Encontro entre os líderes dos Estados Unidos e da Rússia, Donald Trump e Vladimir Putin, na sexta-feira no Alasca
Agência de Notícias
Publicado em 17 de agosto de 2025 às 08h28.
Decepcionados com o encontro entre os líderes dos Estados Unidos e da Rússia, Donald Trump e Vladimir Putin, na sexta-feira no Alasca, os ucranianos se preparam com preocupação para a visita do presidente Volodimir Zelensky a Washington na próxima segunda-feira.
"Trump pôs de fato fim ao isolamento político de Putin. A propaganda russa vai se aproveitar disso", declarou à Agência EFE o presidente da comissão de Relações Exteriores do Parlamento ucraniano, o deputado governista Oleksandr Merezhko.
As calorosas boas-vindas a Putin contrastam com a violência dos ataques russos contra a Ucrânia, onde foram contabilizados 85 drones inimigos na noite passada, enquanto os ataques russos continuam no front.
"O tapete vermelho, os apertos de mão, os sorrisos e os elogios legitimaram Putin e seus crimes de guerra", escreveu o analista militar Oleksandr Kovalenko para o grupo Resistência Informativa.
Kovalenko qualificou a cúpula como uma "clara vitória" para Putin, que, segundo afirmou, só aumentará a violência na Ucrânia.
O analista advertiu que o encontro enviou a outros "aspirantes a agressores" o sinal de que derramar sangue não levará a prisões, isolamento e sanções, mas a negociações e recepções com tapete vermelho.
A "normalização" nas relações com Putin só irá complicar os esforços para impulsionar sanções mais severas contra a Rússia, comentou em seu perfil no Facebook Max Gardus, da ONG Razom We Stand.
Merezhko também destacou à EFE que a decisão de Trump de atrasar mais uma vez as sanções só dá à Rússia mais tempo para continuar com sua agressão.
O encontro não conseguiu progressos no caminho para a paz e as posições das partes continuam sendo as mesmas que quando a Rússia invadiu a Ucrânia em 2022, acredita o analista político Vitali Portnikov.
"A Rússia exige garantias de que a Ucrânia não se unirá à OTAN e acabe retornando a sua esfera de influência, enquanto a Europa segue comprometida com o apoio à Ucrânia", disse o analista em seu canal no YouTube.
"Não está nada claro como se vai alcançar um acordo de paz rápido, em particular se os combates continuarem", acrescentou Portnikov, sugerindo que Trump poderia tentar mascarar sua "vergonhosa derrota" ao tratar com Putin, culpando a Ucrânia e Zelensky.
Merezhko destacou a preocupação com o fato de que Trump tenha recuado em promessas anteriores de não abordar cessões territoriais sem a Ucrânia e tenha abandonado sua exigência de um cessar-fogo antes que se negocie um fim da guerra.
"Isso é muito ruim para a Ucrânia", alertou Merezhko à EFE.
"Para Putin, um acordo de paz implica que a Ucrânia se renda e tenha sua soberania destruída", enfatizou.
Merezhko advertiu que Putin e Trump poderiam pressionar juntos Zelensky para que aceite um acordo "inaceitável" que colida com a Constituição e a opinião pública ucranianas e com o direito internacional.
Embora muitos ucranianos considerariam reconhecer de facto, mas não legalmente, a ocupação russa dos territórios capturados em troca de garantias de segurança robustas e da liberdade para escolher seu próprio caminho geopolítico, mais de três quartos da população rejeitam, segundo as pesquisas, ceder territórios adicionais, como os 30% da região de Donetsk que a Ucrânia ainda controla.
Se Zelensky se opuser às exigências de Trump, o presidente americano poderia abandonar as negociações e melhorar as relações com Putin, alertou Merezhko.
O presidente ucraniano tentará evitar este cenário quando viajar na segunda-feira para Washington para se reunir com Trump.
Com o apoio dos líderes europeus, Zelensky reafirmou neste sábado seu compromisso com uma paz duradoura e enfatizou a necessidade de mais sanções contra a Rússia para que detenha sua agressão, junto com garantias de segurança confiáveis para a Ucrânia.
Merezhko indicou à EFE que seria melhor para Zelensky viajar a Washington com líderes como Friedrich Merz, Keir Starmer ou Emmanuel Macron.
"Uma frente unida faria com que fosse mais difícil para Trump nos pressionar", disse o deputado.
Apesar da decepção, a situação não é completamente sombria, acreditam alguns.
Vitali, um programador de Lviv (oeste) de 37 anos, que quase não sai de casa por medo de uma mobilização forçada, afirmou à EFE que o impulso de Trump em direção à paz e seu reconhecimento de que a Ucrânia precisa de garantias de segurança o animam.
"Temos apoio europeu. Eles entendem a ameaça e continuarão ajudando a Ucrânia porque estamos lutando também por eles", declarou, por sua vez, Merezhko, acrescentando que Trump poderia seguir vendendo armas à Ucrânia com fundos europeus mesmo no caso de que abandone os esforços de paz.