Robert Francis Prevost é eleito Papa Leão XIV e herda os desafios de uma Igreja dividida (Gabriel Buoys/AFP)
Repórter
Publicado em 8 de maio de 2025 às 14h37.
Última atualização em 8 de maio de 2025 às 16h56.
Robert Francis Prevost é o novo Papa Leão XIV. A decisão do conclave aconteceu nesta quinta-feira, 8. Prevost, de 69 anos, nasceu em Chicago e é considerado próximo a Francisco.
A Igreja Católica inicia uma nova etapa de sua história em meio a grandes tensões internas e profundas transformações globais. O Papa Leão XIV herdará uma instituição polarizada, marcada por disputas entre conservadores e progressistas, e precisará encontrar caminhos para a reunificação sem renunciar ao legado de abertura deixado por Francisco.
O cenário é de complexidade histórica: polarização interna, perda de fiéis nas regiões tradicionalmente católicas, denúncias de abuso que abalam a credibilidade da instituição e a necessidade de responder a crises globais — das guerras ao aquecimento do planeta. Especialistas ouvidos pela EXAME apontam os três principais desafios do novo Papa.
Um dos maiores desafios do Papa Leão XIV será sanar as divisões internas que se acirraram durante o pontificado de Francisco. A professora de Antropologia da Religião da Unicamp, Brenda Carranza, define a situação como uma polarização entre conservadores, ultraconservadores e progressistas — grupos que hoje disputam influência dentro do Vaticano.
“A pacificação só será possível com uma figura moderada, capaz de dialogar com todas as tendências internas do catolicismo”, afirma Carranza.
O novo Papa também terá de decidir se continuará as reformas institucionais promovidas por Francisco, como a abertura de espaços para mulheres em cargos administrativos do Vaticano.
Além disso, questões sensíveis como a modernização da cúria, o acolhimento às famílias homoafetivas e o enfrentamento transparente dos escândalos de abusos sexuais seguem no centro do debate.
“O Papa Francisco modernizou a estrutura da Igreja e enfrentou de frente os abusos”, afirma André Leonardo Chevitarese, professor de História da UFRJ. “Quem vier depois dele precisará mostrar firmeza semelhante.”
A pauta racial também deve ganhar peso. “Apontamos ao Papa Francisco o racismo estrutural que ainda persiste nas escolas católicas e nos espaços de decisão. O novo Papa terá de assumir esse compromisso com a inclusão de negros e pobres”, diz Frei David.
Embora parte da Igreja deseje um pontífice mais reservado, o papel do Papa como liderança moral em escala global exige engajamento diante de guerras, migrações, pobreza extrema e da crise climática.
“Não se espera um Papa silencioso. O sucessor de Francisco deve continuar sendo uma voz pela paz”, afirma Vinícius Vieira.
Brenda Carranza lembra que o Papa também é um chefe de Estado. “Neutralidade total é impossível. Silenciar já é um posicionamento político.”
Francisco deixou esse legado: uma Igreja engajada, que participou do debate ambiental com a encíclica Laudato Si’, e que agiu simbolicamente em momentos de tensão global — como ao reunir Donald Trump e Volodymyr Zelensky no Vaticano.
O desafio será manter a espiritualidade católica relevante sem se omitir diante das injustiças. Para o professor Paulo Raphael Andrade, o Papa não pode ser neutro — precisa ter clareza moral, ainda que sem partidarismos.
Carranza completa: “A Igreja não pode se calar diante de um mundo ferido. O novo Papa precisará unir compaixão, firmeza e visão global para continuar sendo uma voz ativa por justiça e esperança.”