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O quão próximo o Irã está de ter uma arma nuclear?

Conflito direto já deixou mais de 600 mortos no Irã e reacende alerta global sobre proliferação nuclear

Israel x Irã: confronto direto expõe disparidade nuclear entre potência consolidada e estado limiar (MENAHEM KAHANA / Colaborador/Getty Images)

Israel x Irã: confronto direto expõe disparidade nuclear entre potência consolidada e estado limiar (MENAHEM KAHANA / Colaborador/Getty Images)

Da Redação
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Redação Exame

Publicado em 21 de junho de 2025 às 14h22.

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Com avanços acelerados no enriquecimento de urânio e indícios de testes relacionados à arma nuclear, o Irã é hoje considerado um estado limiar nuclear. Isso significa que o governo iraniano possui material e infraestrutura suficientes para fabricar de cinco a nove bombas atômicas em até duas semanas, mas ainda não há confirmação de que tenha iniciado a montagem de armamentos, segundo estimativas do Iran Watch e do Institute for Science and International Security (ISIS), que monitoram o programa nuclear do país.

A capacidade técnica iraniana inclui estoques de urânio enriquecido a 60%, próxima dos 90% exigidos para uso militar, de acordo com a Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA, na sigla em inglês).  Segundo especialistas, a transformação desse material em grau bélico levaria de uma a duas semanas caso Teerã tomasse a decisão política necessária para avançar.

Mas o processo de weaponização — que envolve projetar, testar e integrar a ogiva a mísseis — continua sendo um gargalo técnico no país. A estimativa americana é de que o Irã levaria entre meses e dois anos para fabricar um dispositivo nuclear plenamente funcional. Já Israel acredita que o Irã pode estar apenas a semanas de concluir esse estágio.

A IAEA confirma a gravidade da situação. Relatórios recentes revelam que o Irã conduziu testes de implosão nuclear não declarados, cruciais para a construção de armas atômicas, aumentando as preocupações sobre possível violação dos acordos internacionais.

A situação entre Irã e Israel segue extremamente tensa. Israel tem realizado sucessivos bombardeios contra instalações nucleares e militares iranianas, incluindo o centro de pesquisa de Isfahan e depósitos de mísseis. Em resposta, o Irã lançou mísseis e drones contra centros urbanos israelenses, principalmente Tel Aviv. A maioria desses ataques, no entanto, foi interceptada pelos sistemas de defesa aérea de Israel.

Estima-se que, até o momento, entre 430 e 657 pessoas tenham morrido no Irã — incluindo civis e militares —, com milhares de feridos. Do lado israelense, ao menos 24 pessoas foram mortas e centenas ficaram feridas. As ofensivas israelenses têm como foco principal instalações estratégicas como Natanz, Isfahan e Fordow, numa tentativa de enfraquecer a capacidade nuclear iraniana, segundo o exército israelense.

As tentativas diplomáticas para conter a escalada fracassaram. Rodadas de negociações realizadas em Genebra, Nova York e Istambul não chegaram a nenhum acordo. O Irã afirma que não aceitará negociar enquanto estiver sob ataque. Já os Estados Unidos, que deslocaram ativos militares para a região, avaliam a possibilidade de intervenção direta. O presidente Trump estabeleceu um prazo de duas semanas para decidir se autoriza uma ação militar, incluindo um possível ataque à instalação de enriquecimento de Fordow.

No campo humanitário, a guerra tem causado impactos significativos. Milhões de israelenses têm buscado abrigo durante os alertas de ataque, enquanto o número de vítimas civis no Irã continua a crescer, preocupando organizações internacionais.

Israel mantém supremacia nuclear na região

Enquanto o Irã se aproxima do limiar atômico, Israel já é considerado uma potência nuclear consolidada, embora mantenha sua política de ambiguidade estratégica, sem confirmar oficialmente a posse de armamentos nucleares. Estimativas apontam que o país possui cerca de 90 ogivas nucleares operacionais, com material físsil suficiente para fabricar até 200, segundo o Arms Control Association e o Stockholm International Peace Research Institute (SIPRI).

Seu arsenal está respaldado por um tríplice sistema de lançamento: aeronaves F-15, F-16 e F-35 com capacidade de transporte nuclear; mísseis balísticos da série Jericho, com alcance estimado entre 4.000 e 6.500 km; e mísseis de cruzeiro lançados a partir de submarinos da classe Dolphin, que garantem segunda capacidade de ataque (second-strike).

Além de manter sua capacidade ofensiva, Israel também realiza a modernização de seus sistemas nucleares. Relatórios recentes apontam para a ampliação das instalações nucleares em Dimona e atualizações em sua infraestrutura de produção e armazenamento de ogivas, como parte de um programa contínuo de dissuasão regional .

