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Lula e Xi tentam unir América Latina na resistência a Trump

Encontro de países da região em Pequim reforça aproximação com a China em meio à pressão dos EUA

Fórum Celac-China: países da América Latina reforçam compromisso com o multilateralismo e a cooperação com Pequim (Ricardo Stuckert / PR)

Fórum Celac-China: países da América Latina reforçam compromisso com o multilateralismo e a cooperação com Pequim (Ricardo Stuckert / PR)

Agência o Globo
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Publicado em 13 de maio de 2025 às 16h10.

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Brasil e China conclamaram nesta terça-feira os países da América Latina e do Caribe a resistirem ao avanço do protecionismo e se unirem em defesa do multilateralismo, numa mensagem de oposição à guerra tarifária deflagrada pelo presidente Donald Trump, dos Estados Unidos. O chamado foi feito durante o Fórum da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e China, em Pequim.

Realizado dias após a trégua na guerra comercial entre Washington e Pequim, o encontro foi aberto sob o impacto das pressões dos Estados Unidos sobre os países latino-americanos para não se aproximarem da China. Xiomara Castro, presidente de Honduras, que exerceu a presidência interina da Celac, deveria ter participado do evento, mas desistiu por medo de retaliações dos EUA, segundo fontes diplomáticas do país. Houve dificuldade para se chegar a um consenso sobre a declaração final, devido ao desconforto de alguns países em incluir trechos críticos ao governo americano.

O presidente da China, Xi Jinping, repetiu seu bordão habitual de que o mundo vive mudanças que não ocorriam há um século, agora com “múltiplos riscos interligados e sobrepostos”. Ele prometeu aumentar a cooperação da China com a região, oferecendo uma linha de crédito de 66 bilhões de yuans à região (R$ 51 bilhões), além de intercâmbios e investimentos em áreas como tecnologia e meio ambiente. Para Xi, a instabilidade mundial requer mais parcerias da China com a América Latina e outras regiões.

— Não há vencedores em guerras tarifárias e comerciais, e a intimidação só leva ao isolamento — disse Xi. — Diante das tendências geopolíticas e do confronto entre campos e das crescentes contracorrentes de unilateralismo e protecionismo, a China está disposta a trabalhar com a América Latina para buscar conjuntamente o desenvolvimento e a revitalização e construir uma comunidade com um futuro compartilhado entre a China e a América Latina.

Em sua intervenção, Lula adotou o vocabulário chinês, afirmando que “para construir um futuro compartilhado é necessário reduzir as assimetrias entre os países”. Para isso, a colaboração com a China é “imprescindível”, disse Lula. Ao abordar o comércio mundial, ele comentou que sempre houve distorções, e que “a imposição de tarifas arbitrárias só agrava essa situação”. Mais tarde, após encontro bilateral com Xi, o presidente disse que nos últimos meses o mundo se tornou mais “imprevisível, mais instável e mais fragmentado”, e que Brasil e China estavam unidos “contra o unilateralismo e o protecionismo”.

— Guerras comerciais não têm vencedores. Elas elevam os preços, deprimem as economias e corroem a renda dos mais vulneráveis em todos os países — disse Lula, ecoando o discurso chinês. — Nossa região não deseja ser palco de disputas hegemônicas. Há mais de uma década, a CELAC declarou a América Latina e o Caribe como zona de paz. Não queremos repetir a história e encenar uma nova guerra fria.

Participação de líderes latino-americanos e a defesa do multilateralismo

Entre os participantes do Forum Celac-China, havia na maioria uma disposição de buscar uma relação mais próxima com a China para garantir alguma espécie de proteção contra os riscos criados pelo governo Trump. Miguel Lecaro, embaixador do Panamá em Pequim, reconheceu em conversa com O GLOBO que seu país estava num momento de grande pressão exercida pelos Estados Unidos, pela insistência em ter algum controle sobre o canal. Por isso, mais do que nunca, a união latino-americana e o apoio da China tornam-se uma necessidade, afirmou. Já o embaixador cubano, Alberto Blanco Silva, disse que a China tornou-se “um fator de estabilidade mundial”.

Além de Lula, participaram do encontro mais dois presidentes, do Chile, Gabriel Boric, e da Colômbia, Gustavo Petro. Para Boric, o encontro foi encarado como uma oportunidade para “dar um salto de qualidade” na relação do Chile com a China, e de mostrar sua defesa do livre comércio “sem ter que escolher um lado ou outro por imposição”. Ao GLOBO após participar de um almoço com Xi Jinping e todos os participantes do Fórum, Petro disse as políticas unilaterais de Trump tornam a aproximação da América Latina com a China algo quase natural.

— Desde a mudança política nos Estados Unidos, a morte do multilateralismo, sua substituição por decisões unilaterais impostas e o incentivo à guerra e à violência em muitas partes do mundo entraram em voga. O que fazemos aqui em Pequim é enviar uma mensagem ao mundo de reconstrução do multilateralismo — afirmou Petro.

Em entrevista coletiva, o chanceler da China, Wang Yi, disse que foi aprovado um plano de ação da China com os países da Celac que prevê cerca de cem projetos até 2027. A negociação em torno da declaração final foi marcada por divergências, já que alguns países como Costa Rica e Equador preferiam evitar linguagem que pudesse ser interpretada como crítica aos EUA, como a condenação do unilateralismo e de medidas protecionistas. Surpreendentemente, o governo da Argentina, que demonstra forte afinidade ideológica com os EUA, não ofereceu resistência.

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