Avião prestes a decolar: paralisação nos EUA reduzirá equipes em aeroportos (Fabrice Coffrini/AFP)
Redação Exame
Publicado em 1 de outubro de 2025 às 14h31.
Última atualização em 1 de outubro de 2025 às 14h32.
A paralisação do governo dos Estados Unidos, conhecida como shutdown, pode ter efeitos colaterais diretos na logística aérea do país — e impactar também o Brasil.
Durante esses períodos, uma série de servidores públicos tem seus contratos suspensos e ficam sem receber salários, o que afeta setores importantes, como o transporte aéreo. Embora os serviços sigam operando mesmo sob shutdown, é comum que haja redução de equipes.
O especialista em comércio exterior, Jackson Campos, cita o exemplo de 2019, quando o shutdown durou 35 dias e custou cerca de US$ 11 bilhões. Esse impacto reduziu em 0,2% as previsões de crescimento econômico anual dos EUA e trouxe efeitos significativos para a logística e o comércio internacional.
"O shutdown de 2019 durou 35 dias e custou cerca de US$ 11 bilhões, reduzindo em 0,2% as previsões de crescimento econômico anual dos EUA, trouxe efeitos para a logística e para o comércio internacional. Órgãos reguladores como FDA e USDA tiveram suas atuações limitadas por falta de pessoal em agências federais. Portos e terminais operaram com restrições, causando acúmulo de mercadorias em armazéns e atrasos no desembaraço. Essa lentidão elevou custos de armazenagem, pressionou transportadoras e prejudicou o fluxo de cadeias que dependem de atividade contínua, como a de produtos perecíveis e farmacêuticos", explica.
Dessa forma, os efeitos da paralisação do governo dos EUA na logística aérea podem afetar o Brasil, causando um impacto especialmente em setores industriais que dependem da pontualidade no transporte de insumos essenciais. O aumento dos custos operacionais e o risco de interrupção na produção são desafios imediatos, exigindo atenção tanto de empresas quanto de autoridades governamentais, diz Campos.
"O shutdown nos EUA fará com que a logística aérea seja a primeira a sentir. Menos controladores e inspetores significam atrasos em voos, gargalos em aeroportos e liberação mais lenta de cargas. Para o Brasil, isso se traduz em importações fora do prazo, exportações retidas e aumento imediato dos custos logísticos. No modal aéreo, os impactos aparecem em taxas extras de armazenagem em terminais, novas reservas de cargas, manuseio adicional e até seguros mais caros. Setores que dependem de insumos americanos, como automotivo, químico e médico, podem enfrentar paralisações na produção", afirma.
Apesar do impacto, os serviços essenciais, como o controle de tráfego aéreo, continuarão funcionando, com 13.227 controladores trabalhando sem pagamento até que o governo seja reaberto.
Atividades essenciais como a certificação e supervisão de aviões e motores comerciais também seguirão, mas com uma supervisão limitada da segurança do tráfego aéreo. Contratações de novos controladores, treinamento de campo e inspeções de segurança serão pausados, o que pode afetar a segurança e a eficiência do sistema.
Com isso, o apoio à assistência policial também será suspenso, o que pode criar uma sensação de insegurança, especialmente para operadores e passageiros.
Grupos da indústria de aviação se mobilizaram contra o shutdown. Em uma carta enviada ao Congresso, uma coalizão de organizações pediu que a paralisação fosse evitada, alertando que a falta de financiamento prejudicará gravemente a Administração Federal de Aviação (FAA). A carta destacou o licenciamento compulsório de funcionários da FAA e afirmou que a interrupção do financiamento poderia criar um acúmulo de trabalho, resultando em atrasos nos serviços críticos da FAA "muito depois do financiamento ser retomado"."
“Embora os controladores de tráfego aéreo, técnicos e outros profissionais essenciais continuem a trabalhar sem pagamento, muitos dos funcionários que os apoiam estão de licença compulsória, e os programas da FAA para analisar e lidar com eventos de segurança estão suspensos. Para continuar sendo líder mundial em aviação, devemos continuar a melhorar a eficiência e mitigar os riscos”, disseram os grupos de aviação na carta.