Os líderes na corrida nuclear

As armas nucleares foram uma consequência direta dos avanços científicos no campo da física nuclear, especialmente após a descoberta da fissão nuclear em 1938, por Otto Hahn e Fritz Strassmann, que provaram que era possível dividir o núcleo do átomo, liberando enormes quantidades de energia. Esse conhecimento levou os Estados Unidos a criar o Projeto Manhattan, com o objetivo de desenvolver uma bomba antes que os nazistas tivessem a chance de fazê-lo.

A primeira bomba nuclear testada foi chamada de bomba de fissão nuclear, ou bomba atômica, e utilizava urânio ou plutônio como material físsil.

Com o tempo, as potências nucleares desenvolveram armas ainda mais poderosas, como as bombas de fusão nuclear ou bombas de hidrogênio, que utilizam a fusão de núcleos leves, como hidrogênio, liberando uma quantidade de energia muito maior do que as bombas de fissão. A Tsar Bomba, testada pela União Soviética em 1961, é a maior arma nuclear já detonada, com uma potência equivalente a 50 megatons de TNT, capaz de destruir uma área de até 2.000 quilômetros quadrados e causar danos em grande parte da atmosfera.

Outros tipos de armas nucleares incluem a bomba de nêutrons, que libera radiação intensa, matando pessoas devido à radiação, mas causando menos danos materiais, e a bomba suja, que combina explosivos convencionais com material radioativo, espalhando radiação sem uma explosão nuclear completa.

Em 2025, os Estados Unidos e a Rússia dominam a corrida nuclear, controlando juntos cerca de 88% do arsenal nuclear mundial.

O número de ogivas nucleares nos Estados Unidos e na Rússia, somado, representa a maior parte das capacidades nucleares globais. As ogivas nucleares são tipicamente mantidas em diferentes tipos de entrega, incluindo mísseis balísticos intercontinentais (ICBMs), mísseis de cruzeiro, e submarinos nucleares.

O processo de modernização em ambos os países continua com o desenvolvimento de sistemas mais avançados, como os mísseis hipersônicos e submarinos de nova geração. O investimento dessas duas superpotências em suas forças nucleares é um dos maiores gastos militares.

Como está o Brasil?

Embora o Brasil não possua armas nucleares, o país tem o domínio completo sobre o ciclo do combustível nuclear, o que lhe confere a capacidade técnica de desenvolver armas nucleares rapidamente, caso optasse por isso, segundo dados da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e do Programa de Submarinos de Propulsão Nuclear (PROSUB).

Com um orçamento de R$ 133,6 bilhões para o Ministério da Defesa, como está previsto no  Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA), o Brasil tem investido em modernização de sua infraestrutura de defesa convencional, incluindo submarinos, aeronaves de combate e sistemas de mísseis. O país continua a expandir e modernizar sua força militar para garantir sua soberania e segurança, com projetos de grande escala como o Prosub, que visa a construção de cinco submarinos, sendo um deles nuclear.

No entanto, o Brasil permanece firme em seu compromisso com a não proliferação nuclear e o desarmamento global. O país assinou o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) e, como parte de sua política externa, tem sido um defensor ativo de acordos internacionais que buscam reduzir o número de armas nucleares e prevenir sua disseminação. O Brasil também é um dos principais promotores da Zona Livre de Armas Nucleares da América Latina e do Caribe (Tratado de Tlatelolco), que proíbe a posse e o uso de armas nucleares na região. Além disso, o Brasil tem defendido a criação de um mundo sem armas nucleares, sendo um membro importante em fóruns internacionais que discutem o desarmamento nuclear, como a Organização das Nações Unidas (ONU) e o Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares (CTBT).

O desafio do controle nuclear

A verificação e o controle dos arsenais nucleares continuam sendo um dos maiores desafios para a segurança global. Embora a Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA) desempenhe um papel fundamental na supervisão das atividades nucleares de países não nucleares, a situação é bem diferente para as potências nucleares, como os Estados Unidos e a Rússia, que operam dentro de tratados bilaterais, como o New START Treaty. Este tratado visa limitar os arsenais nucleares dessas potências, mas sua aplicação se restringe apenas aos países signatários. A eficácia desses tratados, porém, depende da disposição das potências nucleares em permitir inspeções independentes e garantir a transparência necessária para assegurar o cumprimento dos acordos.

Apesar das limitações, a comunidade internacional tem buscado novas soluções para aumentar a confiança e o controle sobre os arsenais nucleares. Tecnologias emergentes, como sistemas de monitoramento remoto, estão sendo exploradas para melhorar a transparência e a capacidade de verificação, enquanto parcerias internacionais como a International Partnership for Nuclear Disarmament Verification (IPNDV) têm se esforçado para desenvolver métodos mais eficazes para garantir o desarmamento nuclear gradual.

O crescimento das armas nucleares táticas e o aumento da militarização complicam ainda mais os esforços de desarmamento. Essas armas, de menor rendimento, mas com capacidade destrutiva significativa, podem ser usadas em cenários mais limitados, o que aumenta o risco de escalada de conflitos e dificulta a redução dos arsenais nucleares existentes.

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