Mundo

Talibãs se consideram mais fortes que há 10 anos, quando perderam o poder

"Agora podemos atuar na totalidade do país", afirmou porta-voz da milícia talibã no Afeganistão, Zabiullah Mujahid, em entrevista por telefone à Agência Efe

"Quando o talibã se sente fraco, cala. Quando se sente forte, fala, como agora", explicou Mozhdah (Tariq Mahmood/AFP)

"Quando o talibã se sente fraco, cala. Quando se sente forte, fala, como agora", explicou Mozhdah (Tariq Mahmood/AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 13 de novembro de 2011 às 13h25.

Cabul - O principal porta-voz da milícia talibã no Afeganistão, Zabiullah Mujahid, afirmou neste domingo que o movimento rebelde é mais forte hoje que dez anos atrás, quando foi derrubado do poder pela intervenção dos Estados Unidos no país, pois, segundo ele, os insurgentes "ganharam experiência política e militar".

"Agora podemos atuar na totalidade do país", afirmou Mujahid em entrevista por telefone à Agência Efe de um lugar não especificado da fronteira entre Paquistão e Afeganistão, uma década após a queda do regime talibã em Cabul.

O porta-voz insurgente enfatizou o poder do movimento. "Somos capazes de desestabilizar qualquer região, inclusive o vale do Panjshir", ao norte da capital afegã, onde a milícia talibã nunca conseguiu operar durante os cinco anos em que ocupou o governo.

Mujahid atribuiu a queda do regime talibã exclusivamente à "invasão das tropas estrangeiras" e destacou que os rebeldes continuarão a lutar "enquanto houver forças ocupantes, o país não seguir os preceitos do islã e os americanos tiverem o poder".

"A guerra santa é o único modo de mudar essa situação e trazer prosperidade ao povo", declarou o porta-voz, que chamou de "farsa" o processo de reconciliação nacional buscado pelo presidente Hamid Karzai. "É mais um espetáculo para mostrar à imprensa internacional que é o homem que trará a paz aos afegãos. Nunca terá sucesso".

De acordo com fontes dos serviços de inteligência locais, o pseudônimo de Zabiullah Mujahid esconde a identidade de Qari Nesser Ahmed, um médico que viveria na localidade paquistanesa de Chaman, próxima à fronteira com o Afeganistão.

Nessa mesma região fica a cidade de Quetta, onde, segundo essas fontes, estaria escondido o líder do movimento talibã, mulá Omar.

"O movimento talibã se sente forte", apontou à Efe um ex-funcionário do antigo regime talibã, Waheed Mozhdah, atual analista político em Cabul, onde escreveu vários livros sobre seu antigo movimento.

"Quando o talibã se sente fraco, cala. Quando se sente forte, fala, como agora", explicou Mozhdah, que durante a meia década de governo talibã exerceu o cargo de diretor do departamento de Assuntos Asiáticos e Oriente Médio no Ministério das Relações Exteriores.

"Seu discurso é como o de 1996, quando tomaram o governo. O então presidente Burhanuddin Rabbani - assassinado por um terrorista talibã suicida em setembro passado -, lhes ofereceu compartilhar o poder, mas rejeitaram a oferta porque se sentiam fortes", explicou Mozhdad.

"O presidente Karzai também lhes propôs agora compartilhar o poder, mas rejeitaram a oferta. A razão é que eles se sentem fortes", acrescentou.

O ex-membro do antigo regime talibã não descartou que o movimento recupere o poder assim que, de acordo com o calendário previsto, as tropas internacionais se retirem totalmente do país, em 2014. "No Afeganistão tudo é possível", foi sua resposta.

"Eles estão cientes de que, quando estiveram no poder, cometeram erros", reconheceu Mozhdah, que revelou que, durante todo este tempo desde que saiu do poder, não perdeu o contato com seus antigos correligionários. "Me telefonam de vez em quando, sobretudo à noite".

"Se recuperarem o poder, mudariam algumas coisas em relação a seu anterior regime, mas na essência seria igual", concluiu o analista. 

Acompanhe tudo sobre:AfeganistãoÁsia

Mais de Mundo

EUA e China chegam a acordo para reduzir tensões comerciais, diz Bloomberg

Ex-presidente Cristina Kirchner deve ser presa por corrupção, decide Suprema Corte

Atirador em escola da Áustria morre após ataque, diz polícia

Trump diz que, se necessário, invocará Lei da Insurreição para conter protestos