protestos no Panamá, panamenhos exigem mudanças nas políticas de segurança e meio ambiente. (MARTIN BERNETTI AFP/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 6 de maio de 2025 às 14h35.
Milhares de estudantes, trabalhadores e ativistas se reuniram nas ruas da capital do Panamá nesta terça-feira, 6, para protestar contra a crescente presença militar dos Estados Unidos no país, a possível reabertura de uma mina de cobre a céu aberto e as mudanças propostas na reforma do Seguro Social.
Os protestos, que reuniram professores, operários, trabalhadores do setor da saúde e estudantes ambientalistas, rejeitaram o acordo assinado em março pelo governo do presidente José Raúl Mulino com os Estados Unidos, permitindo o deslocamento de tropas americanas para áreas próximas ao canal do Panamá. O acordo reacende tensões históricas com os EUA, que haviam desmontado suas bases militares no país em 1999, após a entrega do controle do canal aos panameiros.
Em 1999, após décadas de controle sobre o canal, os Estados Unidos entregaram a gestão da via interoceânica ao Panamá, em cumprimento aos tratados de 1977. No entanto, o acordo firmado pelo governo de Mulino em março gerou preocupações sobre a volta da presença militar estrangeira na região.
A ampliação da presença militar dos EUA no Panamá é vista como uma medida para conter a crescente influência da China na região, algo que foi mencionado pelo então presidente Donald Trump como justificativa para o acordo. A acusação de que o canal poderia estar sob "controle chinês" contribui para o aumento da tensão.
"Desde que Mulino assumiu o comando, isso foi para o caralho", afirmou à AFP Isaac Alba, um universitário de 27 anos, refletindo o descontentamento de muitos jovens com a política do governo.
Outro ponto crucial dos protestos foi a tentativa do governo de José Raúl Mulino de reabrir uma mina de cobre a céu aberto, de propriedade de uma empresa canadense. A mina foi paralisada pela justiça em 2023 devido a questões ambientais, e a proposta de reabertura gerou forte oposição de ambientalistas e das comunidades afetadas.
Além disso, o governo pretende construir uma represa no rio Índio para garantir mais água ao canal, o que forçaria a realocação de centenas de famílias camponesas. A meio ambiente tem sido uma grande preocupação, com manifestantes destacando os riscos à biodiversidade e ao modo de vida de comunidades rurais.
"O povo se soma à luta e se une em um esforço único", afirmou Saúl Méndez, líder do sindicato da construção Suntracs, à AFP. Ele ressaltou a importância da mobilização para anular a reforma do Seguro Social e o acordo com os EUA. O sindicato está organizando protestos contra as reformas que, segundo eles, ameaçam as aposentadorias dos trabalhadores.
A reforma do Seguro Social, aprovada pelo governo em março, também foi alvo de duras críticas. Embora a reforma não tenha aumentado a idade de aposentadoria, como o governo de Mulino inicialmente propôs, os sindicatos afirmam que ela coloca em risco o futuro das pensões dos trabalhadores. A pressão sobre o sistema de seguro social tem gerado insatisfação generalizada, com muitas categorias de trabalhadores se unindo às manifestações.
O presidente José Raúl Mulino minimizou as manifestações, afirmando que o país não pode continuar “parado com greves” e que está disposto a “assumir todo o custo político” pelo descontentamento de muitos panameños. Mulino ainda defendeu que continuará a tocar em questões delicadas e a buscar soluções para problemas do país, apesar da resistência crescente.
Embora as paralisações e protestos tenham começado há três semanas, a mobilização ganhou grande força nesta terça-feira. A adesão de novos sindicatos, inclusive o dos profissionais da saúde, ampliou a base de apoio aos protestos. A reforma do Seguro Social e os projetos de reabertura da mina e da represa têm gerado um intenso debate político no Panamá, e os manifestantes exigem que o governo reconsidere essas medidas.
Os EUA e o governo panamenho seguem em uma linha dura, mas a crescente mobilização popular deixa claro que a oposição interna tem se fortalecido. O descontentamento é uma resposta ao que muitos consideram uma série de políticas que comprometem a soberania nacional, os direitos dos trabalhadores e o meio ambiente.