Sede do Departamento do Trabalho, em Washington, com foto do presidente Donald Trump na fachada (Andrew Caballero-Reynolds/AFP)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 5 de setembro de 2025 às 09h34.
Última atualização em 5 de setembro de 2025 às 10h10.
O desemprego nos EUA atingiu 4,3% em agosto, e a criação de novas vagas de trabalho no mês foi de 22 mil, mostram os dados do relatório Payroll, divulgado nesta sexta-feira, 5, pelo Escritório de Estatísticas do Trabalho (BLS).
O dado veio muito abaixo do esperado. Economistas ouvidos pelo Wall Street Journal esperavam a criação de 75 mil posições em agosto, ante 73 mil em julho.
Segundo o BLS, o principal ganho de vagas foi setor de cuidados de saúde, de 31.000, mas abaixo da média mensal nos últimos 12 meses, de 42.000. Ao mesmo tempo, houve redução dos postos de trabalho no governo federal, em mineração, extração de óleo e gás e indústria de manufatura.
A entidade também revisou os dados de junho e julho. Em junho, o indicador foi modificado de 14.000 vagas criadas para 13.000 posições negativas. Ou seja, um encolhimento do mercado. Em julho, houve uma mudança de 73.000 para 79.000 vagas criadas, uma alta de 6.000.
Com os novos dados, crescem as chances de um corte de juros pelo Fed (banco central americano) em setembro.
Os números são acompanhados com atenção pelo mercado, pois o Fed monitora a situação do mercado de trabalho para avaliar os próximos movimentos da taxa de juros americana, que tem impacto também nos juros no Brasil e no resto do mundo.
O aumento do desemprego e a queda na criação de vagas indica que a economia está desacelerando, e dá mais uma razão para o Fed começar a diminuir a taxa em sua próxima reunião, em 17 de setembro. A expectativa predominante do mercado nos últimos dias é que os juros, hoje na faixa de 4,25% a 4,50% ao ano, caiam para o patamar de 4% a 4,25%.
Em 22 de agosto, o presidente do Fed, Jerome Powell, disse em entrevista coletiva que um esfriamento no mercado de trabalho poderia estar a caminho, e que isso poderia levar a entidade a mudar sua política de juros. Isso levou o mercado a esperar uma redução já na reunião de setembro.
Ao mesmo tempo, Powell é alvo frequente de ataques de Trump. Nesta semana, o presidente anunciou a demissão da diretora do Fed Lisa Cook — e o caso foi parar na Justiça, ampliando as incertezas sobre uma intervenção direta do Executivo no Fed.
O Fed tem como meta trazer a inflação dos EUA para 2% ao ano, mas ela está acima deste patamar desde o começo de 2021. O indicador PCE, um dos que o Fed dá mais atenção, ficou em 2,6% em julho.
Os dados de agosto são os primeiros do Payroll a serem divulgados após Trump demitir Erika McEntarfer do cargo de chefe do BLS.
Os dados de julho, divulgados no começo de agosto, mostraram queda na criação de vagas. Além de o indicador de julho abaixo do patamar de 100 mil mensais, o BLS revisou os dados de maio e junho, para 14 mil e 19 mil, respectivamente, sendo que ambos estavam acima de 100 mil por mês na primeira versão.
Em seguida, Trump disse, em uma rede social, que os números teriam sido forjados para prejudicá-lo, sem apresentar provas. Após a demissão, ele indicou o economista conservador Erwin John Antoni para chefiar o BLS, mas a nomeação ainda aguarda confirmação no Senado.
Assim, há o temor de que os dados poderão sofrer algum tipo de inconsistência. O BLS disse que não mudou sua metodologia para esta edição. O escritório não pega dados de todas as empresas, mas busca informações com 120 mil companhias por mês, por telefone ou e-mail, para estimar a criação de empregos.
As revisões dos dados de meses anteriores ocorrem porque muitas empresas demoram a responder, segundo a entidade.