Fortuna do Vaticano: Igreja detém bilhões provenientes de imóveis, doações e investimentos (Laszlo Szirtesi/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 7 de maio de 2025 às 09h36.
O patrimônio da Igreja Católica, especialmente administrado pelo Vaticano, é um tema cercado de sigilo, mas desde o pontificado de Francisco, a instituição tem se esforçado para dar mais transparência às suas finanças.
Em 2021, a Administração do Patrimônio da Sé Apostólica (Apsa), responsável pelos imóveis e investimentos do Vaticano, divulgou pela primeira vez os resultados financeiros de forma pública.
De acordo com o último balanço divulgado, referente a 2023, a Igreja registrou um lucro de € 45,9 milhões (cerca de R$ 294,8 milhões) e um aumento de ativos de € 7,9 milhões (R$ 50,7 milhões). Apesar de não divulgar o patrimônio líquido, estimativas indicam que ele seja de cerca de € 886 milhões (R$ 5,69 bilhões), referentes apenas aos ativos administrados pelo Banco do Vaticano, sem incluir imóveis, terras e outros bens.
Além dos ativos financeiros, o Vaticano gera receita com a gestão de mais de 5.000 imóveis, dos quais 20% são alugados, gerando uma receita operacional de € 73,6 milhões (R$ 477,2 milhões) e um lucro líquido de € 35 milhões (R$ 224,8 milhões) anualmente.
O acúmulo de riquezas pela Igreja começou no século 4, após o imperador Constantino tornar o cristianismo a religião oficial do Império Romano. Antes disso, os cristãos eram conhecidos por sua vida humilde, mas com a aliança entre Igreja e Estado, os bens começaram a ser acumulados, incluindo palácios, terras e vastas quantidades de ouro e prata.
Com o tempo, o Vaticano passou a controlar vastos territórios, como os Estados Papais no século 18, quando a Igreja consolidou seu poder político e econômico. Ao longo dos séculos, doações de fiéis e da nobreza, bem como investimentos estratégicos, ampliaram ainda mais a riqueza da Igreja.
No século 20, o acordo com Mussolini, conhecido como a “Conciliação”, também resultou em uma contribuição significativa para a Igreja, com uma quantia de 1,75 bilhão de liras (cerca de € 1,75 bilhões, ou R$ 11,5 bilhões em valores atuais). Este montante ajudou a fortalecer o patrimônio do Vaticano, que continua a ser investido principalmente em imóveis e ativos financeiros.
Embora o Vaticano seja um centro financeiro global, a Igreja Católica não é uma instituição centralizada em termos financeiros. As dioceses ao redor do mundo são responsáveis por administrar seus próprios orçamentos, o que torna difícil estimar o patrimônio total da Igreja. Contudo, especialistas consideram que o valor global seja multibilionário.
A Igreja Católica é também uma das maiores proprietárias de terras do mundo, com entre 177 e 200 milhões de acres de terra, incluindo propriedades urbanas e rurais, escolas e hospitais. O patrimônio da Igreja é imensurável, com um impacto significativo nas economias locais, especialmente nos países europeus e na América do Norte.
As dioceses de países como Alemanha e Estados Unidos são grandes fontes de riqueza para a Igreja. Na Alemanha, o imposto eclesiástico, conhecido como kirchensteuer, arrecadou € 6,51 bilhões (R$ 41,75 bilhões) em 2023. Embora essa fonte de receita esteja diminuindo devido à perda de fiéis, ela continua sendo uma das mais importantes para as finanças da Igreja Católica na Europa.
Nos Estados Unidos, a Igreja arrecada cerca de US$ 10 bilhões (R$ 56,7 bilhões) anualmente em doações e possui um patrimônio considerável, com importantes universidades, hospitais e escolas. O país também concentra uma grande quantidade de bens imobiliários.
O Brasil, país com o maior número de católicos, também conta com um patrimônio significativo. Um exemplo é o Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, que recebe cerca de 10 milhões de peregrinos por ano e gera uma receita anual aproximada de R$ 1,4 bilhão, proveniente principalmente do comércio de artigos religiosos e de doações de fiéis.
O santuário também mantém uma infraestrutura complexa, incluindo hotéis e restaurantes, com capacidade para receber até 70 mil pessoas. Esse centro de peregrinação é um dos maiores responsáveis pela movimentação financeira da Igreja Católica no Brasil.
A Igreja Católica, além de seu patrimônio imobiliário e financeiro, possui um vasto acervo cultural, com obras de arte de valor incalculável. O Museu do Vaticano, por exemplo, recebe milhões de visitantes anualmente e é uma das principais fontes de receita do Vaticano. Porém, muitos questionam a falta de transparência em torno dessas riquezas, um tema recorrente nas falas do Papa Francisco, que defendia a simplicidade e a sobriedade na administração da Igreja.
Em 2019, Francisco defendeu a necessidade de a Igreja investir seu capital para evitar desvalorização, afirmando que o objetivo não era especular, mas preservar o patrimônio.