Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, durante comício em Caracas (Pedro Mattey/AFP)
Redação Exame
Publicado em 24 de maio de 2025 às 08h01.
A Venezuela elegerá neste domingo, 25, um governador e oito deputados para o Parlamento de Essequibo, a gigantesca região rica em petróleo em disputa há mais de um século com a Guiana. No entanto, o país não tem controle sobre essa área, hoje sob controle da Guiana.
Ninguém no próprio Essequibo poderá participar. Os centros de votação estarão no estado fronteiriço de Bolívar, onde também vivem os pouco mais de 21.400 eleitores que formam essa recém-criada circunscrição, sobrerrepresentada em comparação com a média nacional.
"É inabalável a nossa vontade de recuperar os direitos históricos, territoriais e para além da Guiana Essequiba", expressou o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, na quarta-feira.
Seu homólogo guianês, Irfaan Ali, disse à AFP que o processo era uma mostra de "desespero e propaganda" da Venezuela, embora tenha identificado ao mesmo tempo como uma "ameaça".
Ao mesmo tempo, haverá eleições locais para 24 governadores e 285 deputados para o Parlamento da Venezuela.
A Venezuela sustenta que herdou Essequibo da era colonial espanhola. Em 3 de dezembro de 2023 celebrou um referendo sobre a soberania desse território, embora sem a participação da população que vive ali.
O mesmo ocorrerá agora na eleição do primeiro governador, que cumprirá funções a partir de outro estado e não terá nenhum tipo de autoridade sobre os habitantes dessa região.
"Não existe jurisdição nem exercerão soberania", explicou Ricardo de Toma, pesquisador venezuelano do tema Essequibo no Instituto Meira Mattos no Rio de Janeiro. "A eleição é simbólica, o mandato será simbólico".
O cientista político Gabriel Flores, no entanto, vê as eleições como "um ato estratégico da Venezuela para reafirmar o domínio sobre o território em disputa".
O referendo de 2023 deu lugar à lei venezuelana que cria o estado da Guiana Essequiba, ao mesmo tempo que a tensão com a Guiana chegou a um ponto de tal ebulição que houve alertas regionais sobre um possível conflito bélico.
A disputa pela soberania do Essequibo é centenária, embora tenha recrudescido em 2015 depois que a petroleira americana ExxonMobil descobriu grandes jazidas de petróleo na região em disputa.
A Guiana pediu à Corte Internacional de Justiça (CIJ) que ratificasse as fronteiras estabelecidas em um laudo de 1899.
A Venezuela, por sua vez, apela ao Acordo de Genebra que assinou em 1966 antes da independência da Guiana do Reino Unido e que anulava o laudo anterior e assentava as bases para uma solução negociada.
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) informou que há 21,6 milhões de eleitores aptos a votar no país.
No entanto, o site do CNE está fora do ar desde a madrugada de 29 de julho de 2024, quando o presidente Nicolás Maduro foi proclamado vencedor da eleição presidencial, que o conselho diz ter sido alvo de um ataque cibernético.
A AFP tomou conhecimento da lista de 21.403 eleitores da Guiana Essequiba - como o estado foi batizado em uma lei de 2024 - de dois candidatos à eleição.
Eles estão distribuídos, em princípio, em duas paróquias do estado de Bolívar e votarão nas autoridades de ambas as entidades.
O candidato do chavismo é o ex-comandante da Marinha venezuelana Neil Villamizar. Alexis Duarte é da ala da oposição, que rejeitou o apelo da líder María Corina Machado para não participar.
A Guiana reforçou sua presença militar na fronteira no período que antecedeu as eleições. E, na semana passada, denunciou um suposto ataque a suas tropas na mesma área em que relatou outro em março.
“Não vamos cair em provocações”, disse o ministro da Defesa da Venezuela, Vladimir Padrino, que incluiu na saudação militar a frase "O sol da Venezuela nasce no Essequibo".
A presença de um navio de guerra britânico na Guiana em 2023 levou a Venezuela a mobilizar mais de 5.600 soldados em exercícios militares perto da fronteira com a área disputada. Foi aí que os países vizinhos intervieram para acalmar os ânimos.
O chefe da diplomacia dos EUA, Marco Rubio, alertou em março que qualquer ataque “não terminaria bem” para a Venezuela.
Com AFP.