Palestinos fogem da cidade de Gaza em meio à incursão de Israel, em 16 de setembro (Eyad Baba/AFP)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 17 de setembro de 2025 às 11h41.
O Exército de Israel iniciou, na terça-feira, 16, uma grande ofensiva terrestre na Cidade de Gaza, em mais um capítulo de uma guerra que dura quase dois anos e ainda não tem perspectiva de terminar.
Israel invadiu a Faixa de Gaza em 7 de outubro de 2023, após o Hamas, grupo que controla Gaza, fazer um ataque a Israel, matar 1.219 pessoas e sequestrar 251.
Desde então, Israel fez centenas de bombardeios contra Gaza, onde vivem 2 milhões de pessoas. Quase metade delas vive na cidade de Gaza, a maior da região, e em sua área metropolitana, que já vinha sofrendo ataques pontuais há meses.
Quase 65.000 pessoas foram mortas em Gaza desde o início da guerra, segundo números do Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas. Os dados são questionados por Israel e seus aliados, mas considerados confiáveis pela ONU.
A invasão terrestre iniciada nesta terça gera temores de que o número de mortes deverá aumentar, dos dois lados. O governo de Israel diz que tem feito campanha para que os palestinos deixem a cidade, e diz que cerca de 350 mil pessoas já teriam partido. O número, no entanto, é menos da metade da população da cidade.
Rafael Rozenszajn, porta-voz do Exército de Israel, diz em entrevista à EXAME que a ação busca cumprir os objetivos iniciais da guerra: encontrar os reféns levados pelo Hamas e acabar com o poder do grupo de atacar Israel.
"Esta nova fase da guerra é uma incursão terrestre no principal reduto do Hamas, a cidade de Gaza", diz Rozenszajn.
"O Hamas utiliza os civis como escudos humanos e utiliza as instituições civis para esconder seus armamentos e lançar seus foguetes. O que estamos fazendo nesse momento é atingir as infraestruturas do Hamas que estão na cidade de Gaza. Vamos continuar agindo nesse último reduto do Hamas para que os objetivos da Gaza sejam alcançados", disse Rozenszajn.
O porta-voz diz que a ação de Israel só terminará quando os reféns ainda desaparecidos forem encontrados e quando o Hamas for derrotado por completo e não tiver mais capacidade de atacar Israel.
Dos 251 reféns levados em 7 de outubro de 2023, o governo israelense estima que 20 ainda estejam vivos e que 28 corpos estejam com o Hamas.
Antes da invasão à cidade de Gaza, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, visitou Israel, na segunda-feira, 15. Ele prometeu manter "apoio inabalável" aos israelenses.
"Acreditamos que há uma janela de tempo muito curta para chegar a um acordo [de cessar-fogo]. Não temos mais meses, mas provavelmente dias", disse Rubio a jornalistas. O secretário de Estado afirmou que a solução diplomática que inclui a desmilitarização do Hamas é a preferida pelos EUA, mas "às vezes, quando se trata de um grupo de selvagens (...), isso não é possível".
Protesto em Israel pede retorno de reféns levados pelo Hamas, em Jerusalém, em 16 de setembro (Ahmad Gharabli/AFP)
Também na terça-feira, a comissão de investigação da ONU publicou um relatório em que acusou Israel de cometer um "genocídio" em Gaza, responsabilizando o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, e outras autoridades israelenses.
O alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, disse às agências de notícias AFP e Reuters que "as evidências se acumulam" e que "cabe à Justiça decidir se é um genocídio ou não".
A comissão concluiu que, desde outubro de 2023, as autoridades e forças israelenses cometeram quatro dos cinco atos genocidas listados na Convenção sobre Genocídio de 1948. Estes incluem "matar membros do grupo, causar danos físicos ou mentais graves a membros do grupo, submeter deliberadamente o grupo a condições de vida calculadas para causar sua destruição física, total ou parcial, e impor medidas destinadas a impedir nascimentos dentro do grupo".
Durante o conflito, a grande maioria dos habitantes de Gaza teve que abandonar suas casas pelo menos uma vez e outros deslocamentos acontecem à medida que Israel intensifica sua ofensiva para tomar o controle da cidade de Gaza, onde a ONU declarou um cenário de fome.
O Hamas disse, em comunicado, que a ofensiva israelense é "uma limpeza étnica sistemática" dirigida contra o povo de Gaza.
Questionado sobre a acusação de genocídio, Rozenszajn afirmou que o Hamas distorce os dados, pois a conta das mortes desde o início do conflito inclui 25.000 terroristas e 20.000 civis. Assim, segundo ele, o conflito teria uma proporção baixa de mortes civis.
"A proporção seria de menos de um civil para cada terrorista eliminado na Faixa de Gaza. Cada civil que morre é uma tragédia, mas a quantidade de civis que morre na Faixa de Gaza é a menor do mundo em relação a outras guerras urbanas", afirma.
"Utilizamos armamentos cirúrgicos e inteligência precisa. Nós já fizemos mais de 150.000 ligações para os civis para alertá-los a sair das zonas de combate. Nós já lançamos mais de 9 milhões de panfletos. Fizemos zonas humanitárias, corredores humanitários e abortamos dezenas de ataques aéreos para evitar danos a civis", diz o porta-voz.
Rozenszajn diz que não há uma informação precisa de quantos seriam os integrantes do Hamas hoje, mesmo após cerca de 20.000 deles terem sido mortos.
"No começo da guerra, [o Hamas] tinha cerca de 30.000. Mas infelizmente o Hamas se utiliza da venda dos alimentos de ajuda humanitária que entram na faixa de Gaza para alistar mais terroristas", diz, em mais um sinal de que, para Israel, a guerra parece estar longe de um fim.