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Por que Papa Francisco nunca voltou à Argentina após se tornar pontífice?

Embora tenha sido amplamente convidado, Francisco nunca visitou a Argentina como Papa; especialistas apontam questões políticas e pessoais como motivos

Embora tenha sido amplamente convidado, Papa Francisco nunca retornou à Argentina como Pontífice, gerando especulações e frustração entre os fiéis (Álvaro Villalobos/AFP Photo)

Embora tenha sido amplamente convidado, Papa Francisco nunca retornou à Argentina como Pontífice, gerando especulações e frustração entre os fiéis (Álvaro Villalobos/AFP Photo)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 24 de abril de 2025 às 10h03.

Última atualização em 24 de abril de 2025 às 10h05.

A ausência do Papa Francisco na Argentina após sua eleição em 2013 gerou muitas especulações entre os argentinos, especialmente após sua morte. A pergunta de "por que ele nunca voltou à sua terra natal?" tem sido uma constante nas discussões sobre sua figura. Apesar de inúmeras visitas a outros países, a Argentina ficou de fora de sua agenda, o que deixou muitos fiéis desapontados, incluindo aqueles próximos a ele durante sua vida pregressa.

Motivos políticos e a polarização argentina

Uma das razões apontadas para a não visita de Francisco à Argentina é a complexa situação política do país. O Papa temia que sua presença fosse politizada, algo que poderia ser usado por presidentes para se promover politicamente, como foi sugerido por alguns de seus conhecidos.

"Ele não queria que nenhum presidente se envolvesse com sua imagem, dizendo 'fui eu quem trouxe o Papa'", comentou Sebastián Morales, que teve uma relação próxima com o Pontífice. Durante seu papado, Francisco entrou em confronto com presidentes como Cristina Kirchner, Mauricio Macri e Alberto Fernández, além de críticas públicas ao governo de Javier Milei.

A relação tensa com a política argentina

Quando Francisco era arcebispo de Buenos Aires, ele teve divergências com a ex-presidente Cristina Kirchner, especialmente sobre temas como o casamento gay, embora os dois tenham se reconciliado depois.

No entanto, Francisco sempre foi muito cauteloso em relação a se envolver com qualquer política partidária. Sua postura foi vista como uma forma de evitar ser instrumentalizado para fins eleitorais. Além disso, ele desaprovava políticas de direita, como as do ex-presidente Macri, e também se opôs à legalização do aborto no governo de Alberto Fernández.

Francisco e a polarização argentina

A polarização política crescente na Argentina também influenciou a decisão de Francisco de não voltar. A sociedade argentina tornou-se cada vez mais dividida, e o Papa sentia que qualquer gesto seu poderia ser interpretado de forma distorcida. Roberto Carlés, advogado próximo ao Papa, afirmou que Francisco "sofreu muito com isso", pois sua imagem estava sendo manipulada por diferentes grupos políticos, quando suas ações sempre tiveram um objetivo mais universal.

Falta de visitas, mas não de afeto

Apesar de sua ausência, muitos argentinos sentiram que Francisco sempre esteve com o país. O padre Patricio Ossoinak, sacerdote auxiliar da Basílica de San José, disse que "ele não pôde vir pessoalmente, mas sempre esteve conosco, e sabemos que sempre estivemos em seu coração". No entanto, para muitos, sua ausência foi uma grande frustração. "Me dói que ele tenha ido a tantos países próximos, mas não aqui", afirmou Elida Galli, uma argentina de 85 anos.

O desejo de Francisco de retornar à Argentina

Embora tenha evitado voltar como Pontífice, Francisco nunca negou o desejo de retornar à Argentina. Ele explicou que uma visita ao país estava inicialmente planejada para 2017, mas foi adiada por conflitos de agenda. Em entrevistas mais recentes, Francisco expressou publicamente interesse em visitar a Argentina, mas seus receios sobre a politização de sua presença continuaram sendo um obstáculo. "Não há uma recusa em ir. Não, de forma alguma. A viagem foi planejada, estou aberto à oportunidade", disse ele em uma entrevista ao site argentino Infobae em 2023.

Percepções da população argentina

A ausência do Papa Francisco na Argentina gerou diferentes reações entre os fiéis. Alguns, como Mónica Andrada, consideraram doloroso que o Papa não tivesse atendido ao desejo de tantos que queriam recebê-lo em sua terra natal. Outros, como Rocío Sánchez, uma jovem estudante de arquitetura, entenderam que Francisco, apesar de ser argentino, não era "o papa da Argentina", mas "o papa do mundo".

Conclusão: A decisão de Francisco

A decisão de Francisco de não visitar a Argentina como Papa foi complexa e envolveu tanto questões pessoais quanto políticas. A polarização política do país, suas relações com presidentes e a preocupação com a politização de sua imagem foram fatores que pesaram em sua escolha. Embora tenha expressado o desejo de retornar, as circunstâncias tornaram esse retorno impossível, gerando tristeza em muitos argentinos. Mesmo assim, sua figura continua sendo reverenciada por aqueles que o veem como um líder global, cujo papado transcendeu as fronteiras nacionais.

Matéria produzida pelo The New York Times e distribuída para a EXAME pela agência O Globo.

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