IN FLIGHT - OCTOBER 27: U.S. President Donald Trump, accompanied by U.S. Secretary of State Marco Rubio (R), takes a question from a reporter aboard Air Force One on October 27, 2025, in flight. Trump is in route to Japan after attending the Association of Southeast Asian Nations (ASEAN) summit in Malaysia, and will travel on to South Korea for the Asia-Pacific Economic Cooperation (APEC) forum. (Photo by Andrew Harnik/Getty Images) (Andrew Harnik/Getty Images)
Repórter
Publicado em 29 de outubro de 2025 às 06h01.
O presidente americano Donald Trump pousou em Kuala Lumpur, capital da Malásia, nesse domingo 26, o primeiro de seus destinos numa viagem pela Ásia repleta de negociações e diversos tipos de acordos.
A viagem durará cinco dias, e o presidente visitará, além da Malásia, o Japão, onde se encontrará com a recém-eleita premiê Sanae Takaichi, e a Coréia do Sul, que será palco de um antecipado encontro com o presidente chinês Xi Jinping.
Na sua primeira parada, a tempo para participar da cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), Trump fechou acordos comerciais com quatro países da região.
Com a Tailândia e a Malásia, os acordos foram centrados na aquisição de terras raras – matéria-prima fundamental para o setor de tecnologia e no qual a China exerce forte controle.
As terras raras são um dos principais pontos de discussão entre Pequim e Washington, com o alto controle chinês sobre a exportação do material fazendo com que muitos países busquem fontes alternativas.
Como parte do acordo, a Malásia, que tem grandes reservas naturais dos elementos de terra rara, concordou em não impor taxas sobre sua exportação aos EUA. Até então, o país do sudeste asiático adotava cautela com a forma de utilizar seus recursos no cenário internacional, pois também planeja desenvolver sua própria indústria.
Com a Tailândia, que ainda não possui reservas conhecidas de terras raras ricas o bastante para exploração comercial, o acordo gira em torno de troca de informações e cooperação, caso depósitos sejam encontrados.
O país atua no momento como centro de processamento e refinação dos materiais, que importa da Austrália, antes de reexportá-los para o mundo.
O acordo entre EUA e a Tailândia ainda é apenas um Memorando de entendimento (MOU), que ainda não é legalmente vinculante. Todavia, chegou a alarmar acadêmicos. Principal entre eles é o economista Somjai Phagaphasvivat, que teme retaliação da China.
Para o jornal tailandês Nation Thailand, ele afirmou que embora os EUA estejam diversificando seus acordos de terras raras, "o acordo com a Tailândia é atualmente apenas um memorando de entendimento.
"Mas acredito que, se novas reservas significativas forem descobertas, os EUA buscarão um contrato formal", afirmou. "Devemos ter cuidado com contratos vinculativos ou exclusivos, pois permitir que uma grande potência entre no país nesse formato será mais prejudicial para a Tailândia. Isso poderia até mesmo ser usado como um mecanismo para nos pressionar em relação às tarifas. Portanto, devemos considerar cuidadosamente e ponderar todas as propostas tendo como prioridade principal o interesse nacional."
Donald Trump com os líderes dos países da ASEAN, durante a cúpula do bloco neste domingo (Andrew Caballero-Reynolds/AFP)
Além de acordos comerciais, Trump também negociou um acordo de cessar-fogo entre a Tailândia e o Camboja, que viveram períodos de violência em suas fronteiras contestadas. Ao longo do conflito, que se iniciou em 24 de julho desse ano, pelo menos 48 pessoas foram mortas e mais de 300.000 civis foram evacuados.
Na cúpula, a comissão americana e as dos países envolvidos trabalharam em conjunto para melhorar um acordo de cessar-fogo que havia sido assinado três meses antes, após 5 dias de conflito.
No acordo original, Trump alavancou seu poder comercial, e disse que não entraria em acordos comerciais com os países caso não se comprometessem com a paz. Com as novas medidas, a Tailândia concordou em retornar prisioneiros de guerra capturados ao Camboja e, até então, as armas e artilharia na fronteira continuam sem uso.
Por fim, a nação do Vietnã também fechou acordos com o presidente americano, que garante acesso privilegiado de exportação por ambas as partes aos seus mercados.
