O chanceler do Brasil, Mauro Vieira (à esq.), com o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, em encontro em Washington (Itamaraty/Divulgação)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 16 de outubro de 2025 às 18h19.
Última atualização em 16 de outubro de 2025 às 18h42.
Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores do Brasil, disse que a reunião realizada nesta quinta-feira, 16, com o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, em Washington, foi "ótima e produtiva" e que houve avanço nas conversas para um encontro direto entre os presidentes Lula e Donald Trump.
Os dois se encontraram para debater saídas para as tarifas impostas por Trump contra o Brasil e para encontrar soluções para a crise na relação entre os dois países.
"Em todo o encontro, prevaleceram a atitude construtiva e voltada a aspectos práticos na retomada das negociações entre os dois países, em sincronia com a boa química que foi percebida sobretudo no telefonema recente entre os presidentes", disse o chanceler.
"O encontro foi, desde o início, muito produtivo em um clima excelente de descontração, de troca de ideias e de posições de uma forma muito clara, muito objetiva e com muita disposição para trabalhar em conjunto para traçar uma agenda bilateral de encontros para tratar de temas específicos de comércio", afirmou.
"Isso foi um princípio auspicioso de um processo negociador no qual trabalharemos para normalizar e abrir novos caminhos para as relações bilaterais. Reiterei a posição brasileira, transmitida diretamente pelo presidente Lula ao presidente Trump na semana passada, sobre a necessidade de reversão das medidas adotadas pelo governo norte-americano desde julho", disse Vieira.
Ao deixar a sala, Vieira foi perguntado por jornalistas se haveria a possibilidade de que o encontro entre os presidentes seja realizado no fim de outubro na Malásia, durante a cúpula da Asean.
"Não sabemos. Vai depender se conseguirmos as datas, até pode ser. Mas há o interesse de ambas as partes de que os presidentes se encontrem", disse Vieira.
O Departamento de Estado dos EUA não havia se manifestado sobre a reunião até a publicação desta reportagem.
Rubio e Vieira tiveram a primeira reunião oficial para debater as tarifas americanas na tarde desta quinta-feira, 16, na Casa Branca. A conversa toda durou cerca de uma hora.
A reunião teve duas etapas. Primeiro, houve uma conversa privada entre Vieira e Rubio.
A segunda parte foi uma reunião ampliada, com participações dos embaixadores Maurício Lyrio, secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores e Sherpa do Brasil no Brics, de Philip Fox-Drummond Gough, secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros, entre outros nomes. Do lado americano, participou o representante comercial dos EUA, Jamieson Greer.
Os dois chefes da diplomacia buscam solucionar a crise entre os dois países, iniciada após Trump ampliar as taxas de importação sobre o Brasil, que chegaram a 50%, e impor sanções a autoridades brasileiras, como o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Analistas apontam que esta primeira conversa deve servir para que os dois países coloquem na mesa o que estão dispostos a negociar e, então, planejar os passos seguintes, como os próximos encontros.
"Em uma reunião como essa, todo mundo começa discutindo temas operacionais. Falam quando é que vão encontrar de novo e depois começam a falar sobre os eventuais interesses de um lado e de outro. Normalmente todo mundo é muito cuidadoso", diz Walber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil.
Os americanos estão em posição de superioridade, pois impuseram ao Brasil uma tarifa de 50% em agosto, alegando uma série de motivos. Assim, cabe ao governo brasileiro buscar oferecer contrapartidas para a retirada da taxa ou, ao menos, reduzi-las.
Ao impor a taxa, Trump exigiu que o Brasil retirasse os processos na Justiça contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, mas o líder americano não citou mais ele nas últimas semanas.
O clima mudou após um encontro entre Lula e Trump na ONU, em setembro. Desde então, os dois presidentes falaram diversas vezes que houve "química" entre eles, o que teria aberto as conversas entre os dois governos, que ficaram travadas por meses.
Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores do Brasil (Lula Marques/Agência Brasil)
A lista de críticas americanas ao Brasil é longa, mas alguns pontos se destacam, entre eles, abrir o acesso ao etanol americano ao mercado brasileiro, ampliar o acesso dos EUA a minerais críticos e reduzir as regulações sobre empresas americanas de tecnologia.
"Existe uma demanda antiga dos Estados Unidos em relação ao etanol. É um produto importante para eles. Mas há também questões de regulamentações, voltadas ao universo das big techs, como inteligência artificial, data centers, além da questão de terras raras", diz José Pimenta, diretor de Comércio Internacional da consultoria BMJ.
O Brasil cobra uma taxa de 18% sobre o etanol americano. Antes do tarifaço, os americanos taxavam o produto brasileiro em 2,5%.
Nas últimas semanas, ganhou força a questão dos minerais críticos, como lítio, nióbio, cobre e terras raras. São elementos químicos usados na produção de itens de alta tecnologia, como chips e baterias, dos quais a China domina o refinamento.
Assim, o Brasil poderia oferecer algum tipo de parceria com os americanos para a exploração desses minerais. Na quarta-feira, 15, o ministro de Minas e Energia do Brasil, Alexandre Silveira, disse que foi convidado pelo governo americano para discutir o tema.