Vladimir Putin: presidente da Rússia voltou a afirmar que todo território ucraniano é propriedade russa. (Gavriil Grigorov / POOL/AFP)
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Publicado em 24 de junho de 2025 às 06h49.
Uma possível guerra entre a Rússia e países da Otan poderia provocar um choque econômico global comparável ao da invasão em larga escala da Ucrânia em 2022.
Foi o que estimou uma reportagem da Bloomberg, que avaliou possíveis impactos econômicos mundiais caso a Rússia decida iniciar o conflito. Segundo os dados coletados, o Produto Interno Bruto (PIB) global cairia 1,3% no primeiro ano da guerra, o equivalente a US$ 1,5 trilhão em perdas.
Apesar de improvável a curto prazo, a Rússia permanece investindo em mísseis, projéteis e drones em seu exército que, em breve, deve ultrapassar a artilharia da Ucrânia.
Mesmo sem a capacidade de lidar com duas frentes de guerra ao mesmo tempo, alguns generais e altos oficiais russos revelaram, publicamente, que suas ambições não se limitam ao país vizinho, enquanto o próprio Putin reivindicou ao menos toda a Ucrânia na semana passada.
“Considero russos e ucranianos como um só povo e, nesse sentido, toda a Ucrânia é nossa”, disse Putin no Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo. “Temos um ditado, ou parábola - onde quer que o soldado russo pise, é nosso.”
Os impactos mais imediatos de uma possível expansão do conflito a países do território da Otan viriam da destruição em zonas de guerra, corte no fornecimento de energia russa, liquidações nos mercados financeiros e aumento da incerteza.
Estônia, Letônia e Lituânia são apontadas como possíveis alvos iniciais de uma ofensiva, por sua posição estratégica e história ligada à União Soviética. Em caso de invasão, esses países poderiam sofrer uma perda de 43% em suas economias no primeiro ano. É o mesmo impacto que regiões da Ucrânia sob ocupação russa já enfrentaram, segundo a Bloomberg Economics.
Países como Finlândia, Suécia, Polônia e Alemanha também seriam afetados, com quedas significativas no PIB caso o conflito se estenda. A União Europeia, mesmo com estímulos via aumento de gastos militares, registraria uma contração de 1,2%.
Um conflito dessa magnitude, segundo estimativas da reportagem da Bloomberg, traria consequências rápidas: fechamento de portos, interrupção do comércio no Mar Báltico e colapso nos mercados europeus. Além dos ataques convencionais, analistas consideram provável o uso de operações híbridas, como sabotagem de cabos submarinos e infraestrutura energética.
A produção russa de munição já ultrapassa a da Otan em quatro vezes, de acordo com o secretário-geral da aliança, Mark Rutte. Isso aumenta o risco de Moscou tentar uma ação militar antes que o Ocidente consiga reforçar sua capacidade de resposta.
O Reino Unido teria uma perda estimada de 0,2% no PIB, enquanto os Estados Unidos veriam uma queda de 0,7% também consequência da atual instabilidade financeira. Na China, os danos seriam de 0,8%, principalmente devido à alta dos preços de energia e condições de crédito mais rígidas.
A própria Rússia, mesmo em guerra, sofreria uma redução econômica de apenas 1% no primeiro ano, já que as sanções anteriores limitaram sua exposição ao mercado global e os gastos com defesa mantêm artificialmente seu crescimento.
A Bloomberg também simulou um cenário oposto: um acordo duradouro entre Rússia e Ucrânia, com apoio dos EUA, Europa e China. Nesse caso, a retomada de relações comerciais e a reintegração da Rússia ao mercado internacional elevariam o PIB europeu e russo em 0,5% e o mundial em 0,3%.
Apesar disso, autoridades europeias seguem céticas quanto a uma volta ao “business as usual” com Moscou. Mesmo com declarações públicas de Donald Trump sobre um possível cessar-fogo, Putin não deu sinais de disposição para negociar.
Independentemente do rumo do conflito, a Europa já iniciou uma reforma militar. Membros da Otan planejam elevar os gastos com defesa para 3,5% do PIB, com países da linha de frente - como os bálticos e a Polônia - já ultrapassando essa meta.
“Tudo isso cria um ambiente desconfortável”, afirmou o ex-chanceler lituano Gabrielius Landsbergis. “Essas situações podem escalar rapidamente para um conflito sério que talvez tenhamos negligenciado ou para o qual simplesmente não estejamos preparados.”