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Nova premiê do Japão promete endurecer regras de imigração e pode afetar brasileiros

Comunidades estrangeiras no Japão, país que já é resistente contra imigração, temem ascensão da primeira premiê mulher na história do país

Sanae Takaichi, nova premiê do Japão (Jia Haocheng/AFP)

Sanae Takaichi, nova premiê do Japão (Jia Haocheng/AFP)

Publicado em 21 de outubro de 2025 às 17h35.

Sanae Takaichi, de 64 anos, presidente do partido liberal democrata LDP, se tornou a primeira mulher a ocupar o cargo de primeiro-ministro no Japão nessa terça-feira, dia 21.

De direita, ela citou a ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher (1925-2013) como inspiração. Sua campanha foi marcada por tópicos conservadores, como um aumento dos gastos com defesa e uma aproximação ao presidente americano Donald Trump. Assim, o combate à imigração e o controle da entrada de estrangeiros no país tiveram destaque em sua campanha.

Isso gerou medo e incerteza entre estrangeiros no país, incluindo a comunidade brasileira no Japão, que já ultrapassa 211 mil membros. Trata-se da quinta maior comunidade estrangeira do país e a maior entre as não asiáticas.

Em resposta, os brasileiros expressam suas preocupações. Juntamente com outras 1.159 organizações, o Movimento de Brasileiros Emigrados (MBE) publicou uma carta de emergência contra a xenofobia.

O engenheiro brasileiro Saka, por exemplo, relatou dificuldades para alugar moradia. “Só após cinco recusas, consegui uma casa. Se os japoneses não mudarem essa mentalidade etnocêntrica, o país não conseguirá avançar.”

Acusações infundadas

A nova premiê havia prometido, durante a sua campanha, a criação de um órgão especial para regulamentar com mais rigor a entrada de imigrantes no país.

Em entrevista ao jornal japonês Asahi Shimbun, em setembro, Takaichi disse que planejava criar um ‘centro de comando’ para reforçar as restrições.

Além disso, durante a sua campanha, Takaichi também fez acusações infundadas de mau comportamento de estrangeiros, especialmente no parque de Nara, onde, segundo ela, teriam agredido os sagrados cervos da região.

Assim, Takaichi busca projetar um discurso linha-dura contra estrangeiros, embora o país não tenha um número elevado de imigrantes irregulares.

O número atual — pouco mais de 70 000 — é muito inferior ao da Europa ou dos EUA. Cerca de 40 milhões de pessoas, incluindo turistas, entram no Japão todos os anos.

Avanço da direita

No momento, o Japão registra uma alta no número de estrangeiros (temporários ou permanentes) e uma onda de sentimento anti-imigratório, caracterizada pela rápida ascensão do partido de extrema-direita Sanseito, que conquistou 14 cadeiras no Congresso. Antes, ele tinha apenas uma. Com isso, a legenda chegou a 15.

Como a nova premiê tem base pequena no Congresso, ampliar o discurso contra imigrantes é uma forma de tentar manter o apoio do eleitorado conservador, avaliam especialistas ouvidos pela imprensa japonesa.

No entanto, o Japão depende da mão de obra estrangeira, pois possui uma grande população idosa. Além disso, o país lida há anos com um esfriamento da economia, e a restrição aos estrangeiros poderia trazer ainda mais problemas econômicos.

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