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Lula vai à Rússia em nova tentativa de colocar Brasil como mediador de acordo de paz

Presidente participará de evento na Praça Vermelha, em Moscou, ao lado de ditadores de esquerda

Lula: governo atual enfrenta muitos desafios em diversos setores (Ricardo Stuckert / PR/Divulgação)

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Agência o Globo
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Publicado em 5 de maio de 2025 às 11h15.

Última atualização em 5 de maio de 2025 às 11h54.

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva embarca para Moscou na quarta-feira, 7, e chega no fim da semana, quando terá uma reunião bilateral com Vladimir Putin e participará das celebrações do Dia da Vitória, data que marca o triunfo sobre a Alemanha nazista, na Segunda Guerra Mundial.

A viagem terá um duplo objetivo, segundo interlocutores do governo brasileiro: além de tentar colocar o Brasil como mediador da paz no conflito entre Rússia e Ucrânia, o de passar o sinal de independência da política externa brasileira em relação a outras grandes potências mundiais.

O presidente brasileiro assistirá ao desfile militar, na Praça Vermelha, sem a presença de líderes ocidentais relevantes, como os europeus, orientados a não comparecer pela Comissão Europeia devido à guerra entre russos e ucranianos. No entanto, a presença no evento colocará Lula lado a lado com ditadores de esquerda, como o presidente venezuelano, Nicolas Maduro, e o cubano, Miguel Díaz-Canel, que estão na lista de convidados.

A confirmação da visita do petista a Putin causou mal-estar com os ucranianos. O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, vê os acenos de brasileiro à Rússia como sinal de imparcialidade. Na semana passada, o embaixador da Ucrânia no Brasil, Andrii Melnyk, esteve no Palácio do Planalto para convidar Lula a aproveitar a viagem para ir a Kiev. O diplomata foi recebido pelo vice-presidente, Geraldo Alckmin.

No encontro em Moscou, porém, a expectativa é que Lula diga a Putin que o Brasil tem credenciais para participar ativamente da mediação de um acordo de paz entre russos e ucranianos. Como presidente do Brics, o país passou a defender que o grupo participe de uma eventual negociação para um acordo de paz.

Na quarta-feira passada, em um discurso dirigido aos assessores de segurança nacional do grupo formado por 11 nações emergentes, o assessor para assuntos internacionais do Palácio do Planalto, Celso Amorim, afirmou que a mediação e a prevenção de conflitos deixaram de ser atribuição exclusiva das grandes potências. O grupo é formado por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã.

Atualmente, o principal interlocutor junto a Putin e Zelensky é Donald Trump, presidente dos Estados Unidos. Apesar dos esforços, Trump não obteve sucesso para um diálogo entre as partes.

Em setembro do ano passado, foi criado um grupo de países favoráveis a uma negociação diplomática. Na época, Brasil e China costuraram uma proposta para o início de negociação que previa, entre outros pontos, não expandir os campos de batalha, não aumentar os combates e não inflamar a situação.

Integrantes do governo brasileiro avaliam que a Rússia tem demonstrado mais disposição para o diálogo e reconhecem que os EUA têm sido os principais incentivadores para que isso ocorra. Antes, as negociações fracassaram, porque os europeus não chamaram os russos para conversar, postura criticada por Lula.

Angelo Segrillo, professor de história da USP e especialista em Rússia, afirma que, normalmente, a presença do presidente brasileiro no Dia da Vitória seria visto como algo natural, não fosse o atual contexto.

— O presidente Lula não quer se alinhar a um campo só. Não quer se afastar dos Estados Unidos e de outros países ocidentais, mas também não quer perder o que ele considera o trem do futuro, que é o lado do Brics da China e também da Rússia. Essa situação se complicou mais ainda com o governo Trump — diz Segrillo.

As relações bilaterais entre Brasil e Rússia, com destaque para o aumento do comércio e dos investimentos, também serão discutidas no encontro entre Lula e Putin. O comércio bilateral entre os dois países em 2024 foi de US$ 12,4 bilhões, com um déficit do lado brasileiro de US$ 9,5 bilhões. Os principais produtos comprados dos russos são diesel e fertilizantes.

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