No geral, as tarifas sobre o Camboja, a Tailândia e a Malásia se manteriam em 19%, e para o Vietnã, 20%. Todavia, os acordos visam possíveis taxas zero em certos produtos, e uma boa relação comercial pode abrir portas para reduções futuras.
Durante a cúpula, a comissão americana teve a chance de entrar em conversas preliminares com seus equivalentes chineses, e conseguiram desenvolver uma estrutura para as aguardadas negociações com Xi Jinping, que ocorrerão na Coreia do Sul mais tarde essa semana.
Todavia, em resposta aos amplos acordos fechados com Donald Trump, a China também foi proativa, aproveitando a saída do republicano nsa segunda de manhã para melhorar acordos de livre comércio com o bloco da ASEAN, o maior parceiro comercial da China - um valioso escape às altas tarifas do presidente americano.
O país pressionou por mais abertura, comércio e cooperação econômica na região.
"Devemos defender com mais firmeza o regime de livre comércio, criar uma rede regional de livre comércio de alto padrão e promover de forma vigorosa e eficaz a integração regional", disse o primeiro-ministro da China Li Qiang.
O bloco e a China já possuem um acordo de livre comércio desde 2010, que passou por diversas iterações. "A atualização reduzirá ainda mais as barreiras comerciais, fortalecerá a conectividade da cadeia de abastecimento e abrirá oportunidades em áreas de crescimento futuro", disse o primeiro ministro de Singapura Lawrence Wong.
Todavia, em meio a boas promessas econômicas, a China também é alvo de forte crítica, principalmente por suas reivindicações territoriais no Mar do Sul da China, que muitas vezes envolve territórios contestados por outros países, o que pode levar a tensões diplomáticas.
O presidente das Filipinas Ferdinand Marcos Jr., condenou a conduta marítima chinesa, após diversos conflitos entre embarcações na região. A comissão chinesa disse que as escalações se deveram a provocações de Manila, capital das Filipinas.
"Inevitavelmente, haverá diferenças de opinião em relação ao Mar do Sul da China, mas todos concordamos que a paz, a estabilidade, a segurança e a liberdade de navegação e voo são fundamentais nesta importante via navegável", disse Li, para amenizar as tensões.
De qualquer forma, os acordos comerciais passaram, em parte por serem importante fuga das tarifas americanas. Durante a cúpula, o presidente Lula também teve a oportunidade de se encontrar com Trump, e ambos reportam bons resultados de suas negociações.
Na segunda, 27, Donald Trump pousou em Tóquio, no Japão, onde recebeu as boas-vindas do imperador japonês Naruhito.
Todavia, como a autoridade imperial no Japão é meramente simbólica, conversas comerciais e diplomáticas foram conduzidas com Sanae Takaichi, a nova premiê do país.
A primeira mulher a ocupar o cargo, a conservadora Takaichi foi pupila de Shinzo Abe, que era um amigo e parceiro de golfe de Trump. Trump e Takaichi se deram bem em seu primeiro encontro, com ambos trocando elogios e estabelecendo bons laços.
Para aprofundar ainda mais a amizade, Takaichi o presenteou com itens de golfe que pertenciam ao ex-premiê, como seu taco de golfe preservado em vidro, uma bolsa autografada pelo jogador Hideki Matsuyama, campeão nacional, e uma bola banhada a ouro. "De tudo que eu sei sobre Shinzo e os outros, você será uma grande primeira-ministra", disse Trump à Takaichi, antes de adicionar que ser a primeira mulher no cargo era "um grande acontecimento".
Takaichi afirmou que "gostaria de tornar realidade uma nova era de ouro da aliança entre Japão e Estados Unidos, na qual os dois países se tornem mais fortes e também mais prósperos".
Seus acordos comerciais giraram em torno de energia, inteligência artificial, e novamente as terras raras, commodity cujo 90% do estoque mundial está sendo controlado pela China.
No momento, o Japão se comprometeu a investir US$ 550 bilhões nos EUA em troca de tarifas mais leves, principalmente no seu setor automotivo. Somente com os novos acordos, empresas japonesas já visam investimentos de US$ 400 bilhões nos EUA.
De acordo com reportagem da Reuters, as companhias japonesas que podem ser futuros investidores incluem Mitsubishi Heavy Industries, SoftBank, Hitachi, Murata Manufacturing e Panasonic, entre outras.
