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Previsão de déficit de US$ 2,4 trilhões pode dificultar aprovação de plano orçamentário de Trump

Projeto, chamado pelo líder republicano de ‘grande e belo’, foi mais uma vez criticado pelo bilionário Elon Musk, que classificou a medida como uma ‘abominação repugnante’

Agência o Globo
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Publicado em 4 de junho de 2025 às 17h07.

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O amplo pacote de cortes de impostos e gastos aprovado pelos republicanos na Câmara dos Estados Unidos aumentaria o déficit do país em US$ 2,4 trilhões na próxima década, segundo análise do Escritório de Orçamento do Congresso (CBO, na sigla em inglês), uma agência apartidária, divulgada nesta quarta-feira.

A estimativa deve complicar a tarefa do líder da maioria no Senado, John Thune, de formular uma versão da legislação que consiga a aprovação da bancada, que está amplamente dividida.

Vários senadores republicanos já expressaram preocupação com o impacto potencial do projeto da Câmara sobre o déficit e querem cortes de gastos ainda mais profundos, ao mesmo tempo em que outros estão cautelosos em relação aos grandes cortes na rede de proteção social do país — especialmente o Medicaid — previstos no texto aprovado pela Câmara. Segundo o relatório do CBO, se aprovado, o pacote faria com que quase 11 milhões de pessoas a mais ficassem sem seguro em 2034.

“Esse seria o maior retrocesso no apoio federal à saúde de todos os tempos”, escreveu Larry Levitt, vice-presidente executivo de políticas de saúde da organização apartidária KFF, no X.

A análise também reforça os ataques do bilionário Elon Musk ao projeto. Na terça-feira, ele escreveu no X que o pacote levaria os Estados Unidos à falência. A declaração foi feita após a divulgação de uma entrevista concedida por ele ao programa CBS News, na qual o CEO da Tesla afirmou que o projeto aumentaria o déficit e prejudicaria o trabalho do inédito Departamento de Eficiência Governamental (Doge). Ele também disse estar “decepcionado” com a iniciativa, que “aumenta o déficit orçamentário, em vez de reduzi-lo”.

“Sinto muito, mas simplesmente não aguento mais. Esse projeto de gastos do Congresso, gigantesco, ultrajante e cheio de privilégios, é uma abominação repugnante”, postou Musk no X. Ele, que recentemente se afastou de seu cargo no governo federal, acrescentou: “O Congresso está levando os EUA à falência”.

‘Consequências catastróficas’

Os republicanos da Câmara aprovaram o projeto por margem estreita no mês passado, e agora ele enfrenta oposição no Senado, onde diversos legisladores expressaram demandas diferentes por mudanças.

Trump — que fez da legislação uma de suas principais prioridades, chamando a proposta de seu “grande e belo projeto de lei” — deve se reunir com os senadores republicanos da Comissão de Finanças nesta quarta-feira para discutir o projeto. Quaisquer mudanças feitas no Senado deverão ser aprovadas também na Câmara.

Autoridades da administração Trump têm buscado desqualificar as projeções do CBO, classificando-as como imprecisas e alegando que elas não consideram o impacto positivo sobre o crescimento econômico que os cortes de impostos, juntamente com o aumento de tarifas e a desregulamentação, proporcionarão. Trump e sua equipe econômica também argumentam que os EUA arrecadarão centenas de bilhões de dólares por ano com os novos e mais altos níveis tarifários.

— Não estou preocupado com a dinâmica da dívida dos EUA porque um PIB em expansão aliviará o fardo — disse o secretário do Tesouro, Scott Bessent, no mês passado, prevendo um crescimento “acima de 3%” até esta época do próximo ano.

No entanto, ainda há muita incerteza em torno das tarifas, já que a administração Trump continua a negociar com parceiros comerciais e pode fazer alterações. O diretor do CBO, Phillip Swagel, também alertou que “como os Estados Unidos não implementam aumentos tarifários dessa magnitude há muitas décadas, há poucas evidências empíricas relevantes sobre seus efeitos”. O CBO afirmou que uma análise levando em conta os efeitos econômicos da legislação será divulgada em breve.

A análise do CBO se baseia na abordagem padrão da legislação vigente. Até agora, o relatório deu munição às críticas de democratas e de grupos de vigilância orçamentária, que alegam que o pacote, destinado a cumprir a agenda de Trump, pioraria a situação fiscal do país ao mesmo tempo em que oferece grandes cortes de impostos para os mais ricos. Conservadores fiscais também exigem que a medida faça mais para reduzir o déficit.

“É chocante que os republicanos da Câmara tenham corrido para votar esse projeto sem uma análise do CBO sobre os milhões de pessoas que perderiam o seguro de saúde ou os trilhões de dólares que ele adicionaria à dívida nacional”, disse o deputado Frank Pallone Jr., principal democrata do Comitê de Energia e Comércio da Câmara, em nota. “A verdade é que [eles] correram porque não queriam que o povo americano (...) soubessem de suas consequências catastróficas.”

O projeto incorpora grande parte da agenda econômica de Trump. Ele tornaria permanentes os cortes de impostos sobre a renda pessoal de 2017 e incluiria novos benefícios prometidos durante a campanha — como a eliminação de impostos sobre gorjetas e pagamento de horas extras até 2028. Também aumentaria o teto para a dedução federal de impostos estaduais e locais de US$ 10 mil para US$ 40 mil.

Para ajudar a compensar o custo do alívio fiscal, o projeto da Câmara impõe cortes históricos no Medicaid e no programa de vale-alimentação, dois dos principais programas de assistência social do país. O pacote estabeleceria exigências de trabalho para o Medicaid, que fornece seguro de saúde a americanos de baixa renda, e ampliaria os critérios de trabalho exigidos para o SNAP, o programa suplementar de assistência nutricional, publicou a CNN.

O projeto também aumentaria os gastos com defesa, segurança na fronteira e fiscalização da imigração — entre as prioridades de Trump. Análises independentes mostram que o alívio fiscal no projeto beneficiaria os lares de renda mais alta de maneira desproporcional, com impacto ainda mais acentuado se os cortes de gastos forem considerados. Os grupos de menor renda veriam seus rendimentos cair, após impostos e certos benefícios do governo serem levados em conta, enquanto os mais ricos teriam aumento na renda, segundo estimativa do Penn Wharton Budget Model sobre a versão final do projeto da Câmara.

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