O presidente Luiz Inacio Lula da Silva, durante evento em Brasília, em 30 de junho (Evaristo Sá/AFP)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 1 de julho de 2025 às 11h48.
Última atualização em 1 de julho de 2025 às 11h53.
O Itamaraty enviou uma carta à revista The Economist, questionando uma reportagem publicada na última quinta-feira, 29, que diz que o presidente Lula estaria perdendo influência no exterior e é impopular no país.
A revista disse que Lula agiu de forma incoerente ao condenar os ataques feitos contra o Irã, no fim de junho, por EUA e Israel, e ao comparecer a um evento em Moscou, ao lado do presidente Vladimir Putin, criticado por EUA e Europa por invadir a Ucrânia.
A reportagem da Economist apontou que uma delegação do Irã deverá vir ao Brasil nesta semana, para a reunião de cúpula do Brics, grupo do qual o Irã é um dos membros, desde 2024.
"Originalmente, ser membro [do Brics] oferecia ao Brasil uma plataforma para exercer influência global. Agora, isso faz com que o Brasil pareça cada vez mais hostil ao Ocidente", disse a publicação.
Além disso, Lula é questionado por não ter interlocução direta com os presidentes dos EUA, Donald Trump, e da Argentina, Javier Milei. Os dois países são parceiros comerciais de peso do Brasil e aliados de longa data.
A Economist disse ainda que Lula enfrenta problemas internos no Brasil, ressaltados por sua baixa aprovação em pesquisas e pela crise envolvendo a derrubada do decreto que aumentava o IOF, barrado pelo Congresso.
Na carta enviada à Economist, que foi obtida pela EXAME, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, disse que Lula segue sendo respeitado no exterior.
"Para humanistas de todo o mundo, incluindo políticos, líderes empresariais, acadêmicos e defensores dos direitos humanos, o respeito à autoridade moral de Lula é indiscutível", disse Vieira, na carta.
"Nossa condenação [aos ataques ao Irã] responde ao fato elementar de que essas ações constituem uma flagrante transgressão da Carta da ONU. Ferem, em particular, as normas da Agência Internacional de Energia Atômica, organização responsável por prevenir contaminação radioativa e desastres ambientais de larga escala", diz o texto.
"Em face de uma nova corrida armamentista, ele [Lula] está entre os líderes que denunciam a irracionalidade de investir na destruição, em detrimento da luta contra a fome e do aquecimento global", afirmou.
"Poucos líderes mundiais, como o presidente Lula, podem dizer que sustentam com a mesma coerência os quatro pilares essenciais à humanidade e ao planeta: democracia, sustentabilidade, paz e multilateralismo", disse.
A carta buscou ressaltar conquistas obtidas na presidência brasileira do G20, no ano passado.
"Como presidente do G20, Lula construiu um difícil consenso entre os membros, no ano passado, e ao longo do processo logrou criar uma ampla aliança global contra a fome e a pobreza. Também apresentou uma ousada proposta de taxação de bilionários que terá incomodado muitos oligarcas", afirmou Vieira.
Na carta, o Itamaraty afirma que o Brasil vê o Brics como "ator incontornável na luta por um mundo multipolar", menos assimétrico e mais pacífico. Diz que a presidência brasileira trabalhará para fortalecer o perfil do grupo como espaço de concertação política em favor da reforma da governança global e como esfera de cooperação em prol do desenvolvimento e da sustentabilidade.
"Sob a liderança de Lula, o Brasil tornou-se um raro exemplo de solidez institucional e de defesa da democracia. Mostrou-se um parceiro confiável que respeita as regras multilaterais de comércio e oferece segurança a investidores. Como um país que não tem inimigos, o Brasil é também um coerente defensor do direito internacional e da resolução de disputas por meio da diplomacia", disse Vieira.