Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante entrevista coletiva à imprensa. Sede das Nações Unidas, Nova York (Ricardo Stuckert / PR/Divulgação)
Agência de notícias
Publicado em 24 de setembro de 2025 às 21h24.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quarta-feira que pretende discutir com o presidente americano, Donald Trump, uma possível saída para o conflito entre Rússia e Ucrânia.
A declaração foi feita durante entrevista coletiva concedida à imprensa na sede das Nações Unidas em Nova York, pouco após o petista ter realizado sua primeira reunião bilateral com o líder ucraniano, Volodymyr Zelensky, desde 2022.
— Eu sei que ele (Trump) é amigo do Putin. Eu também sou. Então, se um amigo pode muita coisa, dois amigos podem muito mais. Quem sabe a nossa química pode ser levada para o Putin e para o Zelensky [e] a gente construa aquela saída que parece inesperada? Eu acho que pode ter surpresa no mundo — disse ele em referência à fala de Trump, que no dia anterior havia declarado que “pintou uma química boa” entre os dois. — Estou muito otimista de que as coisas podem começar a mudar.
A fala ocorre em meio à expectativa por um novo encontro entre Lula e Trump nos próximos dias, após uma conversa informal entre os dois esta semana, nos bastidores da Assembleia Geral da ONU, ter sido avaliada como "breve, mas cordial" por interlocutores do governo brasileiro. A pauta do possível encontro ainda está em aberto, mas o petista já sinalizou que deseja discutir uma agenda positiva entre Brasília e Washington — e, agora, possivelmente incluir a guerra da Ucrânia.
— Naquilo que eu puder ajudar, eu disse ao presidente Zelensky, eu vou tentar ajudar. Se eu preciso conversar com qualquer pessoa, eu vou conversar. É importante lembrar que eu fui a Moscou. Eu estava em Pequim, fui a Moscou conversar com o Putin para que ele fosse a Istambul para conversar. Ele não foi. Mas eu acho que em algum momento ele vai ter que sentar — afirmou o presidente.
Mais cedo, Lula e Zelensky se reuniram formalmente também na sede da ONU, às margens da Assembleia Geral. A reunião durou cerca de uma hora e marcou um tom mais conciliador entre os dois presidentes, após episódios considerados desagradáveis nos últimos anos. Zelensky também reforçou que o líder brasileiro se comprometeu a “fazer tudo o que estiver ao seu alcance” para ajudar a aproximar a Ucrânia da paz.
— Tivemos boas conversas com o presidente Lula. É bom que haja sinais do Brasil, do presidente do Brasil e de sua equipe, de que eles apoiam, antes de tudo, o cessar-fogo e a paz para o povo ucraniano — disse ele, agradecendo pela “posição clara” do brasileiro no encontro, que também abordou temas como comércio e economia. — Acho que continuaremos da próxima vez, talvez num futuro próximo.
Durante a coletiva, Lula avaliou positivamente o encontro e disse ter notado em Zelensky uma “vontade muito maior de conversar do que em outras reuniões”. Segundo ele, o atual estágio da guerra exige uma mediação firme, com envolvimento das Nações Unidas e de países que mantenham diálogo com ambos os lados.
— O secretário-geral da ONU deveria juntar um grupo de países que quisessem construir a paz, que fosse a Moscou conversar com Putin e a Kiev conversar com Zelensky. O secretário-geral me disse que não tinha autorização para fazer isso. Mas a proposta continua em pé, e eu falei sobre ela para o Zelensky hoje.
Os contatos anteriores entre Lula e Zelensky foram marcados por impasses, e os dois chegaram a não se reunir durante a cúpula do G7 no Canadá, em junho, apesar de expectativas de que isso ocorresse. Em 2023, declarações do brasileiro, que atribuiu responsabilidade à Ucrânia pelo início da guerra, foram recebidas com críticas em Kiev. Lula também foi alvo de questionamentos ao visitar Moscou para a celebração dos 80 anos da vitória soviética sobre o nazismo.
Na ocasião, Zelensky chegou a recusar uma ligação telefônica de Lula e disse que o brasileiro não era um ator relevante na mediação do conflito. Desta vez, no entanto, a postura mais receptiva do líder ucraniano foi interpretada por interlocutores do como um sinal de reaproximação. O gesto ocorre após a cúpula promovida por Trump com Vladimir Putin no Alasca, no mês passado, não apresentar avanços concretos.