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Nova 'terceira via' da Argentina une governadores do interior contrários a Milei

País terá eleição legislativa em 26 de outubro, e pesquisas mostram cenário acirrado

Javier Milei, presidente da Argentina, durante almoço na Casa Branca (Kevin Dietsch/AFP)

Javier Milei, presidente da Argentina, durante almoço na Casa Branca (Kevin Dietsch/AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 15 de outubro de 2025 às 12h22.

O presidente Javier Milei foi eleito em 2023 na Argentina como uma nova opção fora da briga histórica entre peronistas, de esquerda, e antiperonistas, de direita. Dois anos depois, no entanto, Milei já faz parte do sistema político e vê uma nova terceira via surgir. Ela vem do interior do país.

O terceiro partido que ganha força na disputa eleitoral é o Províncias Unidas. Capitaneada por seis governadores, a legenda busca ser uma alternativa à polarização atual na Argentina, entre os partidos A Liberdade Avança (LLA), de Milei, e o peronista Força Pátria, de esquerda.

O grupo foi lançado no fim de julho e espera conquistar em torno de 20 cadeiras na Câmara, de um total de 237. Com isso, a nova legenda chegaria perto de 10% da Casa, com mais poder em um cenário que poderá ter uma disputa apertada de poder entre Milei e a oposição de esquerda.

A eleição, marcada para 26 de outubro, será fundamental para o futuro do governo Milei. Ele precisa garantir uma base mínima no Congresso para conseguir aprovar reformas e evitar a derrubada de seus decretos.

A pressão sobre Milei na eleição aumentou ainda mais nesta semana. Em visita à Casa Branca, ele ouviu do presidente Donald Trump que, caso ele vá mal na votação, poderá perder o apoio financeiro dos Estados Unidos. A promessa de ajuda do governo americano tem ajudado a Argentina a evitar uma crise cambial.

"Estamos aqui para te dar apoio para as próximas eleições. Se a Argentina vai bem, outros países a seguirão. Mas se não ganhar, não contará conosco. Se perder, não seremos generosos", disse Trump.

Quem integra a terceira via

Os governadores da plataforma Províncias Unidas são Claudio Vidal (Santa Cruz), Ignacio Torres (Chubut), Martín Llaryora (Córdoba), Maximiliano Pullaro (Santa Fe) e Carlos Sadir (Jujuy).

Eles querem lançar candidaturas em ao menos 16 províncias. Em oito delas, devem usar o nome Províncias Unidas. Em outras, haverá nomes locais. Em Buenos Aires, farão parceria com o partido Cidadãos Unidos. A região metropolitana de Buenos Aires concentra 44% dos eleitores do país.

O partido Províncias Unidas defende a criação de uma "alternativa federal robusta" para romper a polarização do país e tentar atrair os eleitores que não aprovam Milei, mas também não querem a volta ao poder do grupo ligado à ex-presidente Cristina Kirchner, hoje em prisão domiciliar.

"Eles não são um 'centrão' à brasileira, não é isso, mas é uma terceira via. Em um Congresso que parece que vai ser dividido e onde Milei necessita fazer reformas, eles vão ter um papel importante", diz o analista político Juan Carranza, da consultoria Aurora Macro Strategies.

"É uma mistura de peronistas e radicais que dizem não ao kirchnerismo e não a Milei. Eles vão ser atores relevantes se tiverem bons resultados em suas províncias. Veremos se poderão manter esta unidade. Por agora, o que os une é o rechaço a Milei", afirma.

Como estão as pesquisas na Argentina?

Uma pesquisa eleitoral divulgada pelo instituto Rubikon Intel e publicada pelo jornal Clarín nesta quarta-feira, 15, mostra uma disputa apertada, com o LLA, de Milei, somando 34,6% dos votos, ante 32,2% da Força Pátria. O Províncias Unidas vem em terceiro, com 5,7% dos votos. A pesquisa ouviu 1.235 pessoas entre os dias 11 e 12 de outubro.

A pesquisa perguntou ainda a opinião dos argentinos sobre o governo Milei. Dentre os entrevistados, 37,2% consideram sua gestão com positiva, e 47,4% como negativa. Além disso, para 35% dos entrevistados, o país está indo na direção correta, e 46,2% acham que a Argentina está no caminho errado.

As eleições legislativas na Argentina serão realizadas em 26 de outubro. Serão renovadas 127 das 257 cadeiras do Congresso e 24 dos 72 assentos do Senado.

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