A defesa nacional foi outro tema importante do encontro entre Trump e Takaichi. O republicano exige que os aliados dos Estados Unidos aumentem os gastos militares para que continuem sendo beneficiados pela proteção americana. O Japão é o país que abriga o maior número de tropas americanas no exterior, com cerca de 60.000 soldados americanos.
A premiê já havia prometido aumentar os custos com a defesa do país, e visa que até 2% do PIB seja focado para as atividades. Todavia, com seu partido sem maioria parlamentar, a premiê pode ter problemas para atender às demandas de Trump.
Os dois líderes também visitaram o carregador de aeronaves George Washington, ancorado na base naval de Yokosuka, perto de Tóquio, onde o presidente americano fez um longo discurso aos 6.000 soldados estacionados na embarcação.
O presidente americano sairá do Japão para a Coreia do sul nessa quarta-feira, 29, onde se encontrará com o presidente chinês Xi Jinping.
Em meio a uma intensa guerra tarifária, que ambos os líderes reconhecem não ser sustentável ao longo prazo, Trump e seu homólogo Xi Jinping se encontrarão na Coreia do Sul, para onde o republicano deve partir nessa quarta feira. Espera-se que eles se encontrem na quinta-feira, 30.
Observadores e analistas esperam que o antecipado encontro deve buscar elaborar uma trégua nos conflitos comerciais, com base em uma estrutura para negociações esboçada durante a conferência na Malásia.
A China e os EUA já haviam concordado em uma trégua tarifária, em agosto, onde Trump se comprometeu a não aumentar mais as tarifas para incentivar a China a comprar mais soja americana. O esboço para as negociações propõe menos pressão tarifária americana e menos controle chinês sobre as terras raras, de acordo com oficiais americanos.
O secretário da tesouraria americana Scott Bessent disse que as conversas eliminaram o risco de uma possível tarifa de 100% por parte de Trump, e que espera que a implementação do regime chinês de controle da terras raras possa ser adiada por um ano.
Todavia, as negociações americanas enfrentarão um obstáculo que pode moldar a postura chinesa: o plano dos 5 anos. Após quatro dias de reuniões, oficiais do governo da China recentemente terminaram de pautar o décimo quinto plano. Os planos, tradição desde 1953, são uma série de propostas socioeconômicas que o país visa desenvolver em um período de 5 anos.
O atual, que entra em vigor a partir de 2026, viu grande foco em tecnologia e autossuficiência – tópicos desenhados em parte para circunver os efeitos das tarifas americanas. Um dos principais temas do plano foi uma ênfase em autossuficiência tecnológica, onde a China deseja ser capaz de produzir chips e demais produtos do setor de tecnologia por si só.
A política vem, em parte, devido às fricções econômicas no setor de tecnologia com os EUA, que vendia chips e software para a China. O comércio desse setor sofre com as guerras tarifárias, e com o fato de a China estar controlando fortemente o acesso às terras raras, matéria prima essencial para a área da tecnologia. Isso faz com que nenhum dos lados queira providenciar o outro com seus produtos.
O comunicado oficial do plano de cinco anos diz: “aumentar significativamente a autossuficiência e força tecnológica... aproveitando oportunidades históricas para uma nova onda de revolução científica e tecnológica e transformação industrial.”
Além disso, também devido à forte queda nas exportações do país após as altas tarifas de Trump, o plano visa um foco grande no mercado doméstico e consumo interno.
O comunicado oficial reforça: “Aderir à fundação estratégica de expandir a demanda interna. O foco será usar a nova demanda (doméstica) para incentivar nova oferta (doméstica) e usar a nova oferta para gerar mais demanda. Esforços devem ser feitos para aumentar o consumo interno.”
Allan von Mehren, especialista em economia chinesa do banco dinamarquês Danske Bank, alerta ao revisar os itens do plano de 5 anos que a China se tornará “competição ainda mais acirrada” em setores como tecnologia e manufatura.
Suas medidas levariam ao protecionismo, o que tornaria “improvável que tensões comerciais desapareçam”. À medida que a China se torna mais autossuficiente, Donald Trump poderá enfrentar mais dificuldades para manobrar as pautas do plano chinês e chegar em acordos.