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Motor taxado, freios não: tarifas de Trump sobre autopeças vão criar 'pesadelo' regulatório

Medidas preveem taxas diferentes para cada parte do veículo, de acordo com sua origem

Carros importados em loja de Colma, Califórnia (Justin Sullivan/AFP)

Carros importados em loja de Colma, Califórnia (Justin Sullivan/AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 27 de março de 2025 às 11h54.

Última atualização em 27 de março de 2025 às 14h11.

O presidente Donald Trump pretende taxar não apenas carros importados pelos Estados Unidos, mas também autopeças. No entanto, algumas delas serão taxadas e outras não, o que gerará um cenário confuso para a fiscalização e para o planejamento das empresas, acostumadas a montar veículos com partes vindas de muitas partes do mundo.

A proclamação assinada por Trump na quarta-feira, 26, que muda as regras de tarifação do país, determina que sejam taxados os motores, transmissões, powertrains (cadeia cinemática, que transmite a força do motor para as rodas) e componentes elétricos. Já outras partes ficariam de fora das taxas inicialmente, mas o decreto diz que mais peças poderão ser alvo de cobranças extras no futuro.

Para complicar, carros que venham do México e do Canadá poderão ter desconto nas tarifas caso usem peças feitas nos EUA e que estejam contempladas pelo acordo USMCA. Assim, os fiscais de fronteira terão de aferir a origem de cada peça, para aplicar as taxas de forma adequada.

Enquanto o Departamento de Comércio e o CBP (órgão de controle de fronteiras) não criarem um sistema para fiscalizar isso de forma adequada, os carros feitos nos EUA com peças vindas do Canadá e México não serão taxados.

A fabricação de um carro pode envolver mais de 30.000 peças diferentes, vindas de muitos países. Para cortar custos, nas últimas décadas, as montadoras se habituaram a importar suprimentos de muitos lugares diferentes. Com as medidas de Trump, esse modelo entra em risco.

As tarifas de Trump sobre automóveis importados entram em vigor em 3 de abril. As taxas sobre as autopeças ainda não tem data de início confirmada, mas deverão ser implantadas até o dia 3 de maio.

Quem importa carros para os EUA?

Em 2024, os EUA importaram US$ 474 bilhões em produtos automotivos, sendo US$ 220 bilhões em carros de passageiros, segundo a agência Reuters.

Os países que mais importam veículos para o mercado americano são México (22,8% do total), Japão (18,6%), Coreia do Sul, (17,3%), Canadá (12,9%) e Alemanha (11,7%).

O governo Trump reclama que outros países cobram tarifas sobre veículos americanos de forma desproporcional e cita com frequência a União Europeia, que taxa em 10% os carros americanos. Os EUA, por sua vez, cobram taxa de 2,5% sobre carros de passeio europeus.

No entanto, os EUA cobram 25% de taxa sobre picapes importados, um dos estilos favoritos dos consumidores americanos, o que ajuda a garantir o domínio deste segmento para marcas do país, como Ford e GM.

Um estudo do Departamento de Comércio, de 2019, no primeiro governo Trump, apontou que as importações de carros estrangeiros seriam "excessivas" e estariam enfraquecendo a capacidade das empresas americanas de produzir veículos e de inovar. Com isso, o país teria perdido capacidade de produzir veículos militares, o que colocaria em risco a segurança nacional.

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