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Juan Manuel Santos: 'América Latina precisa evitar os extremos'

Em conversa com a EXAME, ex-presidente da Colômbia e vencedor do Nobel da Paz aponta que a polarização impede a região de dar continuidade a políticas públicas

Juan Manuel Santos, ex-presidente da Colômbia: polarização impede continuidade de governos na América Latina
 (Leandro Fonseca/Exame)

Juan Manuel Santos, ex-presidente da Colômbia: polarização impede continuidade de governos na América Latina (Leandro Fonseca/Exame)

Luciano Pádua
Luciano Pádua

Editor de Macroeconomia

Publicado em 17 de novembro de 2025 às 15h47.

Última atualização em 17 de novembro de 2025 às 16h21.

BELÉM, PARÁ - A América Latina vive um momento decisivo, marcado por volatilidade eleitoral e mudanças bruscas de governo. Para Juan Manuel Santos, ex-presidente da Colômbia e vencedor do Nobel da Paz, esse pêndulo ideológico não é sinal de vitalidade democrática, mas de fragilidade causada pela polarização política. “Os extremos impedem que as democracias sejam eficazes”, afirmou à EXAME durante participação na Conferência das Partes (COP30).

Segundo Santos, que recebeu um Nobel da Paz pelo acordo de paz com as Farc no seu país em 2016, a região reúne condições únicas para liderar a transição energética global, com vastos recursos minerais e potencial agrícola para abastecer o planeta, pressionado pela crise climática.

Mas o ambiente político turbulento e de dificuldade de reeleição de governos de situação — como ilustrado nas eleições chilenas deste domingo, 16 — impede que as oportunidades se convertam em políticas públicas estáveis e de longo prazo. “Esses vaivéns políticos, essa polarização em todos os países está impedindo isso”, disse.

Santos observa que a frustração do eleitor funciona como combustível do ciclo de alternância radical: governos de esquerda enfrentam dificuldades para entregar resultados, o que abre espaço para a direita — que, por sua vez, encontra obstáculos semelhantes.

O efeito acumulado, avalia, é um continente preso entre expectativas infladas, promessas irreais e baixa governabilidade.

“Entra a esquerda. E ela tem dificuldade para governar. As pessoas se frustram e vão para o outro extremo. Ou entra a direita. Ela também tem dificuldade para governar por causa da radicalização e as pessoas vão para a esquerda. Estamos vendo este pêndulo”, resumiu.

O ex-presidente recorda que democracias sólidas dependem de um elemento que, segundo ele, desapareceu do vocabulário político latino-americano: moderação.

Citando George Washington, Santos afirmou que a estabilidade regional passa por reconstruir consensos mínimos e reduzir o custo político de governar a partir do centro. “Nunca se esqueçam da palavra moderação”, disse, ecoando o alerta do primeiro presidente dos Estados Unidos.

Pressão de Trump sobre a América Latina

A crise de governabilidade na região também é agravada por tensões externas. Questionado sobre a movimentação militar recente do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no Caribe, que gerou preocupação entre governos latino-americanos, Santos diz esperar transparência sobre as reais intenções da operação.

“Veremos quais são suas verdadeiras intenções, porque houve sinais contraditórios, e espero que não seja algo que leve à violência, a uma situação dramática”, afirmou.

Para o ex-presidente, a instabilidade não é um destino inevitável, mas o resultado de escolhas políticas. Santos defende que os países da região abandonem a lógica da radicalização e adotem agendas de consenso focadas no desenvolvimento sustentável, na integração regional e na redução das desigualdades.

“Os extremos nos levam ao populismo, que a longo prazo é totalmente contraproducente. Não importa se alguém é de centro-direita ou centro-esquerda, mas evitar os extremos é o que eu almejo na América Latina”, afirmou.

COP30: Ciência, vontade política e a busca por um acordo sobre fósseis

Na COP30, Juan Manuel Santos se juntou ao grupo de cientistas que, em um ato para chamar a atenção de negociadores, entregou um documento a autoridades na manhã desta segunda-feira, pedindo que ouçam as evidências científicas, que pedem ação imediata para evitar o colapso climático.

Santos se mostrou moderadamente otimista sobre a possibilidade de um acordo robusto, desde que prevaleça a vontade política. Segundo ele, as divergências na primeira semana são comuns e que a fase decisiva começa com a chegada dos ministros nesta semana.

“Tudo é possível se houver vontade”, disse, ao comentar as diferenças entre países produtores de combustíveis fósseis e nações que defendem metas mais agressivas.

Mary Robinson (à esquerda), Juan Manuel Santos (centro), Johan Rockström (centro) e Carlos Nobre (à direita) em entrevista após entregar documento para autoridades na COP30 (Leandro Fonseca/Exame)

Como líder dos Planetary Guardians, grupo que se fundamenta em evidências científicas, e da organização Elders, Santos reforça que a política climática deve “estreitar a lacuna entre a ciência e a política”.

Para ele, a ciência aponta com clareza o caminho para limitar o aquecimento global e salvar ecossistemas críticos — como a Amazônia e os recifes de coral, duas prioridades citadas por ele.

O ex-presidente da Colômbia também criticou a postura dos Estados Unidos, que ainda não sinalizou adesão total às principais frentes de negociação. "Se o presidente dos Estados Unidos não quiser aderir a esta causa, o problema é dele. O resto do mundo não pode esperar que os Estados Unidos tomem uma decisão, seja ela qual for", disse.

Independentemente da posição norte-americana, prosseguiu Santos, países latino-americanos e europeus têm a responsabilidade de avançar em compromissos ambiciosos para garantir um futuro viável para o planeta. "Todos queremos nos comprometer a avançar, porque é o futuro de todos nós", afirmou.

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