O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante reunião de cúpula do Brics, no Rio de Janeiro (Diego Herculano/Brics Brasil)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 7 de julho de 2025 às 10h13.
Última atualização em 7 de julho de 2025 às 10h45.
Rio de Janeiro - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu uma parceria global para combater doenças e mais financiamentos para a transição energética em seu discurso de abertura da última sessão de debates da cúpula do Brics, nesta segunda-feira, 7, no Rio de Janeiro.
Lula também defendeu que os países gastem mais em saúde.
"Implementar o ODS 3 [Objetivos de Desenvolvimento Sustentável], saúde e bem-estar, requer espaço fiscal. Não há direito à saúde sem investimento em saneamento básico, alimentação adequada, educação de qualidade, moradia digna, trabalho e renda", disse o presidente.
"A Parceria pela Eliminação de Doenças Socialmente Determinadas, que lançaremos hoje, propõe superar essas desigualdades sistêmicas com ações voltadas para infraestrutura física e digital e para o fortalecimento de capacidades", afirmou.
Como exemplo, Lula citou a consolidação da Rede de Pesquisa de Tuberculose, que teve apoio do Novo Banco de Desenvolvimento e da Organização Mundial da Saúde, além da cooperação regulatória em produtos médicos entre os membros do Brics.
"No Brasil e no mundo, a renda, a escolaridade, o gênero, a raça e o local de nascimento determinam quem adoece e quem morre. Muitas das doenças que matam milhares em nossos países, como o mal de Chagas e a cólera, já teriam sido erradicadas se atingissem o Norte Global", afirmou.
O presidente falou ainda sobre os esforços para conter as mudanças climáticas e evitar ultrapassar 1,5 grau de aumento da temperatura do planeta.
"Será preciso triplicar energias renováveis e duplicar a eficiência energética. É inadiável promover a transição justa e planejada para o fim do uso de combustíveis fósseis e para zerar o desmatamento", disse.
"Faz parte desse desafio viabilizar os meios de implementação necessários, hoje estimados em 1.3 trilhão de dólares, partindo dos 300 bilhões já acordados na COP29 no Azerbaijão", afirmou.
"O Sul Global tem condições de liderar novo paradigma de desenvolvimento, sem repetir os erros do passado. Não seremos simples fornecedores de matérias-primas. Precisamos acessar e desenvolver tecnologias que permitam participar de todas as etapas das cadeias de valor", disse.
Lula afirmou ainda que 80% das emissões de carbono são produzidas por menos de 60 empresas, e que a maioria delas atua nos setores de petróleo, gás e cimento.
"Os incentivos dados pelo mercado vão na contramão da sustentabilidade. Em 2024, os 65 maiores bancos do mundo se comprometeram a conceder 869 bilhões de dólares para o setor de combustíveis fósseis", disse.
Na declaração, Lula não mencionou a ameaça do presidente dos EUA, Donald Trump, de taxar os países do Brics em 10% adicionais, feita na noite de domingo, 6, após o bloco criticar as taxas americanas em sua declaração.
As reuniões de trabalho foram retomadas na manhã desta segunda com um debate sobre Meio Ambiente, COP30 e Saúde Global.
O evento será encerrado depois desta sessão. Há a expectativa de que o presidente Lula dê uma entrevista coletiva no começo da tarde.
Na segunda, também é realizado um fórum empresarial entre Brasil e Índia, organizado pela ApexBrasil e pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Lula e o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, deverão comparecer ao encerramento do evento, na parte da tarde.
A reunião de cúpula do Brics começou no domingo, 5. O dia teve duas sessões de debate, sobre temas como reforma de instituições globais, defesa do multilateralismo e regulação da inteligência artificial.
Foram divulgadas duas declarações, que são documentos que reúnem o posicionamento dos países sobre diversos temas. O comunicado principal tem 126 itens e traz críticas ao avanço das tarifas comerciais, uma condenação pelos ataques feitos ao Irã e uma defesa de um Estado para os palestinos entre vários outros temas. Veja a íntegra aqui.