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Putin usa pedido de cessar-fogo para demonstrar poder, diz especialista

Líder russo anunciou pausa na Guerra da Ucrânia entre os dias 8 e 10 de maio

O presidente russo, Vladimir Putin, durante reunião em seu escritório (Alexander Kazakov/AFP)

O presidente russo, Vladimir Putin, durante reunião em seu escritório (Alexander Kazakov/AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 29 de abril de 2025 às 06h02.

Nesta segunda, 28, o presidente russo, Vladimir Putin, anunciou um cessar-fogo unilateral de três dias na Guerra da Ucrânia, entre os dias 8 e 10 de maio. O movimento faz parte da estratégia do presidente russo para tentar levar o conflito a um desfecho que seja de seu interesse, para demonstrar poder e para fazer um aceno ao presidente americano, Donald Trump, avalia Vinicius Vieira, professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

No período de pausa, será celebrado o marco de 50 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, vencida pelos russos, pelos EUA e outros aliados. É a segunda vez em poucas semanas que Putin determina um cessar-fogo. Na Páscoa, ele anunciou uma parada de 30 horas. Os dois lados se acusaram mutuamente de desrespeitá-la.

Após o anúncio de Moscou, a Ucrânia questionou por que a Rússia não adota um cessar-fogo imediato, e com 30 dias de duração. "Por que esperar até 8 de maio?", disse Andrii Sybiha, chanceler da Ucrânia.

"Demonstração de poder"

"Putin quer mostrar que ele que manda nas negociações, que detém a agenda de negociações e não os Estados Unidos e tampouco a Ucrânia", diz Vinicius Vieira, professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap)

Vieira aponta que as pausas também fazem parte de uma narrativa. Os russos venceram a Segunda Guerra, em 1945, ao derrotar o nazismo. Putin acusa o governo da Ucrânia de ser neonazista, apesar de o país não ter partidos de extrema-direita e de Zelensky ser judeu. "Putin busca sinalizar para o público interno que ele continuaria numa luta justa", diz.

Outro objetivo de Putin parece ser mandar recados para o presidente dos EUA, Donald Trump.

"Moscou usou seu anúncio de uma pausa de 30 horas nas hostilidades para enviar um recado à Casa Branca: que, nesta guerra, a Rússia é a pacificadora e Kiev é a agressora", escreveu Steve Rosenberg, editor de Rússia na BBC, em uma análise no site da emissora britânica.

Na semana passada, Trump pediu, em uma postagem, que Putin 'PARE' de atacar a Ucrânia. Ele se reuniu no sábado, 26, com Zelensky, antes do funeral do papa Francisco. Os dois governos disseram depois que a conversa foi "produtiva", mas não houve um anúncio imediato de novas medidas.

Trump pressiona por uma solução rápida para encerrar a guerra, mas há resistências dos dois lados. A Rússia diz querer garantias de que 'os problemas-raízes" da guerra sejam resolvidos. O principal deles é que a Ucrânia fique distante da Otan, aliança militar ocidental vista por Moscou como uma ameaça.

Os russos querem manter ainda os territórios que conquistaram durante a guerra, enquanto a Ucrânia quer recuperá-los, apesar das derrotas militares em campo.

"Zelensky exige que a Rússia primeiro se submeta a todos os objetivos estratégicos da Ucrânia, anule sua vantagem militar e admita culpa, antes que qualquer negociação comece. Pode-se perguntar: O que exatamente restaria para negociar então?", escreveu Nadezhda Romanenko, em artigo no site Russia Today, ligado ao governo Putin.

Zelensky defende que a integridade territorial da Ucrânia deveria ser mantida, para respeitar tratados internacionais que proíbem um país de avançar sobre outro, além de pedir garantias de que a Rússia não faça novas operações militares no futuro para pegar mais territórios.

Rússia em vantagem

"Diferentemente do que ocorreu, principalmente no primeiro ano e até a metade do segundo ano de guerra, hoje claramente a Rússia tem muito mais força que a Ucrânia política, militarmente e até economicamente para impor as suas condições", diz Vieira.

"Me parece razoável ter um acordo em que os territórios sejam cedidos, mas em que Putin seja desencorajado a fazer novas incursões contra os europeus", prossegue.

Neste cenário, a Ucrânia não entraria na Otan, mas teria tropas de algum país ocidental, como o Reino Unido, para manter o acordo de paz em vigor. Enquanto isso, outros países da região, como a Polônia, teriam sua segurança reforçada para barrar novas invasões de Putin.

Outra alternativa para a guerra acabar é se Zelensky cair. "Não vejo evidências de que ele esteja próximo de deixar o cargo, mas a medida em que os próprios ucranianos sofreram cansaço, pode haver uma crescente oposição a ele dentro da Ucrânia", diz Vieira.

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