Prédio da Harvard Business School em Cambridge, Massachusetts, nos EUA (PGiam/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 23 de maio de 2025 às 11h28.
Se o governo do presidente americano, Donald Trump, conseguir de fato impedir a Universidade Harvard de matricular alunos estrangeiros, o grupo mais afetado será o de estudantes chineses, que representam a maior parcela de discentes internacionais da instituição. As consequências provavelmente irão se estender muito além dos poucos aprovados que conseguiram ingressar na prestigiada universidade: a medida pode remodelar o relacionamento mais amplo entre os dois países, eliminando um dos poucos motivos pelos quais os chineses ainda admiram os EUA. Nesta sexta-feira, Harvard processou o governo Trump pela medida.
O fluxo de estudantes de Pequim para Washington tem sido, há muito tempo, um dos pilares mais confiáveis do relacionamento entre os dois países, apesar das crescentes tensões geopolíticas e das ambições de superpotência da China. Cerca de 1,3 mil estudantes chineses estão atualmente matriculados em Harvard, segundo dados oficiais, e 280 mil frequentaram universidades americanas ano letivo 2023-2024. Mesmo com outros símbolos americanos — como Hollywood e os iPhones — perdendo o prestígio entre muitos chineses, as universidades americanas continuam sendo fonte de aspiração, até mesmo de veneração.
Universidades de elite desempenharam um papel particularmente importante nessa admiração. Nos últimos anos, até mesmo os intercâmbios estudantis começaram a sofrer com os laços frios entre os dois países, já que muitos se preocupam com a discriminação contra os chineses, a dificuldade em obter vistos e a criminalidade. Mas instituições como Harvard foram uma exceção: permaneceram tão atraentes quanto sempre para os estudantes, que estavam dispostos a ignorar outras preocupações em troca da promessa de uma educação de excelência. Com a medida de Trump, até mesmo esse farol está em questão.
— Todos vêm para cá com o ideal de mudar o mundo. Mas quando estou tentando entender o mundo, o mundo me exclui — disse uma estudante de pós-graduação em Harvard, que pediu anonimato por medo de colocar seu visto em risco. Ela disse que agora quer voltar para a China após a formatura.
Em um sinal de quão tensa a relação entre as duas superpotências se tornou, a reação de muitos chineses nas redes sociais — onde a notícia sobre Harvard foi uma das principais hashtags na sexta-feira — foi mista. Houve preocupação e indignação. Mas, em alguns setores, também houve aceitação triste e até mesmo alegria.
Alguns internautas disseram que Trump estava acelerando a ascensão da China. Eles comemoraram que as universidades americanas perderiam tanto receita quanto talentos, alguns dos quais poderiam fluir para a China. Pelo menos uma universidade em Hong Kong já declarou estar disposta a oferecer admissão incondicional a qualquer aluno transferido de Harvard.
"É divertido vê-los destruir sua própria força", dizia um comentário na plataforma Weibo. Um outro usuário escreveu: "Recrutar estudantes internacionais é a principal forma de atrair os melhores talentos! Depois que essa via for cortada, Harvard continuará sendo a mesma?".