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Irã demonstra interesse em retomar negociações nucleares com os EUA, mas com condições

Segundo Kamal Kharrazi, assessor de política externa do governo iraniano, o primeiro passo para o diálogo precisa partir de Donald Trump

Mateus Omena
Mateus Omena

Repórter

Publicado em 19 de novembro de 2025 às 20h45.

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O Irã demonstrou disposição para retomar as negociações nucleares com os Estados Unidos, desde que o processo ocorra com respeito mútuo.

A declaração foi feita por um alto funcionário do governo em entrevista à emissora americana CNN nesta terça-feira, 19. Kamal Kharrazi, assessor de política externa do líder iraniano, Aiatolá Ali Khamenei, afirmou que Teerã não alterará sua posição, que permanece inalterada desde os ataques de Israel e dos EUA em junho.

“Os Estados Unidos precisam dar o primeiro passo, mostrando que estão prontos para conversar com a gente sob nossas condições. As negociações devem ser baseadas em igualdade e respeito mútuo”, explicou Kharrazi.

Ele também ressaltou que a agenda das discussões será definida com antecedência para garantir clareza sobre os temas a serem tratados. Kharrazi também criticou a postura do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mencionando que ele não acredita em soluções diplomáticas e prefere resolver questões por meio do uso da força.

Em seguida, Trump declarou que o Irã demonstrou um grande interesse em chegar a um acordo com os EUA sobre seu programa nuclear.

“Eles precisam dar o primeiro passo para que possamos alcançar um acordo. Eles querem muito negociar conosco, e provavelmente conseguiremos um acordo com o Irã”, disse Trump, durante um jantar na Casa Branca, com a presença do príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman.

Condições imutáveis

Kharrazi, no entanto, deixou claro que as condições do Irã para negociar com os EUA permanecem as mesmas após os ataques. Ele afirmou que o enriquecimento de urânio continuará, pois o país necessita do combustível tanto para suas usinas de energia quanto para serviços médicos. O programa de mísseis balísticos de Teerã também será excluído da mesa de negociações. "Nosso foco será apenas a questão nuclear", reforçou Kharrazi.

O representante iraniano também destacou que, apesar dos danos causados às instalações nucleares do Irã após os ataques, o programa nuclear do país permanece intacto, como confirmado pelo vice-ministro das Relações Exteriores, Saeed Khatibzadeh. Mas, Kharrazi observou que os ataques dos EUA e Israel ocorreram quando as negociações entre os dois países estavam em andamento, e os danos às instalações iranianas ainda estão sendo avaliados.

Durante essas negociações, os EUA insistiram que o Irã interrompesse todo o enriquecimento de urânio, mas o Irã se manteve firme em sua posição de continuar o enriquecimento doméstico, com um nível de pureza que não pudesse ser usado para construir armas nucleares. O enriquecimento de urânio altamente purificado é um componente essencial para a construção de uma bomba nuclear.

Kharrazi afirmou que, se as negociações avançarem, o foco não será o enriquecimento em si, mas o grau de enriquecimento. Em relação ao risco de um novo confronto militar com os EUA ou Israel, ele disse: “Tudo é possível. No entanto, estamos preparados para qualquer cenário”.

Em junho, a imprensa americana informou que Washington havia proposto um acordo no qual os EUA investiriam no programa nuclear civil do Irã e se uniriam a um consórcio que supervisionaria o enriquecimento de urânio de baixo grau de pureza no país por tempo indeterminado. Embora autoridades iranianas tivessem se mostrado abertas à ideia de um consórcio, elas insistiram que o Irã manteria o controle sobre suas próprias capacidades de enriquecimento.

Mesmo assim, Kharrazi afirmou que ainda existe possibilidade de negociação entre Irã e EUA para a criação de um consórcio nuclear.

"Se houver negociações genuínas, podemos encontrar formas de garantir que o Irã continue com seu enriquecimento de urânio e, ao mesmo tempo, assegurar aos outros que não buscamos armas nucleares”, disse, em entrevista à emissora americana CNN.

Ele também fez uma recomendação direta a Trump para que as negociações sejam bem sucedidas: “Comece com uma abordagem positiva. Se a postura for positiva, certamente haverá reciprocidade. No entanto, os EUA precisam se abster de usar a força contra o Irã, pois isso já foi tentado e não funcionou."

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