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'Mão Morta': conheça 'Máquina do Juízo Final' que a Rússia ainda usa como ameaça aos EUA

Rússia mantém o sistema "Mão Morta" ativo para garantir retaliação nuclear mesmo com a destruição da cadeia de comando

Agência o Globo
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Publicado em 5 de agosto de 2025 às 09h39.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ordenou na última sexta-feira o envio de “dois submarinos nucleares para zonas apropriadas” — em regiões dentro do alcance da Rússia — após comentários “altamente provocativos” do ex-presidente russo Dmitri Medvedev. Trata-se de uma rara ameaça de escalada nuclear que, segundo o republicano, foi motivada por ameaças de Medvedev, que, na última quinta-feira, fez alusão ao sistema semiautomático de controle de armas nucleares "Dead Hand" ("mão morta", em tradução livre) em uma postagem no Telegram criticando Trump.

Segundo o jornal russo Komsomolskaia Pravda, extremamente secreto, o sistema de retaliação nuclear automática da Rússia, conhecido também como "Máquina do Juízo Final", foi desenvolvido ainda na Guerra Fria como uma resposta à ameaça de um ataque nuclear surpresa. A existência do sistema visa garantir que, mesmo se a cadeia de comando for destruída, um contra-ataque seja feito.

Um ataque nuclear em larga escala contra o país ativaria automaticamente o sistema, enviando ordens para bases remanescentes, além de submarinos e aeronaves estratégicas, lançarem uma resposta "devastadora". Também chamado de "Perímetro", o sistema garante a emissão de ordens de lançamento mesmo que todos os centros de comando estejam fora de operação.

O general Viktor Yesin, ex-chefe do Estado-Maior das Forças Estratégicas, narrou — ainda de acordo com o Komsomolskaia Pravda — um episódio marcante: “Estava em um ônibus com americanos em São Francisco. Passamos por um farol e eu disse: ‘Conheço esse lugar’. Eles perguntaram como, já que era minha primeira vez ali. Respondi: ‘Ele era um ponto de mira. Um impacto ali causaria um deslizamento de terra e metade da Califórnia afundaria no oceano’.”

Capacidade destrutiva e modernização do sistema

Apesar da existência de sistemas antimísseis nos EUA, especialistas russos afirmam que 200 ogivas bastariam para causar destruição irreversível — número muito abaixo das mais de 1.500 que o país possui atualmente.

Após o colapso da União Soviética, o “Perímetro” foi modernizado e continua operacional. “O sistema está de prontidão. Se for necessário um ataque de retaliação e os canais convencionais falharem, a ordem será emitida pelo ‘Perímetro’”, afirmou o general Sergei Karakaev, comandante das Forças de Mísseis Estratégicos da Rússia.

Tecnologia e segurança do sistema

O engenheiro Vladimir Yarynich, que participou do desenvolvimento da tecnologia, disse que o objetivo era evitar decisões precipitadas baseadas em alarmes falsos. O sistema poderia ser ativado preventivamente para entrar em modo de espera enquanto as autoridades confirmassem uma ameaça real.

Questionamentos sobre vulnerabilidades, como a localização do foguete de comando, são descartados pelas autoridades militares. Essa localização já foi alterada, e há sistemas de backup em aviões, submarinos e satélites, garantem fontes oficiais.

Concorrência global: EUA e China também investem em sistemas semelhantes

Os EUA também possuem sistemas semelhantes. Desde os anos 1960, aeronaves de comando como o Boeing EC-135C (e depois o E-6 Mercury) operam como centros de controle alternativos. Além disso, uma rede de satélites foi posicionada em órbita para garantir comunicações em caso de guerra nuclear.

China e EUA também investem em sistemas automáticos de retaliação — inspirados, em parte, na tecnologia soviética.

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