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Pepe Mujica legalizou a maconha no Uruguai? Entenda quais são as regras no país

Na época, o país se colocou na vanguarda e foi o primeiro do mundo a aprovar uma legislação referente a liberação de maconha

André Martins
André Martins

Repórter de Brasil e Economia

Publicado em 13 de maio de 2025 às 17h51.

Última atualização em 13 de maio de 2025 às 17h58.

Um dos legados de José 'Pepe' Mujica, 40º presidente do Uruguai, foi defender e conseguir a aprovação do projeto que regulamentou o cultivo e venda de maconha no país.

Em 2013, o então presidente apresentou o projeto com o mote de combater o tráfico de drogas no pequeno país sul-americano. Mujica, que diz nunca ter consumido maconha, afirmava na época que o controle do setor pelo Estado poderia acabar com o mercado dos cartéis das drogas. 

A lei 19.172 permitiu que o Estado regulamentasse a importação, produção, distribuição e venda da cannabis no Uruguai. O projeto foi aprovado na Câmara dos Deputados por 96 votos a 50, e no Senado por 16 votos a 13, com resistência da oposição. Um decreto de Mujica, meses depois, regulamentou a lei.

Na época, o país se colocou na vanguarda e foi o primeiro do mundo a aprovar uma legislação referente a liberação de maconha.

As regras do país permitem três formas de acesso à maconha: a compra em farmácias autorizadas, o autocultivo e os clubes canábicos, que plantam a cannabis e dividem entre seus membros. Para comprar, participar de um clube ou cultivar maconha é necessário ser maior de idade, cidadão uruguaio e residente do país. 

A partir da lei que legalizou a maconha, tanto os clubes canábicos quanto o autocultivo se tornaram possíveis no país. A venda em farmácia só foi regulamentada em 2017, quando o IRCCA passou a credenciar as farmácias. 

Segundo dados atualizados do IRCCA, 42 farmácias estão registradas no país para venda da maconha, 481 clube de membros estão ativos e 11 mil pessoas registradas a cultivar em casa para consumo próprio, com licenças que têm validade de três anos. 

O número de cadastrados para a compra em farmácias é de 77 mil. Dados de 2023, mostram que 10 toneladas da droga foram compradas de forma regular. 

Como é a atuação do governo do Uruguai no mercado de maconha?

No modelo uruguaio, a Junta Nacional de Drogas, órgão criado em 1988, tem responsabilidade pelas decisões que moldam a política nacional de cannabis. O Instituto de Regulação e Controle da Cannabis (IRCCA) é instituto criado com a legalização para exercer as funções de regulador do mercado e de assessor técnico do governo para a implementação da política nacional. 

O instituto é o responsável por emitir todas as licenças para produção, pesquisa e comercialização de cannabis no país e também registra os usuários de cannabis para a compra em farmácias, autocultivo e participação em clubes canábicos.

O Estado uruguaio é o principal interditador da comercialização, ao comprar dos produtores e vender para esses estabelecimentos, por meio do IRCCA que controla diretamente o mercado, inclusive tabelando os preços.

As concentrações de THC, substância psicotrópica da maconha, também são fiscalizadas, e apenas quatro tipos de cannabis podem ser cultivados e vendidos: a alfa, a beta, com concentrações menores, a gamma, um pouco mais concentrada, e a Epsilon, uma nova variedade. 

Consumo de maconha aumentou entre os jovens no Uruguai?

Uma pesquisa do Observatório Uruguaio de Drogas, divulgada em 2022, mostrou que o nível de uso de maconha por adolescentes de 13 a 17 anos de escolas uruguaias não aumentou desde a aprovação da lei.

Segundo o levantamento, 19% dos entrevistados havia consumido maconha nos últimos 12 meses, e 11%, no último mês. Outro levantamento do mesmo observatório mostra que aumentou a idade média em que o consumo de maconha tem início, de 18,3 anos, em 2011, para 20,1 anos, em 2018.

Os dados do Uruguai mostrou também que a maconha legalizada não foi um grande golpe contra o narcotráfico, que teve lucro maiores no país com outras drogas como a cocaína. Em 2022, a quantidade de cocaína apreendida no país aumentou mais de 50%, chegando a cerca de 5 toneladas, segundo o site InsightCrimes, que reúne dados criminais da América Latina.

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