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Paraguai convoca embaixador do Brasil no país para explicar suposto monitoramento da Abin

Embaixador brasileiro teria explicado às autoridades do Paraguai que o episódio ocorreu na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro

Agência o Globo
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Publicado em 1 de abril de 2025 às 19h01.

Última atualização em 1 de abril de 2025 às 19h26.

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O chanceler paraguaio, Luis Ramírez Lezcano, anunciou, nesta terça-feira, 1º de abril, que convocou o embaixador do Brasil em Assunção, José Antônio Marcondes, para pedir explicações sobre o suposto monitoramento pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) a sistemas do governo paraguaio.

Em uma demonstração de que a notícia causou desconforto nas relações bilaterais, o governo do país vizinho também chamou de volta a Assunção, "para consulta", o embaixador do Paraguai em Brasília, Juan Ángel Delgadillo. A ideia é que o diplomata relate as informações que recebeu do governo brasileiro sobre a questão.

Segundo um interlocutor da área diplomática, a convocação de Marcondes pelo governo paraguaio é vista com naturalidade na diplomacia, diante do contexto. O embaixador brasileiro teria explicado às autoridades do Paraguai que o episódio ocorreu na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro, e não na atual.

Na segunda-feira, veio à tona a notícia de que Abin atuou para invadir os computadores de autoridades paraguaias, incluindo da Presidência e do Congresso do país, usando para isso o envio de e-mails que continham um programa espião. A ação foi narrada por um agente da própria agência em depoimento à Polícia Federal, como parte da investigação sobre uso indevido do aparato de inteligência federal.

No depoimento, o servidor afirmou que a Abin usou uma ferramenta chamada Cobalt Strike para desenvolver um aplicativo capaz de invadir os computadores do governo paraguaio. O objetivo do órgão era obter informações sobre a negociação envolvendo a venda da energia pela usina de Itaipu, que é dividida entre Brasil e Paraguai. As declarações do agente à PF foram reveladas pelo portal UOL e confirmada pelo O Globo.

Em um ponto do depoimento, o servidor afirmou que foram invadidos dispositivos ligados ao Congresso paraguaio, composto pela Câmara e pelo Senado, e à Presidência da República do país vizinho. Ao todo, ainda de acordo com o agente, foram capturados dados de cinco ou seis pessoas.

“Que entre os alvos foram: presidente do Paraguai, presidente do Senado e autoridades relacionadas diretamente a negociação e os valores a serem cobrados por megawatt”, disse o servidor aos investigadores.

O Itamaraty rebateu essa versão e, em nota, disse que a ação de inteligência que previa a invasão de computadores de autoridades do Paraguai havia sido autorizada em junho de 2022, no governo Bolsonaro, e suspensa em março de 2023, no início da gestão de Luiz Inácio Lula da Silva.

Negociação por Itaipu

A ação se deu em um momento em que os dois países discutiam o reajuste no valor pago pelo Brasil sobre a parte da energia produzida em Itaipu que é de responsabilidade paraguaia. O acordo entre os dois países prevê a compra do excedente não usado pelo Paraguai. O novo valor, abaixo do que que os vizinhos pediam, foi acordado em 2023.

O depoimento do agente faz parte do inquérito aberto após reportagem do Globo revelar o uso da ferramenta FirstMile, usada para monitorar ilegalmente adversários políticos do ex-presidente Jair Bolsonaro. A ação, segundo o agente, ocorreu com autorização do chefe da Abin no governo anterior, mas também obteve aval posterior do atual chefe da agência, Luiz Fernando Corrêa, que assumiu o cargo em 2023.

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