Palestinos celebram notícia do acordo de paz, em Khan Yunis, na Faixa de Gaza, em 9 de outubro (Omar Al-Qattaa/AFP)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 10 de outubro de 2025 às 06h01.
Nesta semana, Hamas e Israel chegaram a um acordo para encerrar a guerra em Gaza, que dura dois anos. O negociador-chefe do Hamas, Khalil al-Hayya, disse nesta quinta-feira, 9, ter recebido garantias dos Estados Unidos de que "a guerra acabou", mas analistas apontam que há um caminho ainda incerto pela frente.
Os dois lados concordaram com a primeira fase do acordo, que prevê a libertação de reféns pelo Hamas e de prisioneiros palestinos por Israel e um recuo das forças israelenses, que vão reduzir sua presença de 85% para 50% do território de Gaza.
As próximas etapas, que ainda serão negociadas, tratarão de pontos mais sensíveis.
Uma análise do Centro para Estudos Internacionais e Estratégicos (CSIS), think tank baseado em Washington, aponta que há três pontos fundamentais para serem negociados. São eles:
O acordo de paz prevê estes tópicos, mas não detalha como eles serão atingidos.
"O acordo visa à 'desmilitarização de Gaza sob a supervisão de monitores independentes', mas é escasso em detalhes, sem indicações claras de cronogramas ou metas, muito menos de como exatamente o desarmamento será realizado", diz uma análise do CSIS, assinada pelos pesquisadores Mona Yacoubian e Will Todman.
O instituto dá como exemplo o objetivo de destruir a estrutura militar do Hamas. "Os túneis representam um desafio particularmente espinhoso. Altos funcionários da defesa israelense estimam que a rede de túneis do Hamas em Gaza tem de 560 a 640 quilômetros de extensão, chegando a 60 metros de profundidade", diz.
Há dúvidas ainda sobre como será um governo de transição depois que o Hamas deixar a região, como previsto no acordo. Este grupo seria formado por especialistas palestinos, com supervisão internacional.
"Não há clareza sobre os papéis de supervisão do ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair e do presidente Trump (como presidente do "Conselho da Paz"). A criação de uma Força Internacional de Estabilização de parceiros árabes e globais também enfrenta grandes obstáculos. A menos que haja uma adesão clara de elementos palestinos em campo (incluindo o Hamas, que se opõe à ideia), é difícil imaginar quaisquer forças árabes dispostas a se mobilizar", afirma o CSIS.
Outro ponto sensível é quem pagará pelo custo de reconstruir Gaza, estimada em mais de US$ 50 bilhões.
"Não há perspectiva de que os governos árabes contribuam para a reconstrução de Gaza se o Hamas puder retomar o poder e então atacar Israel, levando Israel a destruir tudo o que foi reconstruído", diz Thomas Warrick, ex-secretário assistente de contraterrorismo no governo dos EUA, em análise para o Atlantic Council.
Ao mesmo tempo, a proposta de criar um caminho para a criação de um Estado Palestino deve encontrar oposição entre as alas mais à direita do governo israelense, e também gerar dificuldades futuras.
"As partes estão entrando em um processo no qual elas têm pouca fé. Nenhum deles acredita nas intenções do outro lado e não pode ser convencido do contrário", diz o pesquisador Natan Sachs, em análise para o Middle East Institute.
Israelenses e palestinos vivem um confronto há décadas. Israel foi criado, no fim dos anos 1940, sobre terras que os palestinos ocupavam anteriormente, após a ONU propor a fundação de dois países na região, um para os judeus e outro para os palestinos.
No entanto, nenhum dos lados concordou com a divisão feita em 1947. Os palestinos tentaram invadir o território dado a Israel, mas foram expulsos, dando origem a um conflito que dura até hoje.
Nas décadas seguintes, Israel conquistou outras áreas e reduziu o espaço dos palestinos a dois blocos, um na Cisjordânia e outro na Faixa de Gaza.
A fase atual do confronto começou em 7 de outubro de 2023, quando o Hamas, grupo que controla Gaza, fez um ataque ao território israelense, que matou 1.219 pessoas e sequestrou 251. Em seguida, Israel invadiu Gaza para buscar os reféns e acabar com o poder de ataque do Hamas.
Mais de 66.000 pessoas foram mortas em Gaza desde o início da guerra, segundo números do Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas. Os dados são questionados por Israel e seus aliados, mas considerados confiáveis pela ONU.