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Israel inicia nova fase da ofensiva na Cidade de Gaza com convocação de reservistas

Novo avanço sobre a região ocorre em meio à piora da crise humanitária e resistência de reservistas israelenses à chamada militar

Novo chefe das Forças Armadas de Israel, Eyal Zamir, visita o Muro das Lamentações em Jerusalém (Menahem Kahana/AFP)

Novo chefe das Forças Armadas de Israel, Eyal Zamir, visita o Muro das Lamentações em Jerusalém (Menahem Kahana/AFP)

Agência o Globo
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Publicado em 2 de setembro de 2025 às 16h06.

Última atualização em 2 de setembro de 2025 às 16h13.

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O chefe do Estado-Maior do Exército de Israel, general Eyal Zamir, afirmou nesta terça-feira que os militares iniciaram sua manobra na Cidade de Gaza, anunciando o início de uma fase mais agressiva da ofensiva terrestre no enclave.

A declaração foi feita no mesmo dia em que se esperava que 60 mil reservistas comparecessem a suas bases após convocação enviada no mês passado para a operação na cidade — movimento que enfrenta oposição interna e condenação internacional.

— Vamos intensificar e aprofundar nossa operação. Já estamos entrando em áreas nas quais ainda não havíamos operado e atuando nelas. As Forças Armadas de Israel não aceitam nada menos do que um desfecho decisivo. A guerra não vai parar até que esse inimigo seja derrotado — disse Zamir aos reservistas convocados.

O general visitou a base de Nachshonim ao lado do comandante da 99ª Divisão, brigadeiro-general Yoav Brunner, e do comandante da 11ª Brigada. Durante a visita, ele conversou com os reservistas recém-mobilizados e com integrantes da Diretoria de Tecnologia e Logística, responsável por recepcioná-los, agradecendo pelo serviço prestado. Zamir destacou que as forças israelenses têm atuado de forma ampla contra o Hamas e outros grupos hostis desde os ataques sem precedentes de 7 de outubro de 2023.

— Estamos atacando, desmantelando, derrotando e prevalecendo contra eles. Estamos operando em todo o Oriente Médio — afirmou, elogiando o comparecimento dos reservistas e expressando gratidão em nome das Forças Armadas e da população israelense. — O Hamas não terá onde se esconder. Onde quer que estejam, líderes ou combatentes de base, nós os atingimos, o tempo todo. Já estamos entrando em locais onde nunca havíamos entrado antes, atuando com coragem, força, bravura e um espírito extraordinário.

A convocação, anunciada no mês passado, ocorre enquanto as forças terrestres e aéreas israelenses avançam e ampliam os ataques em áreas do norte e centro da Faixa de Gaza, atingindo partes dos bairros de Zeitoun e Shijaiyah — dois setores a oeste da Cidade de Gaza, invadidos repetidamente pelas tropas de Israel ao longo da guerra. Zeitoun, que já foi o maior bairro da região, com mercados, escolas e clínicas, foi transformado ao longo do último mês. Suas ruas estão desertas e os edifícios, reduzidos a escombros.

Na semana passada, o Exército israelense classificou a região como uma “zona de combate perigosa”. Israel afirma que a Cidade de Gaza continua sendo um reduto do Hamas, com uma vasta rede de túneis subterrâneos, apesar das múltiplas incursões ao longo do conflito. A cidade é também um dos últimos refúgios no norte da Faixa de Gaza, onde centenas de milhares de civis buscam abrigo, enfrentando o duplo risco da fome e dos combates.

Apesar dos elogios de Zamir, alguns reservistas israelenses se recusam a voltar ao serviço, acusando o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu de prolongar a guerra por motivações políticas, em vez de negociar um acordo com o Hamas para a libertação dos reféns. Netanyahu, por sua vez, afirma que a guerra continuará até que todos os reféns sejam libertados e o Hamas se renda. Recusar-se a se apresentar ao serviço militar é crime sujeito à pena de prisão, embora apenas alguns reservistas tenham sido detidos desde o início da guerra.

Segundo o Exército israelense, pelo menos 60 mil reservistas serão convocados de forma gradual, e outros 20 mil, que já estão em serviço, terão o prazo estendido. Em Israel, país com menos de 10 milhões de habitantes, a maioria dos homens judeus cumpre serviço militar obrigatório e permanece na reserva por pelo menos uma década. Mas cresce a insatisfação com a guerra. Um grupo recém-formado, chamado Soldados pelos Reféns, afirma reunir mais de 365 militares que serviram anteriormente, mas não pretendem atender a uma nova convocação.

— A guerra de agressão contínua de Netanyahu coloca nossos próprios reféns em perigo desnecessário e destrói o tecido da sociedade israelense, enquanto mata, mutila e leva à fome toda a população civil de Gaza — declarou Max Kresch, integrante do grupo, a jornalistas.

Crise em Gaza

Segundo hospitais da Faixa de Gaza, ao menos 47 pessoas morreram no enclave desde o amanhecer desta terça-feira. Um ataque aéreo contra um prédio residencial no bairro de Tel al-Hawa, na Cidade de Gaza, matou 15 pessoas, incluindo pelo menos três crianças, de acordo com o Hospital Shifa. Imagens da agência Associated Press mostraram equipes de resgate retirando com vida um bebê ensanguentado dos escombros e cobrindo os corpos de outras vítimas com lençóis brancos — cena que ilustra os riscos enfrentados pelos moradores.

— Estávamos dormindo tranquilos em casa, quando de repente acordamos com barulhos e fumaça — relatou a moradora Sana Drimli à AP. — Acordamos para ver o que tinha acontecido conosco e com nossos filhos, e descobrimos que todos ao nosso redor estavam mortos.

Mais ao sul, os hospitais Nasser (em Khan Younis) e Awda (em Nuseirat) informaram ter recebido 22 corpos de pessoas mortas por bombardeios e tiros israelenses nas proximidades de centros de distribuição de ajuda e em corredores utilizados por comboios da ONU.

Nos últimos meses, mais de 2,3 mil palestinos que buscavam ajuda humanitária foram mortos, segundo o Ministério da Saúde de Gaza. O número inclui óbitos em áreas onde comboios da ONU foram sobrecarregados por saqueadores e multidões desesperadas, além de pessoas baleadas a caminho de centros operados pela Fundação Humanitária de Gaza, contratada americana com apoio israelense.

Desde que a principal autoridade internacional em crises alimentares declarou, no mês passado, que a Cidade de Gaza enfrenta uma situação de fome, o número de mortes por desnutrição também vem crescendo. O Ministério da Saúde local informou nesta terça-feira que 185 pessoas morreram por esse motivo apenas em agosto — o maior número em meses.

De acordo com o ministério, 63.633 palestinos foram mortos desde o início da guerra, e outros 160.914 ficaram feridos até esta terça. O órgão, que faz parte da administração do Hamas, mas é formado por profissionais de saúde, não diferencia civis de combatentes em sua contagem, embora afirme que mulheres e crianças representam cerca de metade dos mortos. Agências da ONU e especialistas independentes consideram os dados do ministério os mais confiáveis disponíveis. Israel contesta os números, mas não divulga estimativas próprias.

A guerra começou em 7 de outubro de 2023, quando membros do Hamas atacaram o sul de Israel, matando 1,2 mil pessoas — em sua maioria civis — e fazendo 251 reféns. Segundo o governo israelense, 48 deles ainda estão em Gaza, sendo cerca de 20 possivelmente vivos. A maioria foi libertada durante tréguas ou negociações.

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