Os presidentes Donald Trump e Lula, durante reunião na Malásia, em 26 de outubro (Ricardo Stuckert/PR)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 26 de outubro de 2025 às 07h55.
Última atualização em 26 de outubro de 2025 às 08h29.
Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump tiveram uma reunião presencial em Kuala Lumpur, na Malásia, neste domingo, 26. Os dois líderes afirmaram que há espaço para acordos para reduzir a tarifa de 50%, imposta pelos EUA a produtos brasileiros em agosto, bem como buscar acordos em outros temas.
"Tive uma ótima reunião com o presidente Trump. Discutimos, de forma franca e construtiva, a agenda comercial e econômica bilateral. Acertamos que nossas equipes vão se reunir imediatamente para avançar na busca de soluções para as tarifas e as sanções contra as autoridades brasileiras", disse Lula, após o encontro, que durou cerca de 45 minutos.
Os dois viajaram ao país para participar da cúpula da Asean. Antes da reunião, os dois falaram com a imprensa por cerca de dez minutos.
"Acho que seremos capazes de fazer alguns acordos muito bons que temos conversado, e acho que ao final teremos um relacionamento muito bom", disse Trump. "Eles podem oferecer muito e nós podemos oferecer muito."
Perguntado se reduziria as tarifas ao Brasil, ele disse que os dois presidentes "estariam discutindo isso por pouco tempo. Conhecemos um ao outro. Sabemos o que o outro quer".
Trump também foi questionado se falaria sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro na reunião. Ele respondeu "não é da sua conta".
"Eu sempre gostei dele. Me sinto mal pelo que aconteceu a ele. Sempre pensei que ele era honesto (straight-shooter), mas ele passou por muita coisa", afirmou Trump, sobre Bolsonaro.
Os presidentes Donald Trump e Lula, durante reunião na Malásia, em 26 de outubro (Andrew Reynolds/AFP)
Após a conversa, Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores do Brasil, disse que a conversa foi muito positiva e que Lula pediu a Trump a revisão das tarifas e das sanções contra autoridades brasileiras. Ele avalia que as negociações levarão algumas semanas.
"Trump declarou que dará instruções à sua equipe para começar um processo de negociação bilateral, que deve se iniciar hoje ainda – já que é para tudo ser resolvido em pouco tempo", afirmou.
"Nós esperamos em pouco tempo agora, em algumas semanas, concluir uma negociação bilateral que trate de cada um dos setores da atual tributação americana ao Brasil", disse Vieira.
O chanceler brasileiro disse ainda que os negociadores brasileiros devem pedir que as tarifas sejam suspensas durante o período de negociação, e que os dois presidentes falaram sobre futuras visitas de Estado.
"O presidente Trump quer ir ao Brasil e o presidente Lula aceitou também, disse que irá com prazer aos Estados Unidos no futuro", disse o chanceler.
Vieira afirmou ainda que Lula se ofereceu a mediar a crise envolvendo os EUA e a Venezuela. Nas últimas semanas, militares americanos estão atacando barcos na costa do país, sob alegação de que eles estariam levando drogas.
"O presidente Lula disse que a América do Sul é uma região de paz e se prontificou a ser interlocutor, como foi no passado, com a Venezuela, para se buscar soluções que sejam mutuamente aceitáveis e corretas entre os dois países", disse.
Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), que tem atuado nas negociações entre os dois países há meses, houve avanço concreto.
“O anúncio do início das negociações sobre o tarifaço, com disposição real das duas partes para alcançar um acordo, é um passo relevante. Acreditamos que teremos uma solução que vai devolver previsibilidade e competitividade às exportações brasileiras, fortalecendo a indústria e o emprego no país”, afirmou o presidente da CNI, Ricardo Alban.
Em setembro, na missão empresarial liderada pela CNI a Washington, foram abertas frentes de diálogo e cooperação em setores de alto potencial, como data centers, combustível sustentável de aviação (SAF) e minerais críticos. Na ocasião, líderes industriais se reuniram com autoridades e empresários norte-americanos para discutir os impactos das tarifas.
A crise entre os dois países veio após Trump, em agosto, aumentar as taxas de importação sobre o Brasil, que chegaram a 50%, e impor sanções a autoridades brasileiras, como o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Ao impor a taxa, Trump exigiu que o Brasil retirasse os processos na Justiça contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Moraes foi sancionado por conduzir o processo contra o ex-presidente, condenado em setembro por tentativa de golpe de Estado.
Por semanas, o governo americano se recusou a negociar com as autoridades brasileiras. O clima mudou após um encontro entre Lula e Trump na ONU, em setembro. Desde então, os dois presidentes falaram diversas vezes que houve "química" entre eles, o que teria aberto as conversas entre os dois governos.
A lista de críticas americanas ao Brasil é longa, mas alguns pontos se destacam, entre eles, abrir o acesso ao etanol americano ao mercado brasileiro, ampliar o acesso dos EUA a minerais críticos e reduzir as regulações sobre empresas americanas de tecnologia.
O Brasil cobra uma taxa de 18% sobre o etanol americano. Antes do tarifaço, os americanos taxavam o produto brasileiro em 2,5%.
Nas últimas semanas, ganhou força a questão dos minerais críticos, como lítio, nióbio, cobre e terras raras. São elementos químicos usados na produção de itens de alta tecnologia, como chips e baterias, dos quais a China domina o refinamento.
Assim, o Brasil poderia oferecer algum tipo de parceria com os americanos para a exploração desses minerais. Há duas semanas, o ministro de Minas e Energia do Brasil, Alexandre Silveira, disse que foi convidado pelo governo americano para discutir o tema.