Mundo

Tarifas de Trump são tragédia grega, diz ex-diretor do FMI

Comparando ao mito de Ícaro, ex-diretor do FMI analisa as decisões econômicas e políticas de Trump e seus impactos a longo prazo

Estela Marconi
Estela Marconi

Freelancer

Publicado em 16 de junho de 2025 às 05h59.

Mesmo após diversos alertas de especialistas no assunto, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, segue com sua estratégia tarifária ao redor do mundo. Para o ex-diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI), Desmond Lachman, a insistência em nesse tipo de condução pode ser considerada uma "tragédia grega".

"Trump está dobrando as apostas nessas políticas", afirmou Lachman em um artigo publicado no dia 10 de junho no American Enterprise Institute, onde atua como pesquisador sênior.

Caso o republicano não assuma os riscos e mude a estratégia, suas decisões, segundo Lachman, podem reacender a inflação, elevar os rendimentos dos títulos de longo prazo, derrubar ainda mais o dólar e levar a economia dos EUA à recessão.

Outros nomes de peso, como o presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, o CEO do JPMorgan, Jamie Dimon, e o CEO da BlackRock, Larry Fink, já demonstraram preocupação e tentaram alertar sobre os impactos das tarifas de Trump na inflação e no crescimento norte-americano, principalmente nos efeitos do corte de impostos em rendimentos dos títulos e no dólar.

As insistências do presidente 

“Para Trump, esses avisos entram por um ouvido e saem pelo outro”, escreveu o ex-diretor do FMI, ao criticar a postura do presidente dos Estados Unidos diante das advertências sobre os efeitos de sua política tarifária.

Em vez de recuar, Trump elevou as tarifas de importação sobre aço e alumínio para 50%, uma medida que, segundo o economista, demonstra desprezo pelos alertas de especialistas. Ao mesmo tempo, o presidente intensifica esforços para aprovar seu projeto bilionário “One Big Beautiful Bill”, sem apresentar um plano para conter o déficit orçamentário, que já atinge 6,25% do PIB.

Embora a inflação esteja, por ora, controlada e o mercado de trabalho se mantenha estável, Lachman adverte que os riscos à economia americana permanecem elevados. Como muitas empresas anteciparam compras no fim de 2024, os efeitos reais das tarifas devem surgir apenas na segunda metade de 2025.

“O fato de os dados de maio, junho ou julho ainda não refletirem isso não quer dizer nada”, escreveu o especialista.

O plano de cortes de impostos de Trump

As tarifas não são o único fator que pode pressionar os preços.

Lachman alertou que os efeitos do plano de cortes de impostos de Trump também devem ser considerados. Com o crescimento da dívida pública e do déficit orçamentário, o valor do dólar pode cair ainda mais - o que tornaria as importações ainda mais caras. Um recuo de 10% na moeda americana, por exemplo, já encareceria os produtos estrangeiros antes mesmo de se somar às tarifas de 10% ou mais.

Nesse cenário da inflação e, diante da ausência de um plano do governo para conter o déficit e a dívida, investidores estrangeiros têm deixado os EUA, tendência que pode se intensificar. Isso elevaria os juros dos títulos do Tesouro no longo prazo, encarecendo o crédito e desacelerando a economia, segundo Lachman.

O ambiente também representa um risco para o mercado acionário, alertou. Com as ações negociadas a preços elevados, qualquer turbulência pode ser amplificada. Um exemplo é o índice Shiller, que compara o preço das ações com a média dos lucros das empresas nos últimos dez anos.

“Se o mercado já está com avaliações muito altas e você adiciona a possibilidade de uma crise cambial ou nos títulos, me parece evidente que as ações não vão reagir bem”, afirmou Lachman.

Realidade ou mito grego?

O ex-diretor do FMI comparou a situação ao mito de Ícaro: o jovem que tentou fugir de um labirinto com asas de cera, desafiou os alertas do pai e voou perto demais do sol - até que suas asas derreteram.

Trump tem, até agora, desafiado a lógica dos economistas ao aplicar tarifas pesadas sem provocar inflação ou recessão. Mas com a chegada de seu plano tributário, a dúvida permanece: será que suas asas — e junto delas a economia e os mercados dos EUA — estão prestes a derreter?

Acompanhe tudo sobre:Donald TrumpTarifasEstados Unidos (EUA)

Mais de Mundo

Apoiadores de Evo Morales suspendem bloqueios que deixam seis mortos

Manifestante baleado em protesto anti-Trump morre em Utah

Terremoto de 6,1 graus deixa um morto no Peru

Colômbia: polícia captura suspeita de envolvimento no atentado contra Miguel Uribe