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Processo de transição no Egito segue envolto em incertezas

Potências ocidentais visitaram o país para dar apoio a transição; futuro sem Mubarak continua nebuloso

Os protestos na praça Tahrir, no Cairo, deram força para as manifestações no mundo árabe (Peter Macdiarmid/Getty Images)

Os protestos na praça Tahrir, no Cairo, deram força para as manifestações no mundo árabe (Peter Macdiarmid/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 25 de fevereiro de 2011 às 15h34.

Cairo - Uma evolução democrática no Egito, país de enorme peso no mundo árabe, pode ser crucial para o futuro da região, afetada por um violento terremoto político. Entretanto, o processo de transição ainda é muito incerto, estimaram nesta sexta-feira altos funcionários da diplomacia e especialistas.

Desde a renúncia do presidente Hosni Mubarak, ministros e altos dirigentes ocidentais se apressaram a visitar o Egito para estimular o poder provisório a cumprir com suas promessas de reformas, apesar das dificuldades e reticências.

"Temos fé na capacidade do Egito de realizar uma transição bem sucedida, que será um exemplo para o resto da região. É particularmente importante agora, quando o mundo árabe vive mudanças profundas", declarou o subsecretário de Estado das Relações Políticas americano, William Burns.

Este alto diplomata, porém, reconhece que "o caminho não será tranquilo, e é justamente o início de uma complicada transição democrática", indicou Burns na semana passada durante uma visita ao Egito.

O primeiro-ministro britânico, David Cameron, a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, e os ministros das Relações Exteriores alemão, italiano e sueco também visitaram recentemente o país com mensagens semelhantes.

Embora o movimento de protestos no mundo árabe tenha se iniciado na Tunísia, foram os acontecimentos no Egito que de fato atribuíram a ele sua atual força.

Com mais de 80 milhões de habitantes, o Egito é de longe o mais povoado dos países árabes, e suas evoluções internas e externas marcaram a região em diferentes ocasiões.

A derrubada da monarquia em 1952 pelo movimento dos Oficiais Livres, com a chegada à presidência de Gamal Abdel Naser, uma das figuras mais proeminentes do pan-arabismo, inspirou naquela época revoltas em toda a região.

A situação, entretanto, é muito diferente em cada país da região, de acordo com a história, sua estrutura política e social e sua geografia.

O secretário-geral da Liga Árabe, o egípcio Amr Musa, reconheceu que as atuais mudanças "não afetam apenas de maneira individual, e sim todo o mundo árabe, refletindo-se em todos os cidadãos árabes".

"Precisamos ver o que acontece no Iêmen, no Bahrein e na Líbia para constatar o que pode inspirar um êxito" como o egípcio, destaca o especialista em Oriente Médio do International Crisis Group (ICG), Robert Malley.

O analista ressalta que "o descontentamento também pode ser contagioso".

"A expulsão de Mubarak foi um avanço gigantesco. O que acontecer em seguida também será decisivo", acrescenta, em um estudo intitulada "Egito vitorioso".

O que acontecerá no Egito pós-Mubarak, porém, ainda é bastante incerto.

O poder foi assumido por uma junta de 20 generais dirigida por um dos pilares do regime de Mubarak, o marechal Hussein Tantaui. O exército suspendeu a Constituição, dissolveu o Parlamento e o governo por decreto.

A deterioração da situação econômica, a debilidade da oposição laica e o papel do movimento da Irmandade Muçulmana semeiam mais dúvidas que certezas em relação ao futuro.

Os militares também prometeram publicamente reformas democráticas, eleições livres e o regresso de um poder civil em poucos meses.

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