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Para a Eurasia, países seguirão em compasso de espera diante das tarifas de Trump

Consultoria avalia que será difícil que os EUA deem isenções, pois medida facilitaria manobra para burlar novas taxas

Carros da Kia em loja de Colma, Califórnia (Justin Sullivan/AFP)

Carros da Kia em loja de Colma, Califórnia (Justin Sullivan/AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 27 de março de 2025 às 09h49.

Última atualização em 27 de março de 2025 às 10h27.

A consultoria Eurasia avalia que a maioria dos países atingidos pelas novas tarifas do presidente Donald Trump sobre carros importados deverão evitar medidas de retaliação imediatas e esperar ao menos até que as taxas entrem em vigor de fato, no dia 3 de abril, para então agir.

 

Na quarta, 26, Trump anunciou tarifas de 25% sobre todos os carros e picapes importados pelos EUA, que entram em vigor à meia-noite do dia 3. A medida também afetará algumas autopeças, que serão taxadas.

"A Eurasia Group prevê que muitos países vão segurar as ações até que as tarifas entrem em vigor em abril, clareando o cenário que envolve outras tarifas recíprocas e sobre produtos específicos", diz um relatório da consultoria.

 

A Eurasia avalia que as novas tarifas sobre os carros são menos negociáveis do que outras, porque, caso alguns países sejam isentos, haveria a possibilidade de burlar a regra por meio de triangulações. Um carro que teve a montagem iniciada na China poderia ser finalizado no México, por exemplo. "Isso prejudicaria os esforços para rejuvenescer o setor automotivo dos EUA", diz.

Em 2024, as vendas de carros novos leves nos EUA atingiram 16,1 milhões de unidades, com 61% produzidos internamente. As tarifas podem levar empresas estrangeiras a aumentar a produção baseada nos EUA para atender às necessidades do mercado, prevê a Eurasia.

Empresas como a Hyundai já estão expandindo sua pegada de fabricação nos EUA, com o presidente anunciando um investimento de US$ 21 bilhões nos EUA.

Entenda as novas tarifas de Trump sobre carros

Trump anunciou novas tarifas sobre importações de automóveis nesta quarta-feira, 26. Os veículos serão taxados em 25% adicionais. A medida deverá entrar em vigor em 3 de abril. O presidente assinou uma proclamação, que muda regras atuais de comércio do país, para colocar as novas tarifas em vigor.

 

A nova taxa valerá para carros de passeio e picapes prontas, assim como para algumas autopeças, como motores.

A cobrança sobre os carros entra em vigor no dia 3. Já a regra para as peças será implantada até 3 de maio e terá algumas exceções. Carros de marcas americanas fabricados no exterior também serão taxados.

O presidente disse esperar que a mudança ajude a aumentar o número de indústrias que produzem veículos dentro dos Estados Unidos. "Isso é muito excitante. Vai levar a um tremendo crescimento na indústria automotiva", disse a jornalistas ao anunciar a mudança, no Salão Oval.

Segundo dados da Casa Branca, quase metade dos veículos vendidos nos Estados Unidos, cerca de 8 milhões de unidades, são fabricados no exterior.

O presidente prometeu impor tarifas reciprocas sobre todos os países que cobram taxas de importação de produtos americanos, a partir de 2 de abril.

O setor automotivo americano tem sido ameaçado pelas tarifas anunciadas sobre importações do Canadá e do México, que foram adiadas. A produção de carros nos Estados Unidos depende de peças vindas dos países vizinhos, e a imposição de taxas aumentará o custo de produção de forma substancial.

 

Quem importa carros para os EUA

 

Em 2024, os EUA importaram US$ 474 bilhões em produtos automotivos, sendo US$ 220 bilhões em carros de passageiros, segundo a agência Reuters.

Os países que mais importam veículos para o mercado americano são México (22,8% do total), Japão (18,6%), Coreia do Sul (17,3%), Canadá (12,9%) e Alemanha (11,7%).

O governo Trump reclama que outros países cobram tarifas sobre veículos americanos de forma desproporcional e cita com frequência a União Europeia, que taxa em 10% os carros americanos. Os EUA, por sua vez, cobram taxa de 2,5% sobre carros de passeio europeus.

No entanto, os EUA cobram 25% de taxa sobre picapes importados, um dos estilos favoritos dos consumidores americanos, o que ajuda a garantir o domínio deste segmento para marcas do país, como Ford e GM.

Um estudo do Departamento de Comércio, de 2019, no primeiro governo Trump, apontou que as importações de carros estrangeiros seriam "excessivas" e estariam enfraquecendo a capacidade das empresas americanas de produzir veículos e de inovar. Com isso, o país teria perdido capacidade de produzir veículos militares, o que colocaria em risco a segurança nacional.

 

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