Javier Milei: investigação sobre possível fraude com criptomoeda $Libra (AFP/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 17 de fevereiro de 2025 às 17h04.
Última atualização em 17 de fevereiro de 2025 às 17h05.
A Justiça Federal da Argentina investigará se o presidente Javier Milei cometeu um crime ao promover, nas redes sociais, uma criptomoeda que colapsou horas após seu lançamento na sexta-feira, 14. O Juizado Federal 1 foi designado nesta segunda-feira, 17, por sorteio, para centralizar as denúncias que buscam determinar se Milei incorreu em associação criminosa, estelionato e descumprimento dos deveres de funcionário público, entre outros delitos.
“Denunciamos que Milei fez parte de uma associação criminosa que organizou um esquema fraudulento com a criptomoeda $Libra, que afetou simultaneamente mais de 40 mil pessoas, causando perdas superiores a US$ 4 bilhões”, declarou em nota o Observatório de Direito da Cidade, cujos advogados lideram uma das ações judiciais.
Deputados da oposição do bloco peronista União pela Pátria anunciaram que promoverão um processo de impeachment contra Milei no Congresso. No sábado, a ex-presidente e líder do peronismo, Cristina Kirchner, chamou o mandatário de “golpista de criptomoedas”, acrescentando que ele operava “como um gancho para um golpe digital”. Outras forças políticas pediram a criação de uma comissão investigativa e a convocação do presidente para prestar esclarecimentos.
A denúncia inclui, entre outros, Julián Peh, CEO e cofundador da Kip Network e KIP Protocol — empresas envolvidas na criação da $Libra — e Martín Menem, presidente da Câmara dos Deputados da Argentina, que compartilhou a mensagem de Milei no X (antigo Twitter). Segundo a apresentação judicial, “imediatamente após a mensagem de apoio do presidente, o preço do criptoativo registrou uma alta exponencial”. Cinco horas depois, no entanto, a moeda digital colapsou.
A petição argumenta que o fato de Milei e outros líderes do seu partido, A Liberdade Avança (LLA), promoverem o token “deu legitimidade ao projeto, fazendo com que milhares de investidores confiassem” nele. Como resultado, o preço subiu rapidamente, mas os controladores do token liquidaram suas posições, obtendo lucro exorbitante. Para os denunciantes, a promoção da $Libra por Milei não foi acidental nem ingênua, já que o espaço entre o lançamento do token e o post do presidente foi de apenas três minutos.
A crise gerada pelo escândalo também afetou os mercados financeiros. As principais ações caíram quase 4% na abertura da Bolsa de Buenos Aires nesta segunda-feira. O índice S&P Merval registrou sua maior queda intradiária em quase três semanas, chegando a recuar 5,8% antes de reduzir as perdas. Nos Estados Unidos, os mercados de Nova York e Chicago permaneceram fechados devido ao feriado do Dia do Presidente.
Enquanto enfrenta as acusações, Milei viaja para Washington nesta semana, com a esperança de se reunir com Donald Trump. O presidente argentino busca garantir apoio do ex-presidente americano para que seu país receba mais recursos do FMI e possíveis isenções tarifárias impostas pelos EUA.
Apesar da ameaça de impeachment, a proposta dificilmente avançará, já que exige uma maioria de dois terços no Congresso. O principal partido de centro-direita, liderado pelo ex-presidente Mauricio Macri, demonstrou decepção com Milei, mas rejeitou a tentativa da oposição peronista de destituí-lo.
Embora o episódio tenha gerado um constrangimento para Milei, pesquisas indicam que ele pode escapar de um grande custo político. A inflação na Argentina está diminuindo, os salários estão subindo e a economia apresenta sinais de recuperação. A aprovação de Milei tem se mantido em torno de 47% por meses, enquanto seus adversários políticos seguem fragmentados.
No entanto, o caso reacende preocupações sobre o estilo impulsivo de Milei e suas decisões erráticas. “O equilíbrio macroeconômico precisa vir acompanhado de equilíbrio emocional”, afirmou Alejandro Catterberg, diretor da consultoria argentina Poliarquia. “Esses tipos de episódios geram uma incerteza completamente desnecessária.”