Donald Trump: mira aprovação de pacote fiscal para consolidar agenda do segundo mandato. (Anna Moneymaker/AFP)
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Publicado em 30 de junho de 2025 às 09h47.
O projeto republicano chamado de One Big Beautiful Bill, em debate nesta semana no Senado americano é um projeto orçamentário ambicioso defendido pelo presidente Donald Trump, que prevê uma série de investimentos de peso e de mudanças fiscais.
No sábado, o Senado aprovou que o projeto entrasse em debate. Agora, os senadores poderão propor mudanças e adendos. Trump quer que a votação ocorra até sexta-feira, 4 de julho, Dia da Independência dos EUA.
Após ser aprovado no Senado, o texto terá de voltar à Câmara e passar por nova votação. Se aprovado também nessa Casa, o projeto irá para a sanção de Trump.
Os republicanos possuem maioria no Senado e na Câmara, mas são margens pequenas, o que exige que o partido todo esteja unido para aprovar a proposta, bem como para evitar manobras da oposição que podem travar o andamento da medida.
Na campanha, Trump prometeu cortar impostos e reduzir o déficit americano, mas opositores do pacote avaliam que ele poderá aumentar a dívida pública, ao reduzir taxas e criar benefícios sem apontar novas fontes de receita. O custo total do pacote ainda não foi definido, e poderá sofrer alterações conforme medidas forem tiradas ou incluídas do projeto.
Um dos objetivos do projeto é reduzir impostos de diferentes formas. Entre as medidas, está o aumento do limite de dedução para impostos estaduais e locais (Salt), que passaria dos atuais US$ 10 mil para até US$ 40 mil no caso de famílas com renda de até US$ 500 mil, mas apenas até 2030. A elevação do limite Salt atende a pressão de republicanos eleitos em áreas urbanas democratas, onde o tema é visto como crucial para reduzir impostos locais elevados.
O texto também amplia deduções no imposto de renda para idosos que recebem benefícios do Social Security. A dedução pode chegar a US$ 6 mil. Outra promessa inclusa no pacote é a isenção de impostos sobre gorjetas e horas extras. No Senado, o benefício seria limitado gradualmente para quem tem renda acima de US$ 150 mil individualmente ou US$ 300 mil em renda familiar..
Em relação ao crédito tributário por filho, a Câmara aprovou elevação de US$ 2 mil para US$ 2,500, válida até 2028 e limitada a famílias com ambos os pais possuindo número de Previdência Social. Uma das propostas em debate no Senado defende um aumento menor, para US$ 2,200, mas de forma permanente e exigindo apenas um dos pais registrado, segundo a BBC.
Outro ponto seria permitir a dedução de juros sobre financiamento de veículos, mas apenas os que forem fabricados nos Estados Unidos.
Para compensar os cortes de impostos, o projeto prevê restrições rigorosas ao Medicaid, programa que oferece atendimento médico a idosos e pessoas de baixa renda. Entre as mudanças, estão a exigência de trabalho mínimo de 80 horas mensais para adultos sem filhos e sem deficiência e a obrigatoriedade de recadastramento a cada seis meses.
O Senado também quer reduzir gradualmente os impostos cobrados de prestadores de serviços de saúde, usados por estados para financiar sua parte no Medicaid, além de criar um fundo de US$ 25 bilhões para hospitais rurais.
Outro ponto polêmico envolve o programa de assistência alimentar Snap. A proposta aumenta a participação dos estados no financiamento e impõe exigências de trabalho para beneficiários aptos sem dependentes.
O projeto ainda prevê mudanças significativas nos créditos fiscais para energia limpa, eliminando benefícios criados durante o governo Biden. A versão do Senado propõe um encerramento gradual desses créditos, permitindo que empresas que iniciarem obras em 2025 ainda recebam parte do incentivo. Os créditos seriam reduzidos para 60% em 2026, 20% em 2027 e extintos em 2028.
Por fim, o projeto inclui aumento expressivo no teto da dívida federal, que poderia subir em até US$ 5 trilhões, permitindo ao governo pagar programas já aprovados pelo Congresso.
Tanto a Câmara quanto o Senado querem proibir créditos fiscais para empresas cujas cadeias de suprimentos tenham vínculos com países considerados ‘entidades estrangeiras de preocupação’, como a China.
Apesar da pressão de Trump, o texto enfrenta forte oposição de democratas e por parte dos próprios republicanos, o que deve dificultar sua aprovação definitiva.
O líder democrata Hakeem Jeffries classificou o projeto como ‘golpe fiscal imprudente, regressivo e repreensível’ e prometeu usá-lo contra os republicanos nas eleições do próximo ano.
Após deixar o governo americano, Elon Musk também fez críticas ao pacote de Trump, e o chamou de "abominação repugnante". O CEO da Tesla liderava o DOGE — departamento na Casa Branca responsável pelo corte de gastos do governo e de milhares de cargos federais.
Senadores conservadores apoiaram as críticas do bilionário. “O Senado precisa melhorar esse projeto”, escreveu Mike Lee. Já Rand Paul afirmou: “Tanto eu quanto Musk já vimos o desperdício gigantesco do governo. Mais US$ 5 trilhões de dívida é um erro enorme. Podemos e devemos fazer melhor.”