaei.
A reunião ocorre em meio a intensa pressão sobre Teerã por avanços nas negociações sobre um novo acordo de monitoramento de seu programa nuclear, de forma a evitar que ele seja militarizado no futuro, algo que os iranianos dizem não estar em seus planos.
O plano anterior, firmado em 2015, estabelecia limites ao grau de enriquecimento de urânio, à quantidade de material enriquecido armazenado no país e ao número e tipo de centrífugas utilizadas no processo. Em troca, sanções internacionais foram retiradas, e o Irã ganhou acesso a canais de comércio internacional dos quais tinha sido barrado.
A iniciativa funcionou de maneira eficiente até 2018, quando o presidente dos EUA, Donald Trump, em seu primeiro mandato, retirou Washington do acordo e impôs uma política de sanções ampliada, chamada de “pressão máxima”. Sem incentivos, o Irã passou a descumprir seus compromissos no acordo, elevando o grau de enriquecimento de urânio — hoje perto de 60% — e introduzindo centrífugas mais eficientes e modernas.
Ao retornar ao poder em janeiro, Trump disse estar disposto a firmar um novo acordo, e iniciou uma série de conversas mediadas por Omã. Mas em junho, Israel, que se opõe a uma saída diplomática para a questão nuclear, lançou ataques contra o território iraniano, alegando que o país estava perto de uma bomba atômica. As negociações foram suspensas, e os EUA também atacaram instalações nucleares no fim do mês passado, ao mesmo tempo em que deixavam aberta a porta a um acerto, mais restrito e que vetaria o enriquecimento de urânio, algo rejeitado pelos iranianos.