Mujica: ex-presidente uruguaio morreu nesta terça-feira, 13 (Roberto Serra/Iguana Press / Stringer/Getty Images)
Repórter
Publicado em 13 de maio de 2025 às 17h22.
Última atualização em 13 de maio de 2025 às 17h50.
Morreu nesta terça-feira, 13, o ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, aos 89 anos.
O líder político, conhecido por sua trajetória como guerrilheiro e por sua postura humilde enquanto presidente, foi uma figura central na luta contra a ditadura militar uruguaia e enfrentava um quadro severo de câncer no esôfago.
Mujica, que liderou o país entre 2010 e 2015, passou por anos de sofrimento durante seu período de encarceramento, quando foi submetido a condições extremas.
Durante os cerca de 12 a 13 anos em que José Mujica esteve preso, principalmente entre 1972 e 1985, ele sofreu condições extremamente duras e desumanas decorrentes da repressão da ditadura militar uruguaia.
O ex-presidente passou cerca de 11 anos em confinamento solitário, sendo mantido em celas estreitas, sem contato com outros prisioneiros e com severas restrições de comunicação e acesso a informações.
Durante esse período, ele foi privado de itens básicos como livros e jornais, além de ser afastado da luz solar.
Sua alimentação era extremamente precária, chegando a ter acesso muito limitado a comida e água, e em sua luta pela sobrevivência, chegou a ser forçado a comer sabão, papel higiênico, moscas e até beber sua própria urina.
Além das condições insalubres, Mujica sofreu intensas torturas físicas e psicológicas.
Ele foi espancado brutalmente a ponto de perder dentes, e as agressões constantes, acompanhadas de ameaças, provocaram sérios problemas de saúde, como alucinações, paranoia e delírios. Esses problemas levaram Mujica a ser internado como paciente psiquiátrico no Hospital Militar de Montevidéu.
Sua prisão começou de forma violenta, já que, na noite de sua captura, Mujica foi alvejado com seis tiros por policiais, quase morrendo. Ele sobreviveu graças ao atendimento médico, mas ainda ficou com balas alojadas em seu corpo.
Ele também foi mantido em condições insalubres, e dormia entre sujeira e ratos que frequentavam sua cela todas as noites.
O ex-presidente foi preso por sua atuação como um dos principais líderes do Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros (MLN-T), uma organização guerrilheira urbana que surgiu no Uruguai na década de 1960.
O grupo defendia a luta armada contra o governo, realizando sequestros de figuras políticas e empresariais, assaltos a bancos para financiar suas ações e redistribuição de recursos para os mais pobres.
Além disso, o MLN-T também realizava ataques a alvos estratégicos do Estado, visando enfraquecer o poder estatal e combater a repressão e a desigualdade social.
Mujica participou ativamente dessas operações de guerrilha, o que acabou resultando em sua prisão em 1972.
Sua captura aconteceu em um momento de crescente repressão por parte do governo uruguaio contra os Tupamaros, o que culminaria no golpe civil-militar de 1973.
Durante a ditadura, Mujica foi mantido como um dos “reféns” do regime, sendo constantemente ameaçado de execução caso o MLN retomasse suas ações armadas, aumentando ainda mais a pressão psicológica sobre ele.
Mujica foi preso sem julgamento, o que caracteriza uma detenção extrajudicial, ou seja, foi sequestrado militarmente sem qualquer direito à defesa.
A prisão de Mujica, no entanto, não o quebrou.
Mesmo com todas essas adversidades, ele encontrou forças para resistir.
Em diversos depoimentos ao longo dos anos, Mujica contou que não sabia exatamente como sobreviveu, mas atribuía sua resistência à capacidade de reflexão e à força mental que cultivou durante o longo período de isolamento.
Para ele, as adversidades que enfrentou na prisão foram mais importantes do que os períodos de bonança, ensinando-lhe lições valiosas sobre a vida, a luta e a justiça.
Durante esse período, Mujica desenvolveu uma profunda reflexão sobre a vida e a resistência, estudando ciências com os poucos livros permitidos e afirmando que a experiência o moldou para valorizar a vida acima de tudo.
Ele foi libertado em 1985, com o fim da ditadura e a anistia política que marcou a redemocratização do Uruguai.