Agência de notícias
Publicado em 18 de setembro de 2025 às 09h58.
O Banco Central da Argentina realizou nesta quarta-feira sua primeira intervenção desde abril, vendendo US$ 53 milhões para conter a valorização do dólar frente ao peso. A medida ocorre em meio à crescente perda de popularidade do presidente Javier Milei, que enfrenta turbulências políticas e econômicas.
A intervenção aconteceu mesmo após a autoridade monetária negar que o teto da banda cambial tivesse sido rompido, contestando reportagem da Bloomberg. O BC argentino explicou que, por regra, a cotação oficial é arredondada para duas casas decimais, o que fez com que o limite de 1.474,345 por dólar fosse ajustado para 1.474,50 pesos por dólar — exatamente o valor registrado na quarta-feira.
O regime cambial em vigor foi criado após Milei fechar um pacote de US$ 20 bilhões com o FMI em abril. Nesse arranjo, o peso pode flutuar dentro de uma banda cambial, que se expande 1% ao mês em cada direção. Caso o câmbio ultrapasse o teto ou o piso, o Banco Central tem autorização para intervir.
Até então, o governo vinha usando outros instrumentos para segurar o câmbio, como operações no mercado futuro e aumento de depósitos compulsórios dos bancos. No entanto, o dado oficial de reservas mostrou que, na prática, houve intervenção nesta quarta-feira.
O episódio acende alerta sobre a capacidade da Argentina de preservar suas reservas internacionais e cumprir os compromissos com o FMI. Fontes ouvidas pela Bloomberg relataram preocupação de que os recursos do pacote acabem sendo usados para defender o peso em vez de financiar ajustes estruturais.
A crise cambial ocorre a poucas semanas das eleições parlamentares de 26 de outubro, quando Milei tenta reforçar sua base no Congresso para aprovar reformas. Analistas do mercado acreditam que novas intervenções devem acontecer.
"A esta altura, eles precisam avançar e há munição para defender a banda em uma primeira fase", disse Alejandro Cuadrado, estrategista do BBVA em Nova York.
Paula Gandara, diretora da Adcap Asset Management, prevê que a moeda continuará no teto da banda até o pleito. Já Thierry Larose, gestor da Vontobel Asset Management, alerta para os riscos de “queimar reservas em uma batalha perdida” e defende acelerar a flexibilização da banda.
As perdas do peso chegam em um momento delicado. O mercado já avalia de forma negativa o cenário político após Milei sofrer uma derrota eleitoral na província de Buenos Aires neste mês.
Na quarta-feira, a Câmara dos Deputados rejeitou vetos presidenciais a leis que aumentam gastos com saúde e universidades, impondo outra derrota ao governo.
Além disso, novos dados oficiais mostraram contração da economia no segundo trimestre, frustrando expectativas de crescimento, enquanto pesquisas recentes apontam que a taxa de desaprovação de Milei atingiu um novo nível recorde em setembro.