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Primeiro-ministro francês, François Bayrou, é destituído após perder voto de confiança no Parlamento

Desde a antecipação das eleições legislativas de 2024, a França vive uma profunda instabilidade política, sem maiorias parlamentares estáveis, em um contexto de elevada dívida pública: quase 114% do PIB

Agência o Globo
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Publicado em 8 de setembro de 2025 às 14h47.

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Após três horas de discursos, o Parlamento da França votou, por 364 a 194, para derrubar o governo do premier François Bayrou, o segundo em nove meses, intensificando a crise política neste país crucial da União Europeia (UE), onde as atenções estão novamente voltadas para o presidente Emmanuel Macron. Bayrou terá agora que apresentar a renúncia do seu governo a Macron, que terá de nomear um substituto para o cargo, responsável por formar um governo.

Desde a antecipação das eleições legislativas de 2024, a França vive uma profunda instabilidade política, sem maiorias parlamentares estáveis e em um contexto de elevada dívida pública: quase 114% do PIB.

Bayrou, quem convocou o voto de confiança perante a Assembleia Nacional para obter apoio aos seus cortes orçamentários de quase 44 bilhões de euros (R$ 282 bilhões) visando restaurar as finanças públicas, começou justificando a decisão, dizendo que "queria" este "teste da verdade".

— O maior risco era não fazer um voto de confiança, deixar as coisas continuarem sem mudar nada... e continuar como sempre — defendeu Bayrou. — Senhoras e senhores, vocês têm o poder de derrubar o governo, mas não têm o poder de apagar a realidade. As despesas continuarão a aumentar ainda mais e o peso da dívida, já insuportável, ficará cada vez mais pesado e cada vez mais caro.

Segundo a AFP, Bayrou, o primeiro premier na História da França moderna a ser deposto por um voto de confiança em vez de um voto de desconfiança, apresentará sua renúncia na manhã de terça-feira, de acordo com uma pessoa próxima a ele que pediu para não ser identificada.

"Bayrou caiu. Vitória e alívio popular. Macron está agora na linha de frente, enfrentando o povo. Ele também deve sair ", declarou o líder do partido da esquerda radical França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, no X, poucos minutos após o resultado do voto de confiança.

No cargo desde dezembro, Bayrou é um velho conhecido da classe política francesa. Sua consagração nacional veio com a nomeação, em 1993, para o Ministério da Educação, durante a Presidência do socialista François Mitterrand.

Desde então, encadeou os mandatos de deputado, eurodeputado e prefeito. Em 2007, fundou o partido centrista Movimento Democrático (MoDem), do qual é líder desde então. Bayrou concorreu às eleições presidenciais em 2002, 2007 e 2012, sem sucesso.

O anúncio em julho de seu plano de cortes, que incluía a eliminação de dois feriados, reacendeu o descontentamento social na França. Na quarta-feira está prevista uma jornada de protestos com o lema: "Vamos bloquear tudo".

O dilema de Macron

A pressão agora recai novamente sobre Macron, que deve decidir se convoca novas eleições legislativas antecipadas ou se nomeia outro primeiro-ministro, após fracassar com o conservador Michel Barnier em 2024 e com Bayrou agora.

Os dois cenários não estão isentos de riscos. Mathieu Gallard, do instituto de pesquisa Ipsos, afirma que a crise pode continuar mesmo com a convocação de novas eleições legislativas.

— Nenhum dos três blocos [esquerda, centro-direita e extrema direita] tem um apoio eleitoral que permita obter uma maioria absoluta na Assembleia Nacional — resume o analista.

A líder da extrema direita Marine Le Pen, em boa posição nas pesquisas, já pediu a convocação "ultrarrápida" das eleições — mas ela não poderia se candidatar devido a uma pena de inelegibilidade.

Um eventual novo primeiro-ministro enfrentaria o desafio de conciliar as reivindicações da oposição. Macron defendeu na semana passada que seu atual governo estenda a mão aos socialistas para buscar a estabilidade.

Entre os nomes que circulam para suceder Bayrou estão os atuais ministros da Defesa, Sébastien Lecornu; da Economia, Éric Lombard; da Justiça, Gérald Darmanin; e da Saúde, Catherine Vautrin, entre outros.

Em 2024, Macron demorou quase dois meses para nomear Barnier, mas desta vez a nova nomeação pode ser mais rápida, especialmente quando a incerteza política parece afetar os mercados financeiros.

Riscos

A queda de um novo governo poderia levar Macron à renúncia, apesar de seu mandato terminar apenas em 2027. O presidente já descartou a possibilidade, desejada por 64% dos franceses, segundo uma recente pesquisa da Odoxa-Backbone, e que a esquerda radical defende.

Os nove meses de governo de Bayrou também foram marcados pelo escândalo Bétharram sobre supostas agressões físicas e sexuais durante décadas neste colégio católico do sul da França, onde os filhos do primeiro-ministro estudaram.

Os integrantes de uma comissão parlamentar apontaram sua "falta de atuação" para interromper as agressões quando era ministro da Educação na década de 1990. Bayrou denunciou um "tribunal político", o que irritou as vítimas.

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