Pete Hegseth: secretário de Defesa dos Estados Unidos entrou em debate com ala cristã progressista. (Chip Somodevilla/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 12 de agosto de 2025 às 12h25.
O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, provocou críticas de líderes religiosos progressistas e especialistas ao compartilhar, na rede social X, um vídeo em que pastores defendem que mulheres não deveriam ter direito ao voto. A publicação, feita na quinta-feira, teve mais de 5 milhões de visualizações, 15 mil curtidas e 3 mil compartilhamentos.
O vídeo — um trecho de quase sete minutos de uma reportagem produzida pela CNN — apresenta declarações de Doug Wilson, pastor nacionalista cristão e cofundador da Comunhão de Igrejas Reformadas Evangélicas (CREC), sediada em Idaho. Nele, Wilson afirma que gostaria de ver os EUA se tornarem “uma nação cristã” e, em maior escala, “um mundo cristão”. Ele também defende que mulheres não ocupem posições de liderança nas Forças Armadas.
No mesmo vídeo, outro Toby Sumpter, pastor ligado à rede, diz que, em seu modelo ideal de sociedade, o voto seria feito por domicílio, com o marido e pai sendo responsável pelo registro, após consulta à família. Uma fiel entrevistada afirmou que considera o marido “chefe de casa” e que “se submete” a ele. Mais adiante, a reportagem também recupera declarações anteriores de Wilson, nas quais ele afirmou acreditar que havia “afeição mútua” entre escravizados e seus senhores.
Hegseth republicou o vídeo com a legenda: “Todo Cristo para toda a vida”. Dois dias depois, o principal porta-voz do Pentágono, Sean Parnell, disse em comunicado à imprensa americana que o secretário de Defesa é “um orgulhoso membro de uma igreja afiliada à CREC”, fundada por Wilson, e que “aprecia muito muitos dos escritos e ensinamentos” do pastor. Segundo a CNN, Hegseth e sua família participaram do culto inaugural da igreja de Wilson em Washington, em julho.
All of Christ for All of Life. https://t.co/QqXhqZFStv
— Pete Hegseth (@PeteHegseth) August 8, 2025
Doug Pagitt, pastor e diretor executivo da organização evangélica progressista Vote Common Good, afirmou que as ideias do vídeo são visões “mantidas por pequenas comunidades de cristãos” e classificou como “muito perturbador” o fato de o chefe do Pentágono amplificar ideias do tipo. Já o sociólogo Andrew Whitehead, professor de sociologia e especialista em nacionalismo cristão, destacou à NPR que o objetivo de Wilson e seus seguidores é transformar crenças pessoais em leis.
“Não é apenas que eles tenham essas crenças cristãs pessoais sobre o papel da mulher na família. Eles querem impor isso a todos”, disse. “Realmente importa se o secretário da Defesa está retuitando um vídeo com visões muito específicas sobre se as mulheres deveriam votar ou servir em funções de combate, ou se a escravidão não é algo tão ruim assim. É a opinião de alguém em uma posição considerável de poder.”
A republicação do vídeo por Hegseth ocorreu em meio à intensificação dos esforços do governo Trump para promover o nacionalismo cristão, em meio à renovada aliança do presidente com a direita cristã em seu segundo mandato. Em fevereiro, Trump criou um gabinete de fé na Casa Branca para recomendar mudanças em políticas e programas e, em maio, Hegseth convidou seu pastor pessoal para liderar o primeiro de uma série de cultos cristãos no Pentágono durante o expediente.
O movimento do secretário também foi feito enquanto pesquisas de opinião nos EUA mostram queda na aprovação do presidente entre as mulheres. Em abril, um levantamento da CBS News/YouGov mostrou que 63% das mulheres desaprovam a gestão econômica do republicano, e 66% reprovavam como Washington lida com a inflação, tema central das eleições de 2024. Nos três meses seguintes, o desgaste de Trump foi mais uma vez registrado: pesquisas da Economist/YouGov mostram que a aprovação geral do presidente entre as mulheres caiu três pontos percentuais, de 42%, em maio, para 39% em julho.
A Primeira Emenda da Constituição americana proíbe o governo de estabelecer uma religião oficial, mas especialistas apontam que a definição do termo “estabelecimento” sempre foi ambígua, já que o texto também garante a todos o direito de praticar sua fé livremente.