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Milei nomeia por decreto juízes para a Suprema Corte e gera crise institucional na Argentina

Constituição argentina estabelece que os membros do Supremo Tribunal são nomeados pelo Presidente do Executivo, mas com a aprovação do Senado

Nomeações feitas por Milei são temporárias (AFP)

Nomeações feitas por Milei são temporárias (AFP)

Publicado em 27 de fevereiro de 2025 às 18h15.

Última atualização em 27 de fevereiro de 2025 às 18h40.

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O presidente da Argentina, Javier Milei, provocou uma nova crise política e institucional ao nomear, por meio de um decreto, dois juízes para a Suprema Corte do país. A decisão, tomada na terça, 25, durante o recesso do Congresso, gerou indignação e repercussão negativa, inclusive entre aliados do próprio governo.

De acordo com a Constituição argentina, as nomeações para a Suprema Corte devem ser aprovadas pelo Senado, processo que até o momento não foi realizado. As escolhas de Milei para os cargos de juiz são o federal Ariel Lijo e o advogado Manuel García-Mansilla, cujos nomes já haviam sido propostos pelo presidente em 2024, mas ainda não haviam sido debatidos no Senado.

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A medida foi criticada por diversos setores da política nacional. O ex-presidente Mauricio Macri, aliado de Milei, também se posicionou contra o decreto, apontando os riscos de um enfraquecimento da autonomia judicial. A ação de Milei acontece em meio ao escândalo envolvendo a criptomoeda $Libra, que já abalava a confiança de seu governo.

A nomeação temporária dos juízes, feita "em comissão", durará até o final do ano, quando o Senado poderá ratificar ou não os indicados.

A vice-presidente argentina, Victoria Villarruel, que preside o Senado, tem se mostrado uma figura central no impasse. Ela e o presidente mantêm divergências ideológicas, o que contribui para o impasse sobre as nomeações. O governo, no entanto, justificou a decisão alegando que o Senado "optou pelo silêncio" em relação à proposta presidencial.

Em seu decreto, o governo de Milei acusou a Câmara Alta de descumprir o processo legal, criticando a postura dos senadores como motivada por interesses políticos. A Constituição permite nomeações interinas durante o recesso, mas os críticos argumentam que a decisão foi uma manobra para garantir aliados no tribunal superior.

Detalhes das nomeações

O nome de Ariel Lijo, um juiz federal com passagens controversas, é alvo de críticas devido ao histórico de processos de corrupção que não avançaram sob sua supervisão. Lijo é acusado de omitir investigações sobre casos envolvendo políticos de alto escalão, o que o tornou uma figura impopular entre opositores. A ONG Associação Civil pela Igualdade e a Justiça (ACIJ) revelou que processos de corrupção sob sua responsabilidade estão paralisados há mais de uma década.

A situação chegou até a Suprema Corte, que agora analisará a legalidade do decreto de Milei, além de uma solicitação do próprio Lijo para se afastar de seu cargo como juiz federal. O governo argentino pressiona para que a confirmação das nomeações seja feita o mais rápido possível, antes da reabertura oficial do Congresso no próximo sábado.

A organização Human Rights Watch (HRW) classificou a ação do presidente como “um dos ataques mais graves contra a independência da Suprema Corte desde o retorno da democracia”. Juanita Goebertus, diretora para as Américas da ONG, destacou que o presidente não pode subverter os mecanismos institucionais apenas por não conseguir os votos necessários no Senado.

As nomeações feitas por Milei são temporárias e os juízes terão mandatos limitados até o final da próxima sessão legislativa, em 30 de novembro. Após esse período, Lijo e García-Mansilla precisarão da aprovação do Senado para permanecer no cargo.

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