Milhares de pessoas marcharam pelas ruas da Cidade do México neste sábado para protestar contra a violência do narcotráfico e as políticas de segurança do governo da presidente Claudia Sheinbaum. (Getty Images)
Colaboradora
Publicado em 16 de novembro de 2025 às 10h03.
Última atualização em 16 de novembro de 2025 às 10h21.
Milhares de jovens da Geração Z tomaram as ruas da Cidade do México e outros locais no sábado, 15, para protestar contra a insegurança, a corrupção e a violência, especialmente após o assassinato do prefeito de Uruapan, Carlos Manzo Rodríguez.
De acordo com o secretário de Segurança Pública da capital em pronunciamento neste domingo, 16, Pablo Vázquez, os protestos, que começaram pacificamente, terminaram em confrontos: ao menos 120 pessoas ficaram feridas, sendo 100 policiais, dos quais 40 precisaram de hospitalização, e 20 civis também lesionados.
A mobilização foi desencadeada pelo assassinato, no dia 1º de novembro, de Carlos Manzo, político independente que denunciava a ação de cartéis em seu município no estado de Michoacán. Muitos manifestantes usaram chapéus em homenagem a Manzo e exibiram bandeiras com símbolos inspirados no anime One Piece, como a caveira dos “Straw Hat Pirates”, que se tornaram símbolo de resistência entre os jovens.
Os protestos tiveram como alvo o Palácio Nacional, sede do Poder Executivo e residência simbólica da presidência, ocupado por manifestantes que derrubaram parte das barricadas de segurança instaladas no entorno. A polícia reagiu com gás lacrimogêneo e uso de extintores para dispersar o grupo.
🇲🇽🔥 Massive protest at Mexico City’s presidential palace today. Young demonstrators accuse Claudia Sheinbaum’s government of enabling cartel activity, they’re tearing down barriers, storming the walls, and clashing with riot police. pic.twitter.com/5VXc4ArNda
— DD Geopolitics (@DD_Geopolitics) November 15, 2025
Líderes da Geração Z e apoiadores questionaram a presidente Claudia Sheinbaum, criticando sua política de segurança. Apoiadores de Manzo, por exemplo, acusaram o governo de omissão: “ele foi morto porque enfrentava os criminosos”, afirmou uma moradora de Michoacán.
A presidente Claudia Sheinbaum, que mantém índices de aprovação acima de 70% em seu primeiro ano de governo, enfrenta o episódio mais amplo de contestação popular desde sua posse, em outubro de 2024.
Embora tenha condenado os atos de violência registrados na capital, Sheinbaum afirmou que setores da oposição tentam “capitalizar” o movimento Gen Z e influenciar sua agenda. O governo não se pronunciou diretamente sobre a coordenação nacional dos protestos.
O movimento apresentou um manifesto com 12 pontos, que inclui a revogação do mandato da presidente, reforma judicial e maior segurança para os estados mais atingidos pela violência. Em diversas cidades do México, as manifestações se espalharam com participações que foram além da juventude, reunindo pessoas de diferentes idades e partidos. O grupo Movimento do Sombrero, por exemplo, pediu que a presidente não desacredite a marcha, reforçando que a demanda principal é por paz.
Segundo autoridades locais, 20 pessoas foram presas por crimes como agressão, enquanto outras 20 foram registradas por “infrações administrativas”. A reação violenta também incluiu pedras, fogos de artifício, correntes e escudos, usados tanto por manifestantes quanto por policiais.
A presidente Claudia Sheinbaum, no poder desde outubro de 2024, criticou o movimento Gen Z, afirmando que partidos de direita estariam por trás das manifestações e que “robôs” em redes sociais teriam impulsionado a mobilização.
Na semana anterior ao protesto, o governo já havia se manifestado sobre a morte de Manzo. A presidente condenou o assassinato como “cobarde e vil” e afirmou que “a única forma de construir paz é pela justiça social”, prometendo punir tanto os autores materiais quanto intelectuais do crime.
Dados de autoridades estaduais e organizações civis indicam que a mobilização ocorreu de forma simultânea em outros estados, sinalizando uma articulação nacional incomum e inédita na política recente mexicana.
A marcha, que começou como um ato convocado por jovens em redes sociais, se transformou em uma onda coordenada de manifestações no México em:
A escala dos protestos no México chamou atenção de analistas locais e internacionais. Desde as manifestações de 2014, após o desaparecimento dos 43 estudantes de Ayotzinapa, o país não registrava uma mobilização simultânea dessa dimensão.
O movimento Gen Z utilizou redes como TikTok, X (Twitter) e Telegram para organizar horários, pontos de encontro e rotas. Ferramentas de transmissão ao vivo e grupos fechados facilitaram a rápida expansão do ato para além da capital.