Conflito Camboja-Tailândia: Tensão histórica e disputa pelo templo Prasat Ta Muen Thom resultam em confrontos fatais na fronteira (Lillian SUWANRUMPHA / AFP)
Agência de notícias
Publicado em 25 de julho de 2025 às 08h32.
Camboja e Tailândia trocaram tiros na quinta-feira, 24, matando pelo menos 12 pessoas, após meses de tensão crescente na fronteira compartilhada entre os dois países do Sudeste Asiático.
As tensões já haviam alimentado uma crise política interna na Tailândia: em 1º de julho, o tribunal constitucional tailandês suspendeu a primeira-ministra Paetongtarn Shinawatra, após comentários que ela fez sobre a disputa territorial — um impasse que remonta a décadas.
O conflito, no entanto, abre espaço para movimentações diplomáticas da China, maior parceiro comercial tanto da Tailândia quanto do Camboja. Em um momento de distanciamento estratégico de governos do Sudeste Asiático em relação aos Estados Unidos, Pequim tem ampliado sua influência na região.
O Exército tailandês acusou o Camboja de lançar foguetes contra áreas civis em quatro províncias, o que teria levado o país a mobilizar caças F-16 para atacar alvos cambojanos.
Já autoridades cambojanas afirmaram que soldados tailandeses abriram fogo primeiro, nas imediações do templo Prasat Ta Muen Thom, reivindicado por ambos os países. Segundo o governo cambojano, a resposta só ocorreu cerca de 15 minutos após os primeiros disparos.
O Ministério da Saúde Pública da Tailândia informou que ao menos 11 civis tailandeses e um soldado morreram nos confrontos, além de 24 civis e sete militares feridos. Milhares de moradores fugiram da região. O Camboja não confirmou o número de vítimas até o momento.
Em junho, a Sra. Paetongtarn telefonou para Hun Sen, o líder de fato do Camboja, para discutir a escalada das tensões na fronteira. O Sr. Hun Sen mantém laços estreitos com seu pai, Thaksin Shinawatra, ex-primeiro-ministro da Tailândia e líder de uma poderosa dinastia política, além de um dos homens mais ricos do país.
O Sr. Hun Sen publicou uma gravação da ligação, na qual a Sra. Paetongtarn parecia menosprezar o poderoso exército tailandês e adotar um tom deferente. Ela chamou o Sr. Hun Sen de "tio" e disse que "providenciaria" qualquer coisa que ele quisesse.
Em resposta, milhares de manifestantes foram às ruas de Bangkok para expressar sua indignação. Embora a Sra. Paetongtarn tenha se desculpado, ela tem enfrentado pressão para renunciar menos de um ano após assumir o cargo.
No início de julho, um tribunal tailandês a suspendeu.
A propriedade de Prasat Ta Muen Thom, um antigo templo no lado tailandês da fronteira, é disputada pelos dois países. O Sr. Hun Sen afirmou em uma publicação nas redes sociais que um comandante militar tailandês havia "iniciado esta guerra" ao ordenar o fechamento do templo na quarta-feira e abrir fogo contra as tropas cambojanas no dia seguinte.
A Tailândia acusou o Camboja de iniciar o conflito.
O templo fica na região de Surin, na Tailândia, e os habitantes de lá falam khmer, além de tailandês — o que destaca a sobreposição cultural com o Camboja, onde o khmer é a língua oficial. A província é conhecida pelas ruínas do Império Khmer, que durou do século IX ao XV. Uma dessas ruínas é Prasat Ta Muen Thom.
Discussões sobre onde a fronteira deveria ficar e quem é o dono dos templos na região levaram a décadas de disputas que os tribunais internacionais não conseguiram resolver.
Em 1962, o Tribunal Internacional de Justiça concedeu ao Camboja a soberania sobre o Templo Preah Vihear, outro templo a cerca de 153 quilômetros de distância.
Em 2013, o tribunal, o principal órgão judicial das Nações Unidas, tentou esclarecer a decisão de 1962. Ele disse que o Camboja tinha soberania sobre a área imediata ao redor do templo, mas deixou sem solução quem controlava uma área disputada maior.
A China é o maior parceiro comercial dos dois países e investiu pesadamente em infraestrutura em cada um deles. Na Tailândia, está ajudando o governo a construir uma ferrovia para conectar Bangkok ao sudoeste da China. No Camboja, a China está construindo um enorme aeroporto e financiou a construção de prédios governamentais e da primeira via expressa do país.
Ao mesmo tempo, a influência americana na região tem sido questionada, já que os Estados Unidos ameaçaram impor tarifas altas sobre as importações da Tailândia e do Camboja.
Este mês, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, se encontrou com o vice-primeiro-ministro do Camboja e criticou as tarifas dos EUA como "uma tentativa de privar todas as partes de seus direitos legítimos ao desenvolvimento", de acordo com um comunicado do governo chinês.
O Sr. Wang também prometeu desempenhar um “papel construtivo” nas negociações entre o Camboja e a Tailândia em sua disputa de fronteira.
Na quinta-feira, um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China afirmou que o governo chinês estava "profundamente preocupado" com os conflitos. Ele afirmou que a Tailândia e o Camboja eram "vizinhos amigáveis" da China e acrescentou que Pequim vinha trabalhando para facilitar as negociações.
Os dois países têm enfrentado confrontos militares ocasionais e rivalidades nacionalistas há centenas de anos. As disputas de fronteira podem ser rastreadas até um mapa de 1907 criado durante o domínio colonial francês no Camboja. Os dois países interpretam o mapa de maneiras diferentes.
Os combates militares ocorrem intermitentemente desde 2008, mas a última vez que um grande confronto se tornou mortal foi em 